POV Eduardo
Dirijo frenético para chegar antes que Inês seja ferida. O trânsito está horrível, mas meu desespero é maior.
Quando entro na rua da padaria, vejo-a ao longe pronta para atravessar a rua. Grito e gesticulo, ela até olha, mas não me dá atenção. De repente, surgindo de não sei onde, um carro vai em sua direção, a toda velocidade. Minha menina percebe o perigo e pula, enquanto o veículo bate com violência na caçamba ao lado.
Largo meu carro no meio da rua e corro para ver como meu anjo está. Não me importo com as buzinas e nem com o risco de ser atropelado, só penso em chegar até ela.
Encontro-a caída na calçada, com sangue escorrendo de sua testa e desacordada. Seu braço está estranho, talvez quebrado. Grito por socorro, várias pessoas dizem que já ligaram para a polícia e resgate.
- Calma, amor, a ajuda já vem – acaricio e beijo seu rosto. É tudo culpa minha, ela se feriu por me amar.
Minha sogra chega correndo, avisada do que aconteceu.
- Minha filha, onde está? O que aconteceu?
- O carro estava mirando-a – diz um transeunte.
- Sorte que ela se jogou atrás da caçamba – diz outro.
D. Maria ajoelha-se ao meu lado e pega na mão de sua filha, as lágrimas correndo desesperadas.
- Minha menininha... Acorda, meu bem... Fala com a mamãe - Corta meu coração ver sua dor e medo, mas compartilho dos mesmos sentimentos.
Após alguns minutos que pareceram séculos, sou afastado pelos socorristas, que examinam Inês ainda desmaiada. Prestam os primeiros socorros, imobilizam-na e a levam para a ambulância. Apesar de minha vontade de não sair de perto da minha Inês, permito que D. Maria a acompanhe.
Só então me lembro do motorista. Pergunto para o policial, que me explica que a mulher morreu com o impacto.
- Uma mulher? Mas quem era? – pergunto confuso.
- Ainda não sabemos. Quem é o senhor?
- Meu nome é Eduardo Araújo. A moça machucada é minha namorada Inês. Nós estávamos recebendo ameaças há algumas semanas, mas não sabíamos de quem. Pode falar com o Gian, meu amigo investigador, que está cuidando do caso – passo o contato e ele fica de ligar.
Resgato meu carro do congestionamento e me encaminho para o hospital. D. Maria está na sala de espera, e JC já está com ela.
- Alguma notícia? – pergunto sem nem mesmo os cumprimentar.
- Ainda não. Sabe de algo?
- Apenas que uma mulher dirigia o carro. Creio que logo Gian me ligará com notícias.
Esperamos por meia hora, até que uma enfermeira venha falar conosco. A esta altura, toda sua família já está aqui, com exceção de sua irmã e as crianças.
- O doutor espera para falar com a família de Inês. Apenas 2 pessoas podem vir comigo – seus pais a seguem, e continuo agoniado à espera de notícias.
Vovó Severina pega na minha mão, dando batidinhas animadoras.
- Calma, menino. Ela ficará bem, com a graça de Deus.
- É tudo minha culpa, tentei afastá-la de mim, porém não adiantou. Recebemos ameaças, mas pensei que Inês estava segura longe de mim.
- Não se culpe, mas sim àquele diabo vestido de gente que a feriu.
Meu celular toca e vejo que é meu amigo policial.
- E então? O que descobriu?
- A motorista era a namorada de seu amigo Mauro. Ontem falamos dela e hoje cedo liguei pedindo para conversar. Ela me disse que após o expediente passaria na delegacia.
- Resolveu agir quando percebeu que seria investigada.
- Provavelmente. Descobri que ela estava trabalhando na padaria Mãinha, como funcionária temporária.
- Isto explica como sabia tanto sobre nós. E eu nem desconfiava, nunca a vi lá.
- Ela faleceu na hora, com o impacto com a caçamba. Acredito que planejava morrer de qualquer forma. Havia um bilhete suicida dentro do carro.
- Ela enlouqueceu de dor ao perder o namorado. Me culpava por continuar vivo.
- Sim, mas agora acabou. Como Inês está?
- Ainda não sei, estou morrendo de ansiedade. Não posso perder meu anjo.
- Calma, meu amigo. Ela ficará bem. Os socorristas disseram que os sinais vitais estavam bons.
Desligo quando vejo seus pais se aproximando.
- Como ela está? – várias vozes perguntam ao mesmo tempo.
- Ainda dormindo, mas o médico disse que é normal. Quebrou o braço e sofreu uma concussão leve devido à batida da cabeça no chão, mas ficará bem – D. Maria explica, com os olhos inchados de tanto chorar.
- Posso vê-la? – já não suporto mais ficar distante de meu amor. Preciso estar perto, tocá-la.
- Sim, Eduardo, pode entrar.
- Antes de qualquer coisa, quero informar que não traí a Inês. Apenas a deixei pensar que sim para mantê-la longe de mim e em segurança, mas não foi o suficiente – já havia explicado sobre as cartas enquanto esperávamos o médico.
- Eu já sabia, menino. Enquanto vocês colhem o milho, já tô com o fubá pronto. Meu Santo Antônio não se engana – Vovó dá palmadinhas em meu rosto, sorrindo para mim.
- Obrigada, D. Severina. E agradeça ao santo por mim.
Acompanho a enfermeira até o quarto coletivo onde ela está. Há mais 2 mulheres com ela, senhoras já idosas e muito abatidas. Minha Inês está dormindo tranquila.
- Oi, meu anjo, estou aqui. Vou cuidar de você. Me perdoa se não fiz o suficiente antes – acaricio seus lindos cabelos escuros e admiro a perfeição e delicadeza de seus traços.
Sinto tanto amor por esta menina. Preferia mil vezes estar eu neste leito, mesmo que na escuridão, do que vê-la machucada e tão frágil.
Fico com ela até que me avisam que outras pessoas estão esperando para entrar. Esqueci-me de sua família. Toco levemente seus lábios com os meus. Como gostaria de ser o príncipe que desperta a princesa com um beijo de amor.
Desculpo-me com seus familiares, mas não vou embora, só saio daqui quando falar com ela. Preciso saber que está bem e explicar minha motivação por não explicar minha inocência. Ela é minha vida e provarei que só ela existe para mim.
Ela entenderá? O que vocês fariam no lugar dela?
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Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série Sonhos
RomansaUm pianista que perde a visão e o movimento das mãos, talvez temporariamente, e quer desistir de viver. Uma garota sonhadora que gosta de cuidar das pessoas. É possível ela ensiná-lo a sonhar e ver que a vida é muito mais do que ele pensa?