II. Mãos Onde Eu Possa Ver!

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[P.O.V. Camila]

1 hora antes...

*Mensagem*

Ei, Cami! Lembra daquela "noite das garotas" que nós fizemos aqui em casa aquele dia?

Oooi! Siim, o que tem, Lisa?

Eu estava pensando em fazer algo parecido hoje.
Você pode vir aqui às nove?

Claro, mas o que vamos fazer exatamente?

Você vai ver.

Admito que fiquei com um pouco de medo da última mensagem da Lisa. Mas, mesmo fazendo pouco tempo que eu a conheço, ela é uma boa pessoa. Não tem porque eu não ir. Além do mais: O que poderia dar errado?

Eu e Lisa nos conhecemos em um café na cidade há algumas semanas. Eu estava um pouco sobrecarregada por conta do trabalho naquele dia, então resolvi passar em um café perto de casa só para dar uma relaxada e lá estava Lisa. Ela me ajudou bastante naquele dia, apenas conversando comigo e, desde então, acabamos criando uma certa amizade.

Ouvi meu celular tocando e quando olhei para a tela lá estava o nome de Shawn — que não aparecia em casa já fazia 2 semanas e também não me dava notícias. Imediatamente, atendi o telefone, preocupada.

Oooi Camil... — Shawn dizia em um tom animado, mas logo foi cortado pelos meus gritos.

Shawn Peter Raul Mendes, lembrou que tem casa? — disse inquieta.

— Eu só fiquei alguns dias fora, não exagera.

Alguns dias? Exagero? Ah não...

Tá, tá, tá! Você vai fazer alguma coisa agora?

Nossa, eu vou na casa da minha amiga Lisa daqui a pouco. Por quê?

Ei, ei, ei! Quem é Lisa? Eu a conheço? Como ela é? Onde ela mora? E desde quando você tem algum outro amigo além de mim? — ele fazia perguntas, uma atrás da outra, ansiando por respostas, como uma criança mimada.

Desde que você resolveu desaparecer por dias e ser um babaca, como agora — falei com a voz firme, e um tanto rude, talvez.

Esper...

Não deixei que ele terminasse a fala e apenas desliguei na cara dele — o que não adiantou muito, já que ele continuou me ligando mais umas 10 vezes, mas eu não atendi nenhuma delas.

Shawn e eu éramos amigos desde crianças e nunca nos separamos desde então. Naquela época, costumávamos pensar nos planos para o futuro, quando estivéssemos na faculdade. Um desses planos era que sairíamos da casa dos nossos pais e moraríamos juntos. Você deve estar se perguntando se somos só amigos ou mais que isso e a resposta é, definitivamente, não. Talvez essa seja uma das poucas coisas que concordamos em anos.

Desde que nos mudamos pra cá, o Shawn tem agido de modo estranho comigo e se afastou um pouco, aliás, muito, e a prova disso é esse sumiço repentino, sem nem ao menos me avisar onde estaria ou quando voltaria.

Precisava tomar um banho antes de ir até a casa da Lisa, então segui até o banheiro. Minha aparência estava péssima desde que cheguei do trabalho e eu nem sequer parei para tomar um banho e me libertar do cansaço que me consumia. Todo dia é um desafio naquela lanchonete e eu já não estou aguentando mais, mas eu preciso continuar, porque é com esse salário que eu pago a minha faculdade e vivo onde eu vivo.

O salário que eu ganho não é grande coisa, mas dividir uma casa com o Shawn já me ajuda bastante, até porque dividimos todas as despesas. Ele está desempregado já faz alguns meses, mas ainda tem algumas economias guardadas e os pais dele ajudam sempre que podem, já que têm uma condição financeira estável. Eu também costumava contar com a ajuda da minha mãe para pagar algumas despesas da minha faculdade, mas de uns tempos pra cá isso mudou. Depois que meu pai faleceu, há alguns anos, a única coisa que nos restou foi um mercado, que era propriedade dele, e isso foi o que sustentou nossa família por muito tempo, até a tragédia acontecer e separar cada uma em seu local de solidão. Tudo o que eu quero agora é terminar a faculdade, arrumar um emprego melhor e ter minha família de volta. Esse é o motivo pelo qual eu vivo e aguento tantas coisas, inclusive a saudade imensa que tenho de minha irmã Sofia e de mamá.

Assim que terminei o banho, coloquei uma regata branca, uma calça jeans rasgada de cor clara com as barras dobradas e um tênis qualquer. Apenas tranquei a porta principal da casa, deixei a chave embaixo de um vaso na varanda e segui até a casa de Lisa. A casa dela ficava há apenas alguns quarteirões de distância da minha, não era muito longe.

Cheguei na porta da casa e me deparei com a mesma entreaberta. Chamei o nome de Lisa, mas não houve resposta. Entrei na casa mesmo assim, pois não sabia se havia acontecido algo ruim e se ela precisava da minha ajuda. Ainda no hall de entrada, dei de cara com a escada que levava para o andar superior e, assim que olhei para o topo da mesma, vi uma luz fraca acesa bem no fim do corredor

— Alguém? — gritei, apreensiva, porém não houve resposta,  novamente.

Pisei no primeiro degrau da escada, a fim de subi-la e descobrir, no fim das contas, o que raios estava havendo. Mas fiquei estática por alguns segundos ao ouvir uma batida forte, seguida de um suspiro longo, vindo do topo. Lentamente, com passos curtos, fui me afastando da escada e minhas costas foram de encontro com uma mesa de centro na sala, que ficava ao lado direito da porta principal, e sobre ela havia uma faca. Eu não sabia muito bem o que estava fazendo, mas o que quer que estivesse acontecendo, eu precisava de algo para me defender, então não pensei duas vezes na hora de agarrar aquela faca.

Mesmo com medo do que poderia encontrar lá em cima, subi as escadas e, ao chegar na frente do primeiro quarto a esquerda, encontrei um pouco de sangue no carpete do corredor e na maçaneta da porta, também entreaberta, o que me deixou completamente assustada. Respirei fundo, levantei a faca em posição de ataque e empurrei a porta em um rápido movimento, sujando minhas mãos com um pouco do sangue que havia nela. Lá estava o corpo, caído no chão do quarto, em meio à escuridão, mas não era de Lisa e sim de alguém muito familiar.

— Ai. Meu. Deus. — pensei em voz alta, enquanto corria até o corpo ensanguentado e com vários cortes notavelmente profundos pelo corpo todo — Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus...

Larguei a faca próxima de uma  poça de sangue e, desesperadamente, tentei averiguar a situação da vítima, que aparentemente já estava morta. Eu não conseguia imaginar como um ser humano poderia ter feito uma atrocidade dessas. Aquela imagem, que parecia até ter saído de um filme de terror, era horrível. Ela havia sido assassinada brutalmente e agora estava ali, na minha frente, sem vida. Ouvi passos apressados vindos do corredor e quando me virei em direção a porta eu não conseguia enxergar nada, a não ser uma luz muito forte.

— Mãos onde eu possa ver — ordenava uma voz masculina, vinda detrás da luz que quase me cegava — De pé! — completou.

Obedeci as ordens imediatamente e, em seguida, outro homem se revelou sob o imenso clarão com algemas nas mãos prontas para serem colocadas em mim, como se eu fosse uma verdadeira criminosa, psicopata e assassina.

Foi tudo muito rápido e eu não fazia ideia de como tudo aquilo havia acontecido.

Onde estava Lisa?

Por que eu estava ali?

Por que Lucy Vives estava morta?

SirensOnde histórias criam vida. Descubra agora