Capítulo 22

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POV Inês

Acordo cedo para ir trabalhar na padaria. Apesar das funcionárias provisórias que minha mãe contratou para cobrir as festas de final de ano e as férias das meninas, ainda há muito trabalho.

Aproveito para ajudar enquanto minhas aulas não voltam. Já estou procurando uma vaga para o estágio obrigatório e então, não poderei mais colaborar com minha mãe.

- Bom dia, minha neta. Te escutei chorando até dormir.

- Sinto muito a fala dele, vovó.

- Você me faz lembrá do Manoel, quando esteve comigo lá no Nordeste, após terminá com a Andréia.

- Mas com ele foi diferente, vovó. Ele escolheu, eu não.

- O mundo dá voltas, menina. Quem sabe o que te espera?

- Ele não gosta de mim, vovó. Não tenho esperanças. Minha história não será como a do meu irmão.

- Pode ser que sim, pode ser que não. Mas só o tempo dirá.

- Ele me traiu, não posso aceitar.

- Ainda tenho minhas dúvidas, minha neta. Mas vamos deixá nas mãos do meu santinho – me beija carinhosa e saio.

Kátia me liga no horário do almoço. Faz uns dias que não nos falamos e ainda não contei de meu término.

- Oi, flor, tudo bem?

- Mais ou menos, Eduardo estava me traindo, descobri e terminamos – conto de uma vez.

- E como você está?

- Péssima, agora sei o que é sofrer por amor.

- Eu estaria era com raiva, não sobraria mais nada do antigo sentimento.

- Pensei que seria assim, mas ainda gosto dele, apesar de tudo. Mas não volto, isto não. E você?

- Sofrendo também. O Luís ainda está firme, não quer me dar uma chance. Está saindo com aquela garota da sala dele e estou morrendo de ciúmes.

- O que fez para convencê-lo que está realmente gostando dele?

- Falei apenas, não sei mais o que fazer.

- É bom que ele se envolva com outra pessoa, assim poderá avaliar seus sentimentos por você.

- Mas para mim é horrível ver ele com outra.

- Imagine como foi para ele durante todos estes anos.

- Eu sei, pobre do meu ursinho.

- Ursinho? Por quê? – não resisto e rio do apelido.

- Estou chamando ele assim nos meus pensamentos. Sempre adorei abraçar ele, mesmo como amigo. Ele é tão aconchegante, carinhoso... Por que não percebi antes?

- Tudo tem a sua hora. Ele ainda gosta de você, não se apaga um sentimento tão forte assim em pouco tempo. Tenha paciência e não desista.

- Não vou. Obrigada.

Envio uma mensagem para Luís, para saber como ele está e ele me liga em vez de responder apenas.

- Oi, Inês. Está melhor? – contei para ele no dia em que aconteceu. Sempre me senti à vontade para conversar com ele. É meu amigo mais antigo.

- É muito difícil, Luís. Mas vou superar.

- Vai sim, menina. Não fique chorando por quem não merece.

- E você? Como está?

- Terminei com a minha colega. Gosto da Kátia, não é justo iludir a moça. Mas eu tentei.

- E quanto à nossa amiga?

- Não consigo esquecê-la. É o amor da minha vida, não há escapatória.

- Acabei de falar com ela. Estava morrendo de ciúmes de você.

- Será que é sério? Tenho medo...

- Só vai saber se tentar. Dê uma chance para ela.

- Vou esperar ela falar mais alguma coisa. Mas já não estou mais resistindo.

- A deixe saber que encerrou seu rolo.

- Quer me ajudar? Conta para ela?

- Conto, pode deixar. Boa sorte, meu amigo.

- Obrigado, Inês.

Desligo, envio uma mensagem para Kátia com as novidades e inicio a decoração de um bolo que está agendado para as 14h.

Tento não pensar no Eduardo, mas me pego recordando seus olhos, sua forma de sorrir, o beicinho que faz para conseguir o que quer. Me vejo sorrindo, então me lembro do que fez, e tenho que segurar as lágrimas.

Estou entregando meu último bolo quando meu telefone toca. Vejo que é ele e não atendo. Tiro o avental, pego minhas coisas, despeço-me de minhas colegas e me preparo para sair.

- Mãe, já terminei por hoje, estou indo – passo no escritório onde ela está em reunião com sua sócia. Elas estão planejando a ampliação da Mãinha.

- Obrigada pela sua ajuda, filha.

- Já fecharam negócio com o proprietário do espaço ao lado?

- Sim, estamos conversando sobre a melhor forma de dividir o espaço.

- Como acha que deve ficar? – D. Cristina me pergunta.

- Precisamos ampliar a parte dos leitores. Sempre está lotado.

- Com certeza, temos um retorno muito bom. Fiquei com receio de ocuparem o espaço mas não consumirem, porém me enganei.

- Quem resiste às delícias que vendem aqui?

- Os leitores consomem aqui e ainda levam para casa.

- Pensei numa área infantil cercada também. Assim, as mães podem se encontrar com as amigas para um café sem se preocupar com as crianças – sugiro, lembrando-me da queixa de muitas mulheres que não saem mais por não terem onde deixar seus filhos.

- Ótima ideia, Inês – D. Cristina elogia – Já até sei como fazer. Vai ficar muito bom.

Converso alguns minutos, dando ideias e escutando. Deixo-as como seus sonhos e planos e saio. Vou a pé como todos os dias, minha casa é aqui perto e gosto de caminhar. Apenas no tempo em que estava com Eduardo evitava esta prática, mas agora não há mais motivo.

Estou a uma quadra da padaria quando ouço uma voz conhecida gritando meu nome. Paro antes de atravessar a rua e procuro quem me chama. É meu ex-namorado, dentro de seu carro, gesticulando desesperado, mas não entendo o que quer.

É então que vejo, horrorizada, um carro aproximando-se em alta velocidade em minha direção. Olho para os lados e vejo uma caçamba a poucos metros. Tento correr, mas apenas tenho tempo para pular para trás dela. Sinto uma dor terrível em meu braço e cabeça e tudo fica escuro. 

Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora