POV Inês
Nas últimas semanas do ano, a padaria não para um minuto, mesmo depois do Natal o movimento é grande. Vejo pouco o meu namorado, mas nos falamos bastante por telefone.
Adorei seu presente e não tirei mais depois que ele colocou-o em mim. Sempre que olho para meu anjinho, peço que proteja meu amor. Já faz dias que ele não recebe cartas ou telefonemas, mas ainda estou preocupada.
Kátia me liga assim que chego em minha casa.
- Oi, como foi de festas?
- Não muito bem, flor. Acredita que o Luís nem me ligou para desejar Feliz Natal? Todo ano ele vai até minha casa com um presente e este ano, nem um telefonema.
- Te avisei que ele desistiu. Pelo que sei, ia inclusive chamar uma colega de sala para sair.
- Nas férias?
- Ele deve ter o telefone dela, oras.
- E eu?
- Você teve suas chances e não aproveitou.
- Pelo visto, está contra mim. Bela amiga...
- Ele já sofreu muito, Kátia. Cansei de escutar suas lamentações a cada namorado que você arrumava. E foram muitos, diga-se de passagem.
- Eu sei, mas agora eu mudei. Percebi que ele é o cara certo para mim.
- Prove então.
- Mas como?
- Isso é com você. Ele cansou por causa de sua inconstância e irresponsabilidade. Mostre que mudou.
- Tudo bem. Mas e se ele sair com essa garota e começar a gostar dela? O que faço?
- Paciência, minha amiga. Estará colhendo o que plantou.
- Nem sei por que falo com você. Só sabe me desanimar...
- Uma boa amiga diz a verdade. Acho que precisa ouvir mais. Se tivesse me escutado antes, nada disso estaria acontecendo.
- Está bem. Te escutarei, voz da consciência – diz debochada.
- Meu namorado me chama disto, mas soa bem melhor quando vem dele – rimos juntas. Ela sabe que só quero o seu bem, mesmo quando pareço dura.
As festas terminam, mas Eduardo continua evitando me encontrar. Diz que é para minha segurança, mas acho que está exagerando. Muitas vezes, apareço em sua casa sem que ele me espere. Ele tenta ficar sério e me dizer para não fazer mais isso, mas acaba me beijando e falando que estava mesmo morrendo de saudades.
Mas hoje é um dia em que apenas nos falaremos por telefone. Minha mãe deu férias para algumas funcionárias, e estou ajudando na padaria.
- Alô, meu anjo. Que falta que você me faz, morro um pouco longe de você.
- Como foi seu dia, sapinho? Pensou em mim?
- Muito, amor. Queria ir até a cafeteria para te ver, mas me atrasei na reunião com o professor Bonfim. Tive sessão logo após.
- E como foi? Irá mesmo dar as aulas?
- Sim, a partir de fevereiro. Estou muito animado. Nem liguei para as dores dos exercícios hoje, de tão feliz. A Áurea me elogiou bastante, disse que, se continuar assim, logo terei alta. Ela é muito competente, se o tratamento vai bem, o mérito é dela.
Fico irritada por ouvi-lo falar tão bem da fisioterapeuta, mas tenho que admitir que ela é realmente muito boa no que faz. Tivemos muitas referências positivas.
- E a Áurea, está bem?
- Acho que sim. Sei que gostou do presente que dei para ela de Natal, pois estava usando hoje.
- Que presente? Não falou nada.
- Tem certeza? Bem, de qualquer forma, comprei um par de brincos para ela, em agradecimento a tudo que tem feito por mim.
Sei que é prática comum presentear médicos, professores e tal, mas não gosto nada dessa história. Nunca imaginei que fosse ciumenta, mas estou descobrindo este lado meu, porém não o aprovo.
- Você virá até aqui amanhã? Eu não posso sair, pois Joana irá internar para ter seu bebê e ficarei com a Lívia.
- Mas ela já está com os sintomas?
- Não, mas seu obstetra fará uma cesariana, uma vez que passou de 40 semanas e nada do pequeno dar sinal de querer nos conhecer.
- Irei passar a tarde com vocês então. Assim mato um pouco desta saudade que nunca passa.
Conversamos por mais alguns minutos e depois ajudo minha avó com o jantar.
- Titia, titia, o Lucas vai segá – minha sobrinha entra gritando, eufórica com o irmãozinho.
- Eu sei, amor. Vamos ficar nós duas e o Eduardo aqui brincando enquanto a mamãe vai buscá-lo.
- Olha, coloquei o vestido de pincesa que Lucas me deu de anivessálio. Para ele ver que gotei. Estou bonita?
- Linda. Ele vai ficar muito feliz – ela vai mostrar a roupa pare a vovó Severina e aproveito para falar com minha irmã.
- Como está se sentindo, Joana?
- Tudo bem, só o peso e o cansaço, mas está acabando. Não vejo a hora de ver o rostinho de meu bebê.
- E o Pedro?
- Está tão nervoso. Quer assistir o parto, mas já estou vendo ele desmaiar e os médicos terem que cuidar dele invés de mim – ri, mas o amor brilha em seu olhar. Ela demorou a perceber o cara incrível que ele é, mas ficaram juntos e são felizes. Tomara que Kátia e Luís se entendam também.
Eduardo chega pouco depois de Joana sair. Minha mãe e meu pai a acompanharam. E, mais tarde, JC passará para buscar vovó e os meninos. Irei por último, junto com meu namorado, quando alguém voltar para ficar com a Lívia.
- Titio Du, tava com saudade de mim? – a pequena larga tudo para recebê-lo.
- Muito, princesa. Cadê meu abraço? – ela se joga em seus braços.
- Estamos bincando de salão de beleza. Pala fica bonitas pala o Lucas. Posso arrumá seu cabelo?
- Claro, fique à vontade – ele não sabe onde está se metendo. Pouco tempo depois, seu cabelo está brilhando com muito glitter, está maquiado, ou melhor, rebocado, e suas unhas estão rosas.
- Tá lindo, titio Du. Olha no espelho.
- Tem razão, obrigado – ele me olha desolado, mas só consigo rir.
- Lívia, amor, acho que exagerou um pouquinho. Uma produção destas é para festas apenas. Vamos tirar um pouquinho?
- Mas tá tão bonito...
- Claro, querida, mas o bebê vai ver o titio assim e achará que não está arrumado para uma festa tão especial e ficará triste.
- Aí a gente aluma ele, ola! – olho para Eduardo pedindo ajuda. Como vamos sair dessa?
- Bebês tem alergia à maquiagem – ele diz rápido, todo feliz por imaginar uma desculpa convincente.
- Tadinho, que tiste – ela fica desolada pelo irmãozinho.
- Mas ele vai crescer e então você arruma o titio e o Lucas juntos. O que acha?
- Que legal – bate palminhas feliz e consigo enfim limpar meu namorado.
Quem aí quer um dia de beleza no salão da pequena Lívia?
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Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série Sonhos
RomanceUm pianista que perde a visão e o movimento das mãos, talvez temporariamente, e quer desistir de viver. Uma garota sonhadora que gosta de cuidar das pessoas. É possível ela ensiná-lo a sonhar e ver que a vida é muito mais do que ele pensa?