Capítulo III

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Saímos da sala e enfrentamos a multidão de pessoas que chegava perto da casa da Mari. 
TC: Então... Virá morar aqui mesmo?
Ju: É. Não tenho previsão de sair daqui nem tão cedo. 
TC: Porque veio pra cá?
Ju: Porque a pergunta?
TC: Você está usando uma roupa de marca importada e digamos que a maioria das pessoas que vivem aqui não tem condições de comprar um desse. Então, é bem provável que você tenha dinheiro. Afinal, porque aqui e não em uma casa de praia? 
Ju: Meus pais tem dinheiro, não eu. E vamos dizer que eu tenho um relacionamento complicado com eles. 
TC: Você não parece ser uma pessoa difícil de lidar. 
Ri de sua afirmação. Tão tolo... 
Ju: Todos pensam isso.
TC: Bem, você aparenta ser até dizer a primeira palavra.
Eu já estava ficando irritada com aquela conversa, eu queria sair dali tão depressa quanto entrei. 
Ju: É e agora eu preciso voltar a achar a Mari. 
TC: Relaxa, boneca. Tá comigo tá com Deus. – Ele disse, puxando pelo braço e pondo-se rosto a rosto comigo. 
Ju: Não me chama de boneca, ok? E me solta. – Sacudi meu braço, mas ele pareceu ignorar meus protestos. 
TC: Qual a sua, princesa? É bipolar? 
Ju: Bipolar é sua mãe. Você não me conhece, ok? Não sou uma de suas vadias que deixam você tratá-las como objeto sexual, tranquilo?
Finquei minhas unhas em seu braço e ele finalmente soltou-me. Acho que ele estava bravo agora. Num movimento estratégico, ele pôs-se na minha frente braços cruzados e eu não hesitei em virar o resto da minha bebida nele. Thiago parecia chocado com minha atitude. Pus meu dedo perto de seu nariz, autoritariamente. 
Ju: Fique longe de mim. 
Me virei e afastei-me dele, andando apressadamente em direção a casa da Mari. 
TC: Eu não vou parar até ter você rastejando aos meus pés. Vai ainda vai se apaixonar por mim. Grave minhas palavras. Ninguém me desrespeita dentro da minha favela e sai ileso. 
Ergui-lhe o dedo do meio e abri o portão da casa. Quem ele pensava que era para me ameaçar daquela maneira? Bufei ao jogar-me em minha cama. Eu estava tão cansada... Hoje o dia não fora nada bom. Meu coração estava quebrado. Bem, ao menos o Felipe e a Mari se importavam comigo. Retirei o vestido e joguei-o em um canto qualquer. Cobri-me com o edredom que estava posto em cima da cama. Ele era de veludo, lembrava-me muito o da minha antiga cama e isso me dava náuseas. Meu pensamento não vagou muito longe. Em poucos minutos eu estava completamente adormecida. 

Do Morro Ao AsfaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora