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9 de junho de 2018

Capítulo 30

DEPOIS QUE PETER me deixa em casa, só sobra tempo de correr até o mercado para comprar batata frita e molho, sorvete, pão chalá, queijo brie e refrigerante de laranja (sabe como é, o essencial), depois volto para casa, limpo o banheiro de cima e troco os lençóis da cama de Margot.

Papai a pega no aeroporto quando está voltando do trabalho. É a primeira vez que ela nos visita desde que Trina se mudou. Quando entramos com as malas dela, eu a vejo observando a sala; vejo seus olhos se demorarem na lareira, onde agora tem um quadro que Trina trouxe da casa dela, uma pintura abstrata de um litoral. A expressão de Margot não muda, mas sei que ela repara. Como poderia não reparar? Eu levei o retrato de casamento de mamãe e papai para o meu quarto no dia anterior à mudança de Trina. Margot está olhando a sala toda agora, reparando em tudo que está diferente. As almofadas bordadas que Trina trouxe, uma foto dela e papai no dia em que ele a pediu em casamento em um porta-retratos na mesinha perto do sofá, a poltrona que foi substituída pela de Trina. Todos os berloques de Trina, que são muitos. Agora que estou vendo tudo pelos olhos de Margot, a sala está um tanto lotada.

Margot tira os sapatos, abre a porta do armário de sapatos e vê como está cheio. Trina também tem muitos sapatos.

— Nossa, o armário está cheio — diz ela, empurrando os tênis de ciclismo de Trina para o lado para abrir espaço para suas botas.

Depois que deixamos as malas dela no quarto e Margot coloca roupas mais confortáveis, descemos para fazer um lanche enquanto papai prepara o jantar. Estou sentada no sofá comendo batata frita quando Margot se levanta de repente e declara que vai tirar todos os sapatos velhos dela do armário.

— Agora? — digo, a boca cheia de batatinhas.

— Por que não? — Quando Margot bota na cabeça que vai fazer uma coisa, ela faz na mesma hora.

Ela tira tudo do armário de sapatos e se senta no chão de pernas cruzadas, olhando cada pilha, decidindo o que vai guardar e o que vai doar. Ela levanta um par de botas pretas.

— Guardar ou doar?

— Guarde ou dê para mim — digo, pegando molho com uma batata. — Ficam lindas com meia-calça.

Ela as coloca na pilha de guardar.

— O cachorro de Trina solta muito pelo — reclama Margot, tirando pelo de cachorro da calça legging. — Como vocês usam roupas pretas?

— Tem um rolinho de tirar pelos na caixa de sapato. E eu não uso muito preto. — Eu devia usar roupas pretas com mais frequência. Todo blog de moda enfatiza a importância de um tubinho preto. Eu me pergunto se vou ter muitas ocasiões para usar um vestido preto na faculdade. — Com que frequência você precisa se arrumar em Saint Andrews?

— Não muita. As pessoas usam calça jeans e botas quando saem. Saint Andrews não é um lugar muito chique.

— Você não se arruma nem para uma noite de queijos e vinhos na casa do seu professor?

— Nós nos arrumamos para jantares com professores, mas eu nunca fui convidada para a casa de um. Mas talvez façam isso na UNC.

— Talvez!

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