Capítulo 23

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POV Eduardo

Dirijo frenético para chegar antes que Inês seja ferida. O trânsito está horrível, mas meu desespero é maior.

Quando entro na rua da padaria, vejo-a ao longe pronta para atravessar a rua. Grito e gesticulo, ela até olha, mas não me dá atenção. De repente, surgindo de não sei onde, um carro vai em sua direção, a toda velocidade. Minha menina percebe o perigo e pula, enquanto o veículo bate com violência na caçamba ao lado.

Largo meu carro no meio da rua e corro para ver como meu anjo está. Não me importo com as buzinas e nem com o risco de ser atropelado, só penso em chegar até ela.

Encontro-a caída na calçada, com sangue escorrendo de sua testa e desacordada. Seu braço está estranho, talvez quebrado. Grito por socorro, várias pessoas dizem que já ligaram para a polícia e resgate.

- Calma, amor, a ajuda já vem – acaricio e beijo seu rosto. É tudo culpa minha, ela se feriu por me amar.

Minha sogra chega correndo, avisada do que aconteceu.

- Minha filha, onde está? O que aconteceu?

- O carro estava mirando-a – diz um transeunte.

- Sorte que ela se jogou atrás da caçamba – diz outro.

D. Maria ajoelha-se ao meu lado e pega na mão de sua filha, as lágrimas correndo desesperadas.

- Minha menininha... Acorda, meu bem... Fala com a mamãe - Corta meu coração ver sua dor e medo, mas compartilho dos mesmos sentimentos.

Após alguns minutos que pareceram séculos, sou afastado pelos socorristas, que examinam Inês ainda desmaiada. Prestam os primeiros socorros, imobilizam-na e a levam para a ambulância. Apesar de minha vontade de não sair de perto da minha Inês, permito que D. Maria a acompanhe.

Só então me lembro do motorista. Pergunto para o policial, que me explica que a mulher morreu com o impacto.

- Uma mulher? Mas quem era? – pergunto confuso.

- Ainda não sabemos. Quem é o senhor?

- Meu nome é Eduardo Araújo. A moça machucada é minha namorada Inês. Nós estávamos recebendo ameaças há algumas semanas, mas não sabíamos de quem. Pode falar com o Gian, meu amigo investigador, que está cuidando do caso – passo o contato e ele fica de ligar.

Resgato meu carro do congestionamento e me encaminho para o hospital. D. Maria está na sala de espera, e JC já está com ela.

- Alguma notícia? – pergunto sem nem mesmo os cumprimentar.

- Ainda não. Sabe de algo?

- Apenas que uma mulher dirigia o carro. Creio que logo Gian me ligará com notícias.

Esperamos por meia hora, até que uma enfermeira venha falar conosco. A esta altura, toda sua família já está aqui, com exceção de sua irmã e as crianças.

- O doutor espera para falar com a família de Inês. Apenas 2 pessoas podem vir comigo – seus pais a seguem, e continuo agoniado à espera de notícias.

Vovó Severina pega na minha mão, dando batidinhas animadoras.

- Calma, menino. Ela ficará bem, com a graça de Deus.

- É tudo minha culpa, tentei afastá-la de mim, porém não adiantou. Recebemos ameaças, mas pensei que Inês estava segura longe de mim.

- Não se culpe, mas sim àquele diabo vestido de gente que a feriu.

Meu celular toca e vejo que é meu amigo policial.

- E então? O que descobriu?

- A motorista era a namorada de seu amigo Mauro. Ontem falamos dela e hoje cedo liguei pedindo para conversar. Ela me disse que após o expediente passaria na delegacia.

- Resolveu agir quando percebeu que seria investigada.

- Provavelmente. Descobri que ela estava trabalhando na padaria Mãinha, como funcionária temporária.

- Isto explica como sabia tanto sobre nós. E eu nem desconfiava, nunca a vi lá.

- Ela faleceu na hora, com o impacto com a caçamba. Acredito que planejava morrer de qualquer forma. Havia um bilhete suicida dentro do carro.

- Ela enlouqueceu de dor ao perder o namorado. Me culpava por continuar vivo.

- Sim, mas agora acabou. Como Inês está?

- Ainda não sei, estou morrendo de ansiedade. Não posso perder meu anjo.

- Calma, meu amigo. Ela ficará bem. Os socorristas disseram que os sinais vitais estavam bons.

Desligo quando vejo seus pais se aproximando.

- Como ela está? – várias vozes perguntam ao mesmo tempo.

- Ainda dormindo, mas o médico disse que é normal. Quebrou o braço e sofreu uma concussão leve devido à batida da cabeça no chão, mas ficará bem – D. Maria explica, com os olhos inchados de tanto chorar.

- Posso vê-la? – já não suporto mais ficar distante de meu amor. Preciso estar perto, tocá-la.

- Sim, Eduardo, pode entrar.

- Antes de qualquer coisa, quero informar que não traí a Inês. Apenas a deixei pensar que sim para mantê-la longe de mim e em segurança, mas não foi o suficiente – já havia explicado sobre as cartas enquanto esperávamos o médico.

- Eu já sabia, menino. Enquanto vocês colhem o milho, já tô com o fubá pronto. Meu Santo Antônio não se engana – Vovó dá palmadinhas em meu rosto, sorrindo para mim.

- Obrigada, D. Severina. E agradeça ao santo por mim.

Acompanho a enfermeira até o quarto coletivo onde ela está. Há mais 2 mulheres com ela, senhoras já idosas e muito abatidas. Minha Inês está dormindo tranquila.

- Oi, meu anjo, estou aqui. Vou cuidar de você. Me perdoa se não fiz o suficiente antes – acaricio seus lindos cabelos escuros e admiro a perfeição e delicadeza de seus traços.

Sinto tanto amor por esta menina. Preferia mil vezes estar eu neste leito, mesmo que na escuridão, do que vê-la machucada e tão frágil.

Fico com ela até que me avisam que outras pessoas estão esperando para entrar. Esqueci-me de sua família. Toco levemente seus lábios com os meus. Como gostaria de ser o príncipe que desperta a princesa com um beijo de amor.

Desculpo-me com seus familiares, mas não vou embora, só saio daqui quando falar com ela. Preciso saber que está bem e explicar minha motivação por não explicar minha inocência. Ela é minha vida e provarei que só ela existe para mim.


Ela entenderá? O que vocês fariam no lugar dela?

Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora