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9 de junho de 2018

Capítulo 32

PETER VAI À minha casa depois de jantar com a mãe e Owen. Quando toca a campainha, eu corro até a porta, e a primeira coisa que faço é perguntar se ele falou com o pai, mas ele ignora minha pergunta, a imagem da indiferença.

— Está tudo bem — diz ele, tirando os sapatos. — Eu não queria mesmo que ele fosse.

Isso dói, porque parece que talvez ele esteja me culpando, e talvez até devesse. Afinal, fui eu que fiquei insistindo para ele convidar o pai. Eu devia ter ouvido quando ele disse não.

Peter e eu subimos para meu quarto, e ouço meu pai gritar de brincadeira “Deixe a porta aberta!”, como sempre faz, e Peter faz uma careta.

Eu me sento na cama e ele se senta longe de mim, à mesa. Vou até Peter e coloco a mão no seu ombro.

— Sinto muito. É minha culpa. Eu não devia ter insistido para você convidá-lo. Se estiver com raiva de mim, não o culpo.

— Por que eu estaria com raiva de você? Não é culpa sua ele ser um cretino. — Como eu não digo nada, Peter fica mais carinhoso. — Olha, é sério, não estou triste. Não estou sentindo nada. Você vai conhecer meu pai em outra hora, tá?

Eu hesito, mas acabo dizendo:

— Na verdade, eu já conheci.

Ele me encara sem acreditar.

— Quando?

Engulo em seco.

— Eu o encontrei sem querer em uma das suas partidas de lacrosse. Ele pediu que eu não contasse nada, não queria que você soubesse que ele estava lá. Só queria ver você jogar. Disse que sentia sua falta. — O músculo do maxilar de Peter salta. — Eu devia ter contado. Desculpa.

— Não peça desculpa. É como eu disse: estou cagando para o que ele faz. — Abro a boca para responder, mas ele me interrompe: — Podemos não falar mais sobre ele, por favor?

Eu faço que sim. Está me matando ver a dor que Peter se esforça tanto para esconder, mas acho que, se continuar fazendo pressão, só vou piorar a situação. Só quero fazer com que ele se sinta melhor. E é nessa hora que me lembro do presente dele.

— Tenho uma coisa para você!

O rosto dele é tomado de alívio, a tensão nos ombros diminui.

— Ah, você comprou um presente de formatura para mim? Mas eu não comprei nada para você.

— Tudo bem, eu não esperava nada. — Eu pego o scrapbook na minha caixa de chapéu. Quando entrego a ele, sinto meu coração disparar. Uma mistura de empolgação e nervosismo. Isso vai alegrá-lo, sei que vai. — Anda logo, abre!

Lentamente, ele abre o scrapbook. Na primeira página tem uma foto que encontrei em uma caixa de sapatos quando Kitty e eu estávamos arrumando o sótão para abrir espaço para as caixas de Trina. É uma das poucas da época do ensino fundamental. É o primeiro dia de aula. Nós estamos esperando o ônibus. Os braços de Peter estão nos ombros de John McClaren e Trevor Pike. Genevieve e eu estamos de braços dados; ela está cochichando um segredo para mim, provavelmente sobre Peter. Estou virada para ela, sem olhar para a câmera. Uso uma jaqueta cinza de Margot e uma saia jeans, e me lembro de me sentir muito adulta com aquela roupa, como uma adolescente. Meu cabelo está comprido e cai pelas costas, bem parecido com o atual. Genevieve tentou me convencer a cortar naquela época, mas eu disse não. Nós todos parecemos tão novos. John com as bochechas rosadas, Trevor com as bochechas fofas, Peter com as pernas finas.

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