Episódio VIII: Sobre amizade.

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10 de outubro

Naruto não gostava de muitas coisas em particular. Sua vida não era regida por um sonho, o que ele queria estava mais para uma meta a ser atingida, uma vez que sonhos podem se mostrar bastantes dolorosos.

Aos 5 anos ele quis ser astronauta. Viver as aventuras infinitas em um espaço infinito. É, ser astronauta combinava com ele naquela época.

Aos 7 decidiu que pintura era a paixão de sua vida e que ele deveria ser um artista consagrado, mesmo que não soubesse o significado de consagrado com aquela idade.

Aos 9 anos o mundo parecia cheio de muitas coisas não contadas e ele quis ser jornalista. Viajar pelo mundo e escrever sobre tudo o que acontecia nele, em especial, sobre as áreas de conflito, Naruto sempre teve uma queda por zonas de guerra.

Aos 11 a paixão de sua mãe por medicina o pegou. Seria médico. Trabalharia no hospital de sua família e salvaria vidas! Poderia até ser pediatra, sempre amou crianças, ou quem sabe geriatra, Naruto as vezes acreditava que as almas mais velhas lhe entendiam melhor.

Mas foi aos 14, quando sua vida entrou em um estado de caos, que o loiro descobriu o que seu corpo sempre precisou e o que viria a ser a sua futura profissão.

Escritor.

Ele queria transbordar todo o inexplicável vazio que sentia em palavras. Queria sangrar pelas páginas que viriam a formar algum livro seu. Naruto nunca se considerou poeta, ele sempre acreditou que sua escrita estava mais para alguém que sempre sofre de alguma dor. Como os artistas que mais lhe agradavam.

Às vezes, quando não conseguia escrever, seja por não saber quais palavras utilizar ou porque estava em um local no qual não o poderia fazer, ele gostava de imaginar como seria a vida de pessoas que ele acabara de conhecer.

Teve aquela senhora na fila do fast-food. Deveria ter lá seus 60 anos. Estava com o neto, pelo que ele pôde perceber. A história criada veio fácil em sua mente. Ela se chamaria Aurora, porque o sorriso dela lhe lembrou a claridade que dá início ao nascer do sol. Ela não se casou, e mesmo que a sociedade lhe dissesse que ela deveria ter feito, Aurora não poderia se importar menos. Teve uma vida bem-sucedida trabalhando como engenheira, sim, ela tinha esse ar de quem amava exatas. Aos 30 anos, quando estava voltando do trabalho, encontrou essa criança dormindo na rua. Foi amor a primeira vista. Seu coração pulsou de uma maneira tão linda, tão apaixonada, por aqueles olhos castanhos, que a encaravam, como se temesse que ela pudesse lhe fazer mal. Aquilo lhe doeu no corpo, imaginava o que a criança já sofreu na vida. Foi natural querer cuidar dela. Depois de convencê-la de que poderia confiar em si, a muito custo, a levou para casa. Deu banho, comida, e, mesmo sem saber como, carinho e amor. Talvez um ano tenha se passado e ela enfim conseguira registar a menina como sua filha. Depois de todas as exigências do governo, de explicar o porquê de ela ter optado ser mãe solteira, de visitar sempre que permitiam a criança no orfanato, por fim Bella pôde voltar para o lar que já era seu muito antes de a sociedade aceitar. A paixão pela Disney que herdara de seu pai também se instalou no coração de sua filha.

O tempo passou, e um dia, Aurora fora chamada na direção da escola. A preocupação lhe abateu, claro, não poderia ser diferente, mas no momento em que chegou na escola, o sentimento fora substituído por indignação. O professor de artes não quis deixar que sua Bella fosse Romeu no espetáculo de primavera. Eles não entendiam, que isso não importava, ou talvez entendessem, mas estavam presos demais em suas próprias realidades cômodas para querer ver que alguém se identificar com os dois gêneros não é motivo de alarde ao ponto de chamar os responsáveis. Aurora foi à luta. Sua Bella não era uma aberração, não, ela era a pessoa mais doce e amável que já conhecera, e não merecia ser tratada com desrespeito. Conseguir um advogado fora difícil, mas conseguiu, mesmo que os outros dissessem que foi uma gota em um oceano, fazer com que o assunto fosse colocado em pauta para que eles entendessem que ninguém é igual nesse mundo.

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