*Passado uma semana*
Estava agora no meu trabalho, fazendo um pequeno relatório de cada um dos meus pacientes.
Batem à porta.
-Entre.- digo, arrumando os meus papeis.
A senhora que trabalha como minha assistente entra na minha sala de sessão.
-Alyssa está aqui, para a consulta que tem agora.
Assento, preparando tudo o que precisava para a sessão com Alyssa.
-Mande-a entrar.- ordenei. Minutos depois Alyssa entra.
-Como estás?- pergunto e Alyssa encolhe os ombros, sentando-se no sofá à minha frente.
-Do que queres falar hoje?- era assim que eu começava as minhas sessões com esta jovem. Perguntava-lhe sempre a mesma pergunta e ela começava a me contar uma história diferente do seu passado.
Alyssa suspira e começa:
-E lá estava eu, deitada na relva a saborear o meu silêncio naquele parque deserto.- Alyssa falava monotonamente, como se o seu corpo estivesse presente mas a sua alma não. Tinha um olhar distante e fixava-o atrás do meu ombro na parede pintada de creme atrás de mim.- Até que aquele Caleb chega ao parque destruindo completamente a minha felicidade no momento. Odiava-o de morte.- disse e fez uma pequena pausa para se rir sem humor.- Ele gozava comigo na escola juntamente com os seus amigos miseráveis, aquela era a oportunidade perfeita e eu não a podia desperdiçar. Estavamos os dois sozinhos e ele ainda não tinha notado a minha presença.Na altura eu tinha 6 anos e ele também. Então eu aproveitei e fi-lo. Fiz o que queria há já muito tempo. Depois fiquei a admirá-lo, a ele e ao líquido vermelho que fazia desenhos no chão.
Ás vezes eu tinha dificuldade em apanhar Alyssa no seu raciocínio.Ela contava histórias às vezes sem sentido nenhum e depois parava de contar e começava uma história completamente diferente.
Alyssa soltou um sorriso distante e amargo e ficou depois calada o resto da sessão, provavelmente revivendo o momento.
Não a interrompi. Ela estava a reflitir e é para isso que as sessão servem.
Ela suspira depois de alguns minutos talvez uns vinte. Aproveitei para falar novamente.
-Estás arrependida pelo que lhe fizeste?- pergunto com uma voz séria como sempre. Somos obrigados a mostrar indiferença.
Alyssa pensa perante alguns segundos.
-Acho que sim.- ela diz num sussuro.
Olho para o relógio e confiro que a sessão já acabara.
-É tudo por hoje, podes ir.
Alyssa assente e vai-se embora.
Acho que uma sessão de 45 minutos com a Alyssa não é suficiente, provavelmente irei prolongar a consulta um pouco mais.
***
Chego a casa de rastos. Tivera imensas consultas hoje.
Pago antes de sair do táxi e quando estava a ir para casa escorrego e caio no chão.
Ouço passos a correrem na minha direcção e um par de braços a me ajudarem a levantar.
Sinto uma corrente elétrica a percorrer a minha espinha mal sinto o toque daqueles braços desconhecidos.
Olho para cima para ver quem me estava a ajudar.
Era Tristan.
Ficamos algum tempo em silêncio ainda nos olhando nos olhos, "segundos que pareciam séculos."- pensei.
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I Feel Again
Romance"Psiquiatras foram feitos para ajudar os fracos humanos que não conseguem suportar a sua dor sozinhos. Psiquiatras são mais que considerados Deuses do que simples, frágeis e pecadores humanos. Psiquiatras não riem, não choram, não mostram afecto, nã...