Capítulo XIX

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Juliana Narrando

Pus meu prato sob a pia e quando estava pronta para lavar a louça, ouvi o barulho da campainha. Arrastei-me até a porta.
Ju: Esqueceu a chave de novo, Mari? - Reclamei enquanto abria a porta.
Para minha surpresa, quem estava ali, parada diante de mim, não era Marina e sim Margot Arezzo, minha mãe. Paralisei-me em meu lugar.
Margot: Podemos conversar?
Ju: Não... O quer comigo? - Disse, visivelmente irritada.
Margot: Posso entrar? - Ela pediu.
Ju: Não, não pode. É mais fácil para você ir embora daí mesmo onde está. Tenho certeza que não vai demorar.
Margot: Eu sei que está chateada, mas dê-me a chance de falar contigo.
Ju: Você não tem nada pra falar comigo, está bem?
Margot: Filha...
Ju: Juliana pra você, ok? Agora sai. - Apontei para a rua.
Margot: Não sairei daqui sem falar contigo.
Abri a porta e dei passagem para ela. Margot estava como sempre, elegante em suas caras roupas de alguma grife cara e seus cabelos loiros platinados presos em um coque perfeito.
Ju: Vá direto ao ponto.
Margot: Quero que volte pra casa.
Ju: Nem morta. - Elevei o tom de minha voz.
Margot: Prefere ficar aqui? Nesse lugar?
Ju: Ué... Marina e mais milhares de pessoas vivem aqui desde que nasceram. Porque eu não posso?
Margot: É perigoso, querida.
Ju: Perigoso é eu viver dentro daquela casa contigo e com aquele idiota que você chama de marido.
Margot: Olha como fala. - Ela disse, levantando-se. - Ainda somos seus pais.
Ju: É mesmo? Obrigada por me lembrar disso. - Disse sarcasticamente deixando transparecer toda a minha dor.
Margot: Escute, terá um evento na quinta da boa vista esta sexta-feira onde eu e seu pai estaremos para prestigiar nossos amigos, porque não vai? Assim poderemos conversar melhor.
Ju: Vou pensar. - Disse indo em direção a porta e abrindo-a.
Ela tentou abraçar-me mas eu recusei prontamente, logo após, ela saiu e entrou em seu táxi.
Em cima da mês, ela havia deixado um bilhete:
Sexta feira, a tarde. Estou te esperando lá, não se esqueça.
Mamãe.

Puxei-o com a intenção de rasgá-lo, mas não consegui. Antes que o papel se partisse em dois, eu o atirei contra qualquer canto da sala. Como ela podia ser assim? Ela faz o que faz e depois age como se nunca tivesse acontecido, como se me amasse... Sexta-feira. Provavelmente isso azedaria meu humor para o baile do dia seguinte, mas não tinha jeito. Ela me colocara contra a parede.
Liguei a televisão apenas para deparar-me com a foto de Louis. O jovem foi encontrado morto em um matagal próximo favela do Vidigal comandada pelo chefe de entorpecentes do local, Paraiba. - Dizia o apresentador do noticiário.
Danadinho! Eu tinha que admitir que ele era simplesmente brilhante. Nada melhor que varrer a sujeira para abaixo do tapete, principalmente se esse era o tapete do seu inimigo. Estive pensando em ir ao enterro de Lou. Mas sinceramente, não sei se seria capaz de encarar sua mãe, principalmente por que ele morreu por minha causa. Respirei profundamente, precisava arejar minha cabeça. Meu mundo estava de cabeça para baixo e eu só queria saber como pô-lo de pé novamente.

Sai de casa e caminhei apressadamente até uma pracinha ali perto, sentando-se na mesa e curtindo a vista da bela praia de São Conrado.
TC: Oi. - Disse ele meu ouvido, pegando-me de surpresa.
Ju: Oi.
TC: Está tudo bem?
Ju: Não, na verdade.
TC: Aquela era sua mãe?
Agitei a cabeça positivamente.

Do Morro Ao AsfaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora