Capítulo I

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Juliana Narrando

O táxi que havia trago-me até aqui partiu. E cá estava eu, no pé do morro da Rocinha. De longe, pode ver uma morena linda. Ah, Mari. Meu coração aqueceu-se. Eu estava com tantas saudades dela. 
Mari: Ju – Ela gritou enquanto jogava-se em meus braços. 
Abraçamos nos como se não nos víssemos a anos. 
Mari: Ei... Você está linda. – Ela disse.
Ju: E você uma mulher. – Sorri pra ela.
Mari: Vamos subindo. No caminho você me conta tudo, tá bom? 
Começamos a subir as escadas que davam no alto do morro. Crianças jogando bola, senhoras sentadas no portão de suas casas conversando... Até que não era tão ruim. 
Porém, meu bom conceito por aquele lugar caiu assim que entramos na rua da casa da Mari. Vários homens fortemente armados. Não só homens... Mulheres, crianças. O que diabos era aquilo, afinal?
Mari: Relaxa Ju. – Tranquilizou-me. – Ninguém vai te pegar aqui não.
Ju: Qual a necessidade de andar com um fuzil de um lado pra outro?
Mari: Proteger a gente.
Ju: Ou adquirir respeito ameaçando as pessoas? – Desafiei. 
Mari: Fala baixo... Não pode ficar dizendo essas coisas. E outra... aqui só está cheio de pessoas com armas porque é a boca. O dono do morro está ali. 
Ju: Boca? Tipo, aqueles lugares cheios de drogados?
Mari: Isso ai. 
Ela disse, abrindo a porta da casa. Não era tão perto assim da boca, então, não seriamos incomodadas por viciados no meio de noite. O lugar era bonito e não se parecia nada com as outras "casas" que vimos enquanto estávamos subindo. Bem, era bem pequeno mas eu me adaptaria. 
Mari: Bem, fique com o quarto da minha irmã. Ela nunca vem aqui então... 
Ela abriu a porta de um quarto branco e lilás. É, não era de minha preferência, mas era legal. Sorri. 

Ju: Obrigada. De verdade. 
Mari: Os amigos são pra isso, não é?!
Ela sentou-se na cama juntamente comigo. 
Mari: Me conta... Como foi na sua casa?
Ju: Eu briguei com meu pai de novo. Então, eu falei que sairia de casa e ele disse que não se importava. 
Mari: Mas e sua mãe? 
Ju: Você a conhece Mari. Você acha mesmo que ele fez algo para impedir? Nem um abraço ou um beijo de despedida ela se importou em dar-me. 
Ela suspirou longamente. 
Mari: Sinto muito. – Ela abraçou-me novamente.
Ju: Eu também. Ao menos ainda tenho meu irmão que não vai me deixar de mãos vazias. 
Mari: E isso significa que?
Ju: Que eu não estou completamente sem dinheiro.
Mari: Maravilha. A propósito. Hoje vou te apresentar pra favela. 
Ju: Oi? Não quero se apresentada pra ninguém. É sério.
Mari: Hoje tem baile, amor. Todo mundo vai pros bailes. Você tem que ir. 
Ju: Baile? – A palavra soou-me bem. – É exatamente do que eu preciso.
Mari: É exatamente o que todo mundo precisa. – Ela disse animada. 
Ju: A que horas começa isso?
Mari: Daqui a 20 minutos. 
Olhei rapidamente para o relógio. 20:40.
Ju: Legal, me ajuda a escolher uma roupa? – Disse enquanto esvaziava minhas malas. 

Do Morro Ao AsfaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora