9

0 0 0
                                    

9 de junho de 2018

Capítulo 9

QUANDO EU ACORDO de manhã, a primeira coisa em que penso é que não vou para a UVA, que nem sei para onde vou. Durante toda a vida, não precisei me preocupar com isso. Eu sempre soube onde devia estar. Minha casa.

Deitada na cama, começo uma lista mental de todas as coisas que vou perder por não ir a uma faculdade perto de casa. Os acontecimentos. A primeira menstruação de Kitty. Meu pai é obstetra, então não é como se ele não soubesse lidar com isso, mas estou esperando por esse momento, quero fazer um discurso sobre o que é ser mulher que Kitty vai odiar. Pode demorar mais um ou dois anos. Mas eu fiquei menstruada aos doze, e Margot aos onze, então quem sabe? Quando aconteceu comigo, Margot me falou sobre absorventes e que tipo usar em que dias, e para dormir de bruços quando as cólicas estão muito fortes. Ela me fez sentir como se estivesse entrando para um clube secreto, só de mulheres. Minha irmã mais velha conseguiu amenizar a tristeza que senti por estar crescendo.

Kitty provavelmente não vai ter nenhuma das duas irmãs mais velhas aqui, mas tem a sra. Rothschild, que mora do outro lado da rua. Ela está tão apegada à sra. Rothschild que, para falar a verdade, provavelmente vai preferir uma conversa sobre menstruação com ela. Mesmo se no futuro o papai e a sra. Rothschild terminarem, sei que ela nunca dará as costas para Kitty. Elas ficaram muito próximas.

Também vou perder o aniversário de Kitty. Eu nunca estive longe no aniversário dela. Vou ter que lembrar papai para que ele continue a nossa tradição da faixa de feliz aniversário.

Pela primeira vez na vida, todas as garotas Song vão estar morando separadas. Nós três provavelmente nunca mais vamos morar na mesma casa. Vamos voltar nos feriados e recessos, mas não vai ser igual. Não vai ser como era. Mas acho que as coisas já estão diferentes desde que Margot foi para a faculdade. A questão é que você se acostuma. Antes mesmo de perceber, você se habitua às novas condições, e vai ser assim com Kitty também.

No café da manhã, fico olhando na direção dela, memorizando as coisinhas pequenas. As pernas finas, os joelhos ossudos, o jeito como assiste à tevê com um sorrisinho no rosto. Ela só vai ser nova assim por mais um tempinho. Antes de eu ir embora, devia fazer mais coisas especiais com ela, só nós duas.

No intervalo de seu programa, ela se vira para mim.

— Por que você está me encarando?

— Por nada. É só que vou sentir saudade de você.

Kitty bebe o restinho de leite do cereal.

— Posso ficar com seu quarto?

— O quê? Não!

— Mas você não vai estar morando aqui. Por que seu quarto tem que ficar lá, sendo desperdiçado?

— Por que você quer o meu quarto e não o de Margot? O dela é maior.

Ela responde, pragmática:

— O seu é mais perto do banheiro e tem iluminação melhor.

Tenho medo de mudanças, mas Kitty mergulha com tudo. Vai de cabeça. É assim que ela lida com as coisas.

Só pra mim.Onde histórias criam vida. Descubra agora