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9 de junho de 2018

Capítulo 21

ESTÁ TARDE. FICO na cama dando uma olhada no meu kit de boas-vindas da William and Mary.

Acontece que a William and Mary não permite que calouros tenham carros no campus, e estou prestes a ligar para Peter para contar isso quando recebo uma mensagem de texto de John Ambrose McClaren. Fico surpresa ao ver o nome dele no celular, faz tanto tempo que não nos falamos. Então, leio a mensagem de texto.

Stormy morreu dormindo noite passada. O enterro será em Rhode Island na quarta. Achei que você podia querer saber.

Continuo sentada por um momento, atordoada. Como pode ser? Da última vez que a vi, ela estava bem. Estava ótima. Era a Stormy. Ela não pode ter morrido. Não a minha Stormy. Stormy, que era sempre o centro das atenções, que me ensinou a passar batom vermelho para que, nas suas palavras, “durasse até depois de uma noite de beijos e muito champanhe”.

Começo a chorar e não consigo parar. O ar não chega aos meus pulmões. Mal enxergo, de tantas lágrimas. Elas ficam caindo no celular e enxugo o rosto com as costas da mão. O que eu digo para John? Ela era avó dele, e ele era seu neto preferido. Eles eram muito próximos.

Primeiro, digito Sinto muito. Tem alguma coisa que eu possa fazer? Mas apago, porque o que eu poderia fazer para ajudar?

Sinto muito. Ela era a pessoa mais cheia de vida que eu já conheci. Vou sentir muita falta dela.

Obrigado. Eu sei que ela também amava você.

A mensagem dele traz novas lágrimas aos meus olhos.

Stormy sempre dizia que ainda sentia como se tivesse vinte e poucos anos. Que às vezes sonhava que era uma garota de novo, que via os ex-maridos e eles estavam velhos, mas ela ainda era Stormy. Ela dizia que, quando acordava de manhã, ficava surpresa de estar naquele corpo velho com ossos velhos. “Mas ainda tenho pernas lindas”, dizia ela. E tinha mesmo.

É quase um alívio o enterro ser em Rhode Island, muito longe para eu ir. Não vou a um enterro desde que minha mãe morreu. Eu tinha nove anos, Margot, onze, e Kitty, apenas dois. A lembrança mais nítida que tenho daquele dia é de estar sentada ao lado do meu pai, Kitty nos braços dele, e sentir o corpo dele tremendo ao meu lado enquanto ele chorava em silêncio. As bochechas de Kitty estavam molhadas das lágrimas dele. Ela não entendeu nada, só que ele estava triste. Ficava dizendo “Não chora, papai”, e ele tentava sorrir para ela, mas o sorriso parecia se derreter. Eu nunca tinha me sentido daquele jeito, como se mais nada fosse seguro e não pudesse voltar a ser.

Agora, estou chorando de novo, por Stormy, pela minha mãe, por tudo.

Ela queria que eu transcrevesse suas memórias. Queria que o livro se chamasseStormy Weather – ou Tempo Tempestuoso. Nós nunca chegamos a fazer isso. Como as pessoas vão saber a história dela agora?

Peter liga, mas estou triste demais para conversar, então deixo cair na caixa postal. Acho que devia ligar para John, mas não me sinto no direito. Stormy era avó dele, e eu era apenas uma voluntária no lar para idosos onde ela morava. A pessoa com quem quero falar é minha irmã, porque ela também conhecia Stormy e porque ela sempre me faz sentir melhor, mas é madrugada na Escócia.

* * *

Ligo para Margot no dia seguinte, assim que acordo. Choro de novo quando dou a notícia para ela, e ela chora comigo. É Margot quem tem a ideia de fazer uma cerimônia em homenagem a ela em Belleview.

— Você poderia fazer um pequeno discurso, servir cookies, e as pessoas poderiam contar suas histórias com ela. Tenho certeza de que os amigos dela gostariam disso, já que não vão poder ir ao enterro.

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