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9 de junho de 2018

Capítulo 28

FALTANDO SÓ MAIS três dias de aula, recebemos os anuários. Há várias páginas em branco no final para as assinaturas, mas todo mundo sabe que o lugar de honra é a contracapa. Claro que guardei a minha para Peter. Nunca quero esquecer como esse ano foi especial. Minha citação do anuário é: “Espalhei meus sonhos aos seus pés /Caminhe devagar, pois você estará pisando neles.” Tive muita dificuldade para escolher entre essa e “Sem você, as emoções de hoje seriam apenas uma pele morta das emoções do passado.”

“Eu sei que é de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, mas quem quer ler sobre ‘pele morta’?” Peter tinha argumentado. Sinceramente, ele tinha razão. E me deixou escrever a dele dizendo apenas: “Me surpreenda.”

Quando entramos pela porta do refeitório, alguém a segura para nós, e Peter diz:

— Valeu.

Peter passou a dizer valeu em vez de obrigado, e sei que ele pegou isso de Ravi. Sempre me faz sorrir.

No último mês, mais ou menos, o refeitório ficou meio vazio no almoço. A maioria dos formandos estava saindo do campus para comer, mas Peter gosta da comida que a mãe faz para ele levar e eu gosto das batatas fritas da escola. Mas, como o conselho estudantil está distribuindo os anuários hoje, o lugar está lotado. Pego o meu e corro com ele para a nossa mesa. Abro na página de Peter primeiro. Ali está ele, sorrindo de smoking. E ali está a citação dele: “De nada.” — Peter Kavinsky.

Peter franze a testa quando vê.

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer: aqui estou eu, tão lindo, um colírio para os seus olhos. — Abro os braços com benevolência, como se fosse o papa. — De nada.

Darrell cai na gargalhada, assim como Gabe, que também abre os braços.

— De nada — ficam dizendo para o outro.

Peter balança a cabeça para todos nós.

— Vocês são malucos.

Eu me inclino e dou um beijo na boca dele.

— E você ama isso! — Apoio meu anuário na frente dele. — Escreva alguma coisa memorável — falo, me inclinando por cima do ombro dele. — Uma coisa romântica.

— Seu cabelo está fazendo cócegas no meu pescoço. Não consigo me concentrar.

Eu me empertigo e me balanço para a frente e para trás, de braços cruzados.

— Estou esperando.

— Como posso pensar em uma coisa boa com você olhando por cima do meu ombro? Vou fazer isso depois.

Eu balanço a cabeça, resoluta.

— Não, porque senão você não vai fazer nunca.

Fico enchendo o saco dele, até que ele diz:

— Eu só não sei o que escrever.

Isso me faz franzir a testa.

— Escreva uma lembrança, uma esperança ou… qualquer coisa. — Estou decepcionada e tentando não demonstrar isso, mas seria tão difícil ele pensar em alguma coisa?

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