POV Eduardo
Encontro minha menina em nosso banco de sempre. Ela chega com nosso livro e um lindo sorriso. Não resisto e a beijo, não me importando com as pessoas ao redor. Trocamos mensagens o dia todo, mas morri de saudades.
- Oi, anjo, senti muito sua falta – sentamos juntinhos em nosso cantinho especial.
- Como foi seu dia? Seguiu as orientações do médico?
- Sim, senhora. Mas estou com um grave problema.
- Qual? Está com dores?
- Meu café da manhã foi horrível e o almoço também, nada parecido com os que preparava para mim. Você me acostumou mal.
- Posso te ensinar a cozinhar. O que acha?
- Tudo bem. Mas como vou resolver não ter você para tratar de mim?
- Pare com este beicinho lindo. Já está bem grandinho, não precisa de babá – ri e me beija. Usarei essa tática mais vezes.
- Mas preciso do meu anjo, sempre.
- Deixe de manha, vamos ler nosso livro.
No final da tarde, ela vai embora, mas combinamos de nos encontrar às 20h para um cinema. Ela quis ir só trocar antes, apesar de estar linda como estava. Quero aproveitar todos os momentos com ela, os dias são vazios e tristes sem minha namorada.
Busco-a de Uber, já que ainda não posso dirigir e não quis que ela fosse sozinha me encontrar. Não entro, mas toda a família vem me cumprimentar e Toninho já me trata com um velho amigo.
- Minha irmã fará uma festinha para o aniversário de 4 anos da minha sobrinha, Lívia, e pediu para te convidar.
- Lógico que irei. Quando será?
- No próximo sábado, às 17h. Será uma oportunidade de conhecer toda a família, apesar que minha mãe quer fazer um jantar lá em casa para sua apresentação oficial.
- Vai junto comigo comprar o presente? Não entendo nada de crianças.
- Sim, vou comprar o meu também. Podemos ir na segunda após o almoço.
Compramos vários bichinhos de pelúcia para sua coleção. São coisinhas fofas de olhos brilhantes e cara de coitadinhos que Inês disse que a pequena adora.
- Este é para você, para se lembrar de mim – lhe entrego um sapinho que comprei para ela.
- É lindo. Mas por que escolheu este?
- Para você nunca se esquecer que com um beijo, me torno seu príncipe.
- Então não vou perder tempo – diz antes de me beijar dentro da loja de brinquedos.
Os próximos dias são de muito carinho e nossa relação de aprofunda ainda mais. Com ela posso conversar sobre tudo, posso rir e viver por inteiro.
Na festa, conheço seus irmãos e cônjuges. Lívia está lindinha vestida de princesa e não cansa de mostrar sua roupa e tiara e posar para fotos. Joana está perto de ter outro bebê e se desdobra para que a pequena não fique enciumada. Falaram para ela que o irmãozinho que deu sua fantasia de presente.
O bebê Tiago é muito engraçadinho e adorou ficar no meu colo. Inês é a tia favorita e me leva junto nas brincadeiras.
Converso com todos e simpatizo muito com seus irmãos mais velhos. São homens batalhadores e só posso admirá-los. Toninho já é um velho amigo e com Edmilson temos a arte como assunto em comum. Já vi algum de seus quadros e ele tem muito talento.
Seu pai estava sério quando me conheceu, mas é um senhor muito simpático e logo conversamos normalmente. Sua mãe é incrível e todo o cardápio da festa foi obra dela.
Vovó Severina é a pessoa mais divertida, sem sombra de dúvida. Trouxe o amigo José Magalhães e os netos não a deixam em paz, mas ela distribui cascudos e piadas por igual.
- Avalie, Inês. Olha que cabra bonito que Santo Antônio te arrumô – escuto-a dizendo depois que somos apresentados e vejo como minha namorada cora envergonhada.
Chega o dia de minha consulta com o ortopedista e Inês me acompanha. Talvez tire o gesso, que agora está todo desenhado pelo Toninho. Numa das vezes que fui buscá-la, ele implorou e não resisti.
- Bem, Eduardo, estou com seu Raio-x, a fratura curou-se bem. Podemos tirar a imobilização. Necessitará de fisioterapia, como já conversamos. Vou indicar alguns profissionais.
Voltar a mexer a mão é ótimo, apesar da rigidez. Ainda está dolorido, mas não vou reclamar.
Agendo uma consulta de avaliação com uma fisioterapeuta para o próximo dia. Ela se chama Áurea e foi muito bem recomendada. Inês me acompanha à primeira consulta. É uma mulher jovem e muito bonita, mas com um ar de competência que me convence.
Após me examinar e ver meus exames, ela define um programa de tratamento. Serão 4 sessões de 40 minutos cada na semana, de segunda, terça, quinta e sexta-feira. Além disso, posso fazer meus exercícios de agilidade no piano, sem exagero. Ela prevê que em 4 meses estarei totalmente recuperado.
Não quero me empolgar muito, mas me permito sentir esperança e inicio os exercícios com animação. Sei que será difícil, terei muita dor, mas vale a pena.
Peço a Inês que vá comigo todos os dias, porém com a proximidade das festas de fim de ano, há muito serviço na padaria. Mesmo contratando funcionários temporários, ela ainda precisa ajudar. Não reclamo, já que ela me trás sempre alguma delícia nova para experimentar. Faço beicinho e recebo na boca e nunca me canso de me encantar com ela cuidando de mim.
Nos dias difíceis, onde uma parte de mim quer desistir, é ela que me mantem focado. Que me incentiva e por ela e por Mauro, irei conseguir, voltarei a tocar.
Me recordo da canção de meus sonhos com ela, antes de conhecer seu rosto. Transponho-a para a partitura e será meu presente para ela. Queria já estar em condições de tocar no Natal, mas ficará para seu aniversário em março. Até lá, se Deus quiser, estarei reabilitado.
Quando chego hoje da sessão, encontro, junto à minha correspondência, uma carta sem remetente, não postada no correio. Está impressa e não tem assinatura. A mesma frase de repete várias vezes: "Você merece morrer". Não há dúvidas que sou o destinatário, pois meu nome consta no envelope.
Olho nas gravações de nossa câmera de segurança e, além do carteiro, a única pessoa a se aproximar da caixa de correio foi um menininho mal vestido. Provavelmente recebeu um trocado para deixar a carta aqui. Estou sem pistas de quem enviou. Quem pode me desejar tão mal e por quê?
Gostando do mistério? Comentem e me contem o que estão achando. Obrigada
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série Sonhos
RomanceUm pianista que perde a visão e o movimento das mãos, talvez temporariamente, e quer desistir de viver. Uma garota sonhadora que gosta de cuidar das pessoas. É possível ela ensiná-lo a sonhar e ver que a vida é muito mais do que ele pensa?