Capítulo 20

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POV Inês

Ligo para Eduardo, estou cansada e preciso dormir. Resolvo não esperar sua ligação. Toca algumas vezes antes de atender, mas, para minha surpresa, não é sua voz que escuto.

- Quem é?

- Áurea. Com quem gostaria de falar?

- Com o Eduardo. Ele pode atender? – será que precisou fazer uma sessão de fisioterapia à noite? Mas a esta hora?

- Ele está no banho. Quer deixar recado?

- Não, obrigada – encerro a ligação atônita. Não é possível que ele esteja com ela da forma que estou imaginando. Ele me ama, não é? Não me trairia. Mas qual a explicação?

Ligo novamente e ela atende.

- Ele já pode atender?

- Só um minuto – Escuto quando ela grita "Amor, saiu do banho?" e desligo antes que ela volte.

Era tudo mentira? Será que meu medo de ele ter se ligado a mim num momento de fragilidade tinha fundamento? É isso que está acontecendo agora com ela? Ou ele nos faz acreditar que precisa de nós apenas para nos conquistar? Não posso acreditar, mas é o que indica as evidências.

Digo para todos que irei dormir e para não me chamarem. Ainda é cedo, mas ninguém questiona, já que o dia foi puxado na padaria. Vou para meu quarto e choro em silêncio por horas. Desligo meu celular e escuto quando ele liga no residencial.

Minha avó divide o quarto comigo e quando vem se deitar, faz um carinho nos meus cabelos. Penso que disfarcei, mas, de alguma forma, ela sabe que não estou bem. Começo a soluçar alto e ela me abraça carinhosa.

- Calma, menina, tudo há de se ajeitá.

- Ele me traiu, vovó. Por que simplesmente não terminou? Por que fazer isso comigo?

- Tem certeza, minha Inês? Pode ser um mal entendido. Ouviu da boca dele ou viu com seus olhos?

- Não, mas a Áurea falou... – não me deixa terminar e fala.

- E vai acreditá no que uma rival diz? Você mesma me contô que essa aí estava de olho no teu namorado.

- É verdade, mas ela está com o telefone dele.

- Converse com o moço amanhã. Vamos vê o que ele tem para dizê.

- Tudo bem, vovó. A senhora tem razão. Obrigada.

Me avisam que ele está me esperando. Não estou preparada para enfrentá-lo e peço para dizerem que não posso falar agora. Como ele insiste, vou atendê-lo. E ele não nega... Eu ainda tinha esperanças, mas elas caem por terra quando ele diz que sente muito.

Sinto a correntinha que me deu a me sufocar, era para ser uma prova do quanto significo para ele, mas agora parece uma piada de mau gosto. Devolvo para ele e peço que vá embora.

Volto para o interior da padaria, e corro para o escritório nos fundos. Me tranco e choro descontroladamente. Demorei tanto para abrir meu coração e agora o sinto se partindo pela primeira vez. A decepção e desilusão são imensas. Achei que o sapo havia se transformado em príncipe, mas isso só acontece nas histórias de amor, em livros e filmes, não na vida real.

Minha mãe me encontra após alguns minutos e me acolhe em seu colo.

- Minha menina, o que aconteceu?

- Ele me traiu, mamãe.

- Mas ele parecia te amar tanto...

- Todo o amor que dizia sentir era apenas empolgação. Temia que fosse isso. Eu estava por perto num momento difícil, ele se apegou. Mas agora que está bem, não precisa mais de mim e me trocou.

- Eu sei que dói, meu bem, mas vai passar. Chora e deixa essa dor ir embora.

Fico no colo dela por muito tempo, até conseguir me acalmar. Por fim, levanto-me e decido que não chorarei mais por quem não merece. Lavo meu rosto e volto para meu serviço.

Termino meu expediente e vou para a casa de minha irmã. Quero ver meus sobrinhos e esquecer minhas dores. Lívia me recebe com um grande abraço, e sua doçura aquece meu coração e o conforta.

Fico com o Lucas enquanto Joana faz o jantar. Pedro logo chega e toma banho rápido para poder pegar seu bebê. Janto com eles e brinco de boneca, até às 21h com minha princesinha.

- Agora, pequena, vamos escovar os dentes e dormir.

- Não, titia, nem bincamos ainda...

- E o que estávamos fazendo então? Mocinha sapeca, já para o banheiro – ajudo minha sobrinha e a coloco na cama.

- Conta a histólia da pincesa e do sapo? – é a sua favorita, desde que me ouviu chamando Eduardo de sapinho.

- Hoje não, meu amor. Que tal dos 3 porquinhos? – não quero saber de histórias de amor este noite.

- Tá bom, mas só se for das 3 poquinhas pincesas.

- Deita então. Vamos rezar e depois eu conto – Fazemos sua oração da noite e ela se acomoda sob as cobertas. Está com o olhinho pesado de sono - Era uma vez 3 princesinhas porquinhas. Quando a mamãe rainha dos porcos decidiu que suas filhas já estavam grandinhas de mais para morarem em seu palácio, mandou que cada uma construísse o seu próprio castelo... – Continuo a história e ela dorme antes que eu termine. Dou um beijo em seus cabelos e saio do quarto em silêncio.

- Obrigada, irmã, por me ajudar hoje. Estes primeiros dias após a chegada do Lucas são puxados.

- Eu que agradeço a oportunidade de me distrair. Lívia me ajudou muito.

- O que aconteceu? – seu olhar solidário me diz que já sabe, mas quer me dar a chance de desabafar.

- Terminei com o Eduardo. Estou arrasada.

- É mesmo o fim?

- Não aceito traição. Joana. Demorei muito para gostar de alguém e ter um namorado por ser sonhadora, como você diz. Não vou aceitar menos do que mereço, que todas nós merecemos. Prefiro ficar sozinha do que com alguém infiel.

- Está certa. Tem que se valorizar.

- Vou para casa agora. Volto amanhã. Boa noite.

- Boa noite, irmãzinha. Essa dor passa, eu sei disso. Só não fique amarga como eu fiquei. Continue esta menina doce e meiga que é.

- Obrigada Joana – abraço-a apertado e deixo algumas lágrimas rolarem.

Chego em casa, pego tudo que me lembra do Eduardo e coloco numa caixa. Meu sapinho de pelúcia me olha com seus olhinhos brilhantes e pidões, mas não posso ficar com ele, pois me lembra muito de seu dono. Guardo-o na caixa enquanto meu choro desce silencioso.


Ela acreditou fácil demais? O que acham? E como fica o sapinho?

Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora