Capítulo 9

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POV Eduardo

Passear com Inês foi incrível. Mesmo com minhas atuais limitações, me diverti como há muito tempo não fazia. Com ela tudo tem mais riso, cor, calor. Sua meiguice me encanta, e sua autoridade, me surpreende e me obriga a obedecer.

Agora que ela já foi embora, o fantasma do desânimo e da desesperança tenta cravar as garras em mim. Quando aquela menina doce está por perto, posso me ver fazendo qualquer coisa, mas é só ela se afastar para eu me lembrar de como estou.

Inês acredita em mim. Como gostaria de sentir a mesma confiança. Ela faz eu querer ser como ela me imagina. Ser digno de sua fé.

Sento-me no piano e, com minha mão direita, arrisco algumas escalas. Mesmo a que apenas machuquei está enrijecida, não quero nem pensar na que quebrou. O médico disse que daqui um mês posso iniciar as sessões de fisioterapia. Será que resolverá meu problema?

Resolvo ligar para a mãe de Mauro para saber como ela está. Hoje completam 15 dias do acidente. A encontrei na missa de sétimo dia, mas quase não nos falamos. Conversamos apenas mais uma vez desde então.

- D. Cida, é o Eduardo.

- Oi, menino – pela sua voz é nítido que andou chorando.

- Dia difícil?

- Sim, todos são. Meu filhinho... – escuto seu pranto, e não recuo, quero partilhar com ela seu sofrimento.

- Sinto muito a falta dele. Preferia ter ido em seu lugar.

- Não fala isso, Eduardo. Aconteceu o que tinha que acontecer. Não muda nada ficar pensando assim.

- Há algo que deseja que faça pela senhora?

- Só viva. Seu pai me contou da bobagem que tentou fazer. Fiquei muito magoada.

- Me perdoe, D. Cida. Vou me esforçar.

- Você teve uma segunda chance, menino, não desperdice. Viva por você e pelo meu Mauro – sinto um nó em minha garganta.

- Farei isso, por ele. Muito obrigada.

- Não precisa agradecer. Demonstre apenas que me escutou.

Desligo e sinto que levei uma pancada da vida. Como pude ser tão ingrato e egoísta? Foi necessário que uma mãe enlutada me abrisse os olhos. Envergonho-me de ter pensado em acabar com tudo. Lembro-me de Inês e de seu esforço em me ajudar, e me comprometo ouvi-la daqui por diante.

A noite é mais tranquila, tenho apenas um pesadelo e nem foi tão ruim como os outros. Sonhei também com flores, pássaros e um perfume delicado de alguém ao meu lado. Sempre que eu olhava para ver o rosto desta pessoa, a imagem ficava esfumaçada e não conseguia distinguir seus traços. Como será que ela é? Já percebi que é baixinha e magra, tem cabelos longos e perfumados, mãos pequeninas e delicadas, uma voz suave. Como será seu rosto? Será que um dia poderei vê-la?

Acordo cedo, e vou para meu banho. Hoje quero estar pronto quando Inês chegar. Fico na sala de jantar aguardando-a. Meu pai ainda não saiu de seu quarto e sou eu a abrir a porta para ela.

- Já de pé e com um sorriso? Muito bem.

- Pensei muito e cheguei à conclusão de quão tolo fui. Estou vivo, isso é o que importa. Farei valer minha vida.

- Como me deixa feliz, Eduardo – Ela pula em meu pescoço, num abraço alegre. Seu perfume me envolve, e poderia ficar assim por todo o dia. A estreito mais em meus braços e curto este momento.

- O que faremos hoje? – me pergunta quando finalmente a solto.

- Alguma ideia?

- Pode tocar para mim?

- Minha mão está dura, não sei se consigo.

- Algo simples. Por favor!

- Tudo bem. Não vou negar nenhum pedido seu. É uma promessa.

- Adorei. E vou cobrar, hein?]

- Eduardo, que roupa é esta? – meu pai surge na sala e, pelo riso em sua voz, devo estar ridículo – Inês, faça alguma coisa.

- Está muito ruim?

- Apenas uma bermuda xadrez de verde e azul, com uma blusa estampada em tons de vermelho, amarelo e laranja – meu pai responde e sei de quais peças ele está falando. Não resisto e caio na risada.

- Me ajude, Inês – é difícil parar de rir para falar - Escolha outra roupa para mim.

- Achei tão alegre...

- Está brincando, não é?

- Com certeza. Não ia te deixar sair assim, mas não teria coragem de falar e correr o risco de te magoar. Provavelmente derrubaria comida na sua roupa para te obrigar a trocar.

Depois do mudar minha vestimenta e tomar café, vamos para a sala de música, onde meu piano de cauda está. Passo meus dedos da mão menos machucada pelas teclas e inicio uma melodia simples.

- Que lindo, Eduardo. Parece mentira que é você a produzir o som. Estou encantada.

- Está ruim, meus dedos estão entrevados.

- Achei maravilhoso. Continue - Toco por vários minutos, e é mágico, mesmo fora de forma.

- Vou parar por enquanto, está na hora de nosso passeio.

- Estou gostando de ver. O que aconteceu para esta mudança?

- Você e a D. Cida, a mãe do Mauro.

- O que ela te disse?

- Para viver por ele – só de falar minha garganta já fecha de novo. Inês se aproxima e me abraça mais uma vez.

- Estou aqui para o que precisar. Vou te ajudar.

- Sou muito grato. Despertou-me para tanto... – não consigo terminar, apenas a abraço mais forte.

Quando ela se afasta, depois de um longo tempo, sinto saudades imediatamente. Sei que corro o risco de sofrer, mas não posso mais negar que estou muito atraído e apegado a ela. Apenas não sei se é inteligente me apaixonar neste momento.


O que acharam da mudança de atitude do Eduardo?

Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora