XVII. Senhor Henry

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[P.O.V. Lauren]

Após Camila ir embora da divisão com sua amiga, passei algumas horas em minha sala refletindo se deveria ou não prosseguir com isso, mas a única maneira de chegar até a Scorpion era assim, pelo caminho sujo, não tinha outra alternativa. Era isso ou passar anos nesse caso.

Chamei Verônica em minha sala, precisava muito de sua ajuda nessa tarefa e ela tinha contatos que eu nunca desejaria ter. Não me entendam mal, Vero não é corrupta, ou bandida, ela apenas teve uma infância difícil e uma adolescência também, mas mudou sua situação e hoje está aqui, fazendo o que é certo.

— Diz branquela, mandou me chamar? — ela disse encostando a porta do meu escritório e vindo em minha direção

— Sim, senta aí por favor – acenei com a cabeça indicando a cadeira em frente à mesa.

— Que cara é essa, Lauren? Até parece que alguém morreu ou algo assim — ela disse enquanto se sentava na cadeira com um semblante preocupado.

— Ninguém morreu, Vero. Pelo menos dessa vez ainda não. Preciso da sua ajuda. Na verdade preciso de um contato que você com certeza não vai ficar feliz em me dar.

— Desembucha logo, Jauregui. Não tenho o dia todo para você ficar nesse suspense — ela disse enquanto bebia um copo com água que estava em cima da minha mesa.

— Eu preciso do contato do chefe dos Navalhas.

— Você o que? — ela disse cuspindo a água que tinha acabado de colocar na boca e tossiu um pouco por ter se engasgado.

— Calma, não vai morrer engasgada, pelo amor de Deus! — falei e ri fraco, forçando um pouco de humor, mas Vero se manteve séria — Por favor, Veronica. É urgente.

— Mas nem por cima do meu cadáver, Lauren, você louca? Você só pode estar muito louca mesmo, surtada, pirada, doente, maluca, lelé da cuca. Me diz pra que você quer o contato do meu pai? Você sabe que ele foge quando ao menos sonha que eu estou por perto e você sabe o quanto eu tentei prendê-lo e agora que finalmente eu consegui o novo número dele e tenho outra chance você quer esse contato?

— Verônica, isso vai nos ajudar com o caso da Lucy, por favor. Eu não posso te explicar como e nem porque, só peço que confie em mim. Alguma vez eu já te deixei na mão? — falei quase em tom de súplica, enquanto Vero me olhava incrédula e com raiva.

— Puta que pariu, Jauregui, você é doida! Só não se mata e vê se não estraga minha chance de finalmente prender meu pai — ela disse enquanto anotava o número em um papel balançando a cabeça negativamente.

— Obrigada, eu prometo que não vou estragar, eu tenho um plano, mas você só vai poder saber mais tarde — disse com um sorriso enquanto abraçava apertado Vero.

, me larga, vou ficar brava com você até eu saber essa história na íntegra. Tchau e se cuida — ela bufou se desvencilhando dos meus braços e indo embora

Agora eu precisava checar a história da menina Allyson. Poderia mandar outra pessoa em meu lugar, mas eu precisava de ar fresco e também saber se o senhor do 206 não teria mais a acrescentar. Dirigi até o local e, ao chegar, caminhei por trás da casa de Lisa. 206, o número confere e toquei a campainha.

— Pois não, em que posso ajudar? – um senhor de estatura mediana, cabelos brancos e óculos de grau surgiu na porta. O mesmo deveria ter entre 60 e 70 anos de idade.

— Agente Jauregui, FBI — falei mostrando o distintivo — Estou aqui por conta da noite do dia 2 de outubro, em que houve um assassinato na casa em frente a sua — disse apontando para a casa em questão.

— Oh sim, minha querida, queira entrar por favor. Você gostaria de tomar um café, um chá ou uma água? — o senhor disse solícito abrindo um sorriso meio sem dentes e me mostrando o interior da casa para que eu entrasse na mesma.

— Então, o senhor se chama...? — questionei-o entrando na casa.

— Oh, que grosseria a minha. Me chamo Henry.

— Bom, Senhor Henry, falamos com todos os vizinhos sobre a noite do ocorrido e todos disseram estar dentro de suas casas com suas famílias e que não perceberam nada de estranho até a polícia aparecer. Chequei as ligações para o número de emergência e elas foram feitas do telefone fixo da sua casa, vemos então que o senhor era o único vizinho atento. O que o senhor teria para me explicar?

— Agente, as coisas já estavam estranhas nessa casa há muito tempo, pessoas estranhas indo e vindo, sempre pelas portas dos fundos e os outros vizinhos nunca perceberam. O tumulto acontecia apenas de madrugada e sempre por trás. Eu já não dormia há dias com medo.

— E o senhor nunca pensou em ligar para a polícia e notificar nada disso?

— Sim, várias vezes, mas eu não tinha certeza do que acontecia ali, Agente, e eu não podia chamar a polícia por nada. Eram apenas pessoas indo e vindo, achei estranho pois essa vizinhança é bem familiar e eu nunca tinha visto isso por aqui. Eu nunca imaginei que isso iria acabar em morte.

— O que você viu e ouviu naquela noite, Senhor Henry?

— Bom, eu estava assistindo meu filme de bang bang, eu me lembro bem da hora exata, eram oito horas quando duas pessoas chegaram por trás e entraram na casa. Um homem e uma mulher. Pude reconhecer pelas silhuetas diferentes. Eu não vi seus rostos, estavam de costas e com aqueles moletons que cobrem a cabeça. Continuei observando, mas não teve mais nenhum movimento até perto das nove horas, quando uma moça pequena e loira saiu correndo pela parte de trás da casa, ela me olhou meio assustada e seguiu o caminho correndo com pressa, foi a única que já passou por essa casa e realmente me parecia inocente e boa gente, sabe.

— Algo mais, Senhor Henry?

— Sim, depois que ela saiu, em alguns minutos, vi a menina Lisa saindo também e indo embora, como se estivesse fugindo. Bom, em seguida vi o homem e a mulher saindo e havia sangue em suas roupas, foi extremamente assustador. A mulher estava calma como se fizesse aquilo todo dia, já o rapaz estava meio assustado, não sei. Foi tudo muito assustador, assim que eles saíram eu liguei para a polícia e me escondi. Eu fiquei com muito medo e ainda estou, afinal eles sabem onde eu vivo.

— Não se preocupe, eles não vão voltar, só algemados agora. O senhor se lembra de mais alguma coisa, alguma característica desse homem e dessa mulher?

— Lembro apenas de uma tatuagem que eu vi rapidamente na mão do rapaz: um pássaro, ou um peixe, algo assim. Eles estavam todos cobertos. Sinto muito não poder ajudar mais.

— Tudo bem, obrigada, o senhor já ajudou muito — dei um sorriso de canto e me despedi do Senhor Henry.

Segui para a divisão, o próximo passo seria interrogar Troy, o namorado de Allyson. A morte foi às nove, se ele morava realmente perto de Lisa, então ela já deveria estar lá nesse horário.

Após algumas horas de interrogatório confirmei que Ally estava mesmo no apartamento de Troy. Um policial conferiu as câmeras da rua e do condomínio onde Troy morava e o horário.

Ally estava fora da lista de suspeitos e eu precisava avisar isso a Camila, mas antes eu iria fazer uma visitinha a um amigo especial.

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