VI. Dúvidas

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[P.O.V. Lauren]

Estava atenta a qualquer movimento fora daquela lanchonete, as luzes de dentro já haviam se apagado e eu não entendia o que diabos Camila ainda fazia lá dentro. Às vezes me pego pensando se realmente foi ela a culpada disso tudo. Por fora sua vida parece tão normal, mesmo que seja uma vida bem difícil, pelo que descobri. Ela parece lutar tão bravamente pelo seu sucesso e pela sua família, me parece que ela não seria burra o suficiente pra cometer esse crime. Mas eu não poderia me deixar enganar. Os maiores assassinos são pessoas que você menos espera e, se fosse eu no lugar de Camila, já teria matado Lucy há tempos. Esse último pensamento fez meu coração apertar, olhei para minha mão onde a aliança do nosso noivado ainda estava, respirei fundo, apertando as mãos no volante até a cor dos meus dedos sumirem completamente. Vamos, Lauren, você consegue.

Finalmente a Senhorita Cabello deu o ar de sua graça, acompanhada de uma amiga. Pude ver as duas se despedindo e em seguida cada uma seguiu o seu caminho. Fui seguindo Camila com meu carro, em uma velocidade bem lenta. Graças ao FBI, possuo uma BMW preta, sem placa — afinal uma agente do meu porte deve estar sempre protegida —, então meu carro não chama tanta atenção. A garota estava indo rumo a sua casa, um caminho que eu conhecia, por conta da investigação particular que andei fazendo, porém Camila parou em frente ao local do crime, a casa de sua amiga Lisa, segundo ela. Pude perceber de longe uma dúvida imensa se formar na expressão dela, mas apenas por segundos, porque logo em seguida Camila já estava adentrando na casa. Essa mulher só podia ser louca. Definitivamente louca.

Estacionei meu carro, coloquei minha arma em punhos e segui até a casa rapidamente, mas, antes de entrar, uma força maior me fez parar e respirar fundo incontáveis vezes, tinha sido ali, há três dias atrás, que ela se fora. Meu coração estava tão apertado que nem se quer eu conseguia sentir suas batidas. Era uma dor dilacerante ter os flashes daquela noite terrível, da pior noite da minha vida. Minhas mãos tremiam, mas eu precisava seguir. Segurei firme minha arma na ilusão de que assim minhas mãos parassem de tremer e entrei com tudo na casa, com um chute na porta. Camila se levantou assustada e, ao me ver, sua expressão foi de raiva, misturada com incredulidade.

— Mãos onde eu possa ver! – eu disse firme, tentando esconder todo meu nervosismo de estar naquele local novamente.

— Boa noite, Jauregui — ela disse com todo seu cinismo acentuado — Parece que o destino está querendo nos unir, não é mesmo?

— Cale a boca e deixe as mãos onde eu possa ver, sua desgraçada – disse de forma rude. Não era possível que até em uma situação dessas essa malfeitora iria me peitar.

Camila levantou os braços em sinal de rendição e eu tenho certeza de que todas as minhas tentativas de parecer calma estavam falhando miseravelmente, pois o descontrole em mim era tão notório que chegava a ser palpável.

[P.O.V. Camila]

Estávamos eu e a Agente Jauregui em um local que nenhuma de nós deveria estar, na cena do crime, onde milhares de faixas amarelas avisavam para manter distância; para não atravessar. Eu estava sentada no sofá esperando qualquer reação daquela mulher e esperava muito que eu não fosse levada novamente pra divisão, porque agora eu definitivamente dei motivos para isso acontecer, só não conseguia entender como ela chegou ali no mesmo momento em que eu cheguei. A agente estava parada em pé na minha frente: seu rosto branco e seus olhos verdes brilhavam por conta da meia luz que entrava pelas frestas das janelas e da porta, ela estava séria, mas ao mesmo tempo muito confusa. Suas emoções eram tão perceptíveis como água cristalina e era claro que Jauregui não estava pronta pra estar à frente desse caso.

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