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9 de junho de 2018

Capítulo 41

NA NOITE ANTERIOR à minha partida para a faculdade, está prevista uma chuva de meteoros Perseidas. Estão dizendo que vai ser boa. Peter e eu vamos ao lago ver. Kitty não fala, mas também quer ir. Está doida para ir. O corpo todo dela está rígido de vontade e de não poder pedir. Em qualquer outra ocasião, eu diria sim.

Quando me despeço, os lábios dela tremem de decepção por um segundo, mas ela esconde bem. Como deve ser difícil ser a caçula às vezes, a que fica para trás.

No carro, me sinto mal por ser tão possessiva em relação ao meu tempo com Peter. Mas é que sobrou tão pouco agora… Sou uma irmã mais velha péssima. Margot a teria trazido.

— Em que você está pensando? — pergunta Peter.

— Ah, nada — digo.

Tenho vergonha de dizer em voz alta que eu devia ter convidado Kitty. Quando eu voltar para casa no recesso de outono, vamos fazer alguma coisa, nós três. Peter e eu vamos levá-la a um filme à meia-noite no drive-in, e ela vai de pijama, e vou preparar um cobertor no banco de trás para quando ela adormecer. Mas esta noite vamos ser só Peter e eu, só desta vez. Não adianta ficar remoendo a culpa e estragar a noite se o ato egoísta já está feito. E se eu quiser ser sincera comigo mesma, eu faria a mesma coisa de novo. Esse é o tamanho da minha ganância por cada segundo que ainda tenho com Peter. Quero os olhos dele só em mim. Quero falar só com ele, que sejamos só ele e eu nesse tempinho que resta. Um dia, Kitty vai entender. Um dia, vai amar um garoto e vai querer que ele seja só dela, sem dividir as atenções com mais ninguém.

— A gente devia ter deixado Kitty vir — digo de repente.

— Eu sei. Também estou me sentindo mal. Você acha que ela está com raiva?

— Triste, provavelmente.

Mas nenhum de nós sugere dar meia-volta e voltar para buscá-la. Nós ficamos em silêncio, mas de repente começamos a rir, envergonhados e também aliviados.

— Da próxima vez, nós vamos trazer Kitty — diz Peter com confiança.

— Da próxima vez — repito. Eu estico a mão e seguro a dele, entrelaço os dedos nos dele, e ele olha para mim, e fico reconfortada de saber que esta noite Peter sente o mesmo e que não há nenhuma distância entre nós.

Nós abrimos um cobertor no chão e nos deitamos um do lado do outro. A lua parece uma geleira na noite azul-marinho. Até o momento, não vi nada fora do comum. Parece um céu normal.

— Acho que a gente devia ter ido para a montanha — comenta Peter, virando o rosto para olhar para mim.

— Não, aqui está perfeito — digo. — Eu li que observar as estrelas é um jogo de espera em qualquer lugar.

— Nós temos a noite toda — diz ele, me puxando para mais perto.

Às vezes, eu queria que a gente tivesse se conhecido com vinte e sete anos. Vinte e sete parece uma boa idade para conhecer a pessoa com quem você vai passar o resto da vida. Aos vinte e sete, você ainda é jovem, mas com sorte está a caminho de ser quem você quer ser.

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⏰ Última atualização: Sep 02, 2018 ⏰

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