POV Inês
Acordo de um sonho lindo com Eduardo. Ele me chamava de meu anjo, dizia que cuidaria de mim e me beijava. A realidade já é um pesadelo, com uma dor horrível na cabeça. Estou deitada em uma cama de hospital e meu braço está imobilizado. Vejo meus pais entrando no quarto.
- Filha, você acordou! Graças a Deus.
- Mamãe, o que aconteceu?
- Um acidente, meu bem. Não se lembra?
- Sim, um carro em alta velocidade. Meu Deus, era a Raquel na direção! Mas por quê?
- Ela era a namorada do amigo do Eduardo que faleceu. Ela queria vingança por ele ter sobrevivido e o Mauro não.
- Era?
- Sim, meu bem, ela faleceu no local.
- Meu Deus, que triste. Ela que enviava as cartas e telefonava?
- Sim, a polícia encontrou as provas no carro e em sua casa. Havia também um bilhete suicida.
- Ela queria morrer... O luto devastou-a...
- A tia, única parente a terem contato até agora, disse que os pais faleceram há uns anos e, na época, ela ficou muito depressiva e tentou se matar.
- Ela estava doente emocionalmente, coitada.
- Sim, a tia também contou que ela recusou tratamento, e só superou a depressão quando conheceu o Mauro. Perdê-lo foi a gota d'água.
- Que tragédia.
- Mas vamos pará de falá deste assunto. Como se sente? – meu pai interrompe meu interrogatório, preocupado com meu bem estar.
- Minha cabeça dói muito.
- Vô chamá uma enfermeira – ele sai e não resisto a continuar com minhas perguntas.
- E o Eduardo? Eu o vi um pouco antes do acidente.
- Não o viu agora? Ele deixou o quarto pouco antes de entrarmos. Foi o primeiro a vê-la e tivemos que pedir para descer, pois se esqueceu que nós também queríamos te visitar – Será que não foi um sonho? Terá ele dito aquelas palavras e me beijado?
- Acordei com a senhora entrando. O que ele fazia lá naquela hora?
- Recebeu uma ligação anônima dizendo para correr se quisesse se despedir.
- Ele me ligou pouco antes de sair da padaria, mas desliguei o aparelho.
- Ligou também na padaria, mas disseram que já havia saído. Não sabiam que estava no escritório comigo e Cristina.
- Se ele não tivesse gritado, talvez estivesse morta agora. Parei ao ouvir o som de sua voz e não atravessei a rua, assim pude me esconder atrás da caçamba.
- Ele te salvou. Pobre menino, estava desesperado.
- É culpa apenas, infundada, já que não é devida, mas só isso. Não me ama – dói pronunciar estas palavras, mas não quero me encher de ilusões - Ele me salvou como faria com qualquer pessoa.
- Filha, ele disse para todos nós, que não traiu você, foi um mal entendido. Apenas tentava te afastar para te manter em segurança.
- Porém eu ouvi aquela tal de Áurea chamando-o de amor.
- Mas ouviu ele dizer algo também? A menina pode ter mentido.
- Será que seria capaz de inventar toda esta história?
- Tem pessoas falsas e manipuladoras, meu bem. O Eduardo me pareceu sincero e a vovó acredita nele.
- Vou escutá-lo. Será possível que ele me ama? – a esperança invade meu coração, mas tenho medo de me entregar.
A enfermeira entra com um medicamento para minha dor e meus pais me deixam para que possa receber o restante da família. Sei que Eduardo quer subir para me ver de novo, mas peço que volte amanhã. Preciso pensar e não me sinto bem agora.
- Dá gosto de vê o amor de seu namorado, menina. Por que não quer ver o moço? – uma das senhoras que está no quarto me pergunta.
- Terminamos, não sei bem o que pensar.
- É visível que ele te ama. O modo como te olha é até emocionante. Quando te beijou antes de sair e logo você acordou, lembrei daqueles contos de fada, do beijo de amor verdadeiro.
- Pelo jeito a senhora é uma romântica.
- Sim, sou. Mas foi lindo, não deixa o menino escapar.
Sorrio, mas suspiro, já arrependida de não ter falado com ele.
Kátia e Luís aparecem para uma visita no final do horário de visita, assim que meu pai vai embora.
- Flor, que susto! Como está? – ela me abraça com cuidado.
- Melhor, a dor diminuiu. Mas o que estou vendo são mãos dadas?
Ambos olham para seus dedos entrelaçados e sorriem.
- Cansei de fugir da Kátia. Me venceu pelo cansaço – Luís diz piscando para mim.
- Seu mentiroso. Você que corre atrás de mim desde que nos conhecemos – ela faz um ar ofendido, mas um sorriso teima em querer surgir em seus lábios.
- Mas dei um pouco de trabalho, confessa?
- É verdade, quando resolvi que era o homem da minha vida, não me queria mais. Eta homem indeciso! - Ele a abraça com um sorriso gigante.
- Te amo, maluquinha. Não vou negar.
- Também te amo, ursinho. Demorei para perceber, mas agora admito.
Quando eles saem, a senhora romântica está rindo.
- Este quarto está muito animado, nem vou reclamar que não tem televisão e estou perdendo minha novela.
Continuo a conversar com ela e sua vizinha até após o chá da noite. Chamam-se D. Dita e D. Socorro e são muito simpáticas. Sempre gostei de idosos e vejo, a cada dia, que escolhi bem minha profissão.
Durmo e sonho com Eduardo. Estamos numa jardim florido, há um piano e ele toca para mim, sorrindo. Sento-me ao seu lado e ele me beija, com carinho e delicadeza. Acordo triste, com muita saudade, mas sem a certeza de que meus sentimentos são realmente correspondidos.
Minha mãe chega logo cedo e me avisa que Eduardo está na recepção, aguardando para me ver.
- Deixe ele subir, mamãe. Vamos acabar logo com essa dúvida.
- Dê uma chance para o rapaz. Até seu pai está com pena.
- Tudo bem. Eu o amo, não vou negar. Se ele está dizendo a verdade, não há porque ficarmos separados.
Ela me ajuda a tomar um banho e me arrumar. Coloco uma roupa que minha mãe trouxe e peço que trance meus cabelos da maneira que gosto. Não vou excessivamente vaidosa, mas quero estar bonita para ele.
Espero ansiosa enquanto ela o chama e quando a porta se abre, há tanto amor em seus olhos que só consigo sorrir e abrir meus braços. Ele corre para mim e me abraça. Enterra o rosto no meu pescoço e me aperta forte, mas com cuidado. Sinto seu coração disparado e as lágrimas que molham minha pele. Ele está chorando e me emociono também.
- Te amo, meu anjo. Me perdoa, não queria que se machucasse. Só existe você, acredita em mim – diz quando se afasta, olhando em meus olhos.
Seu olhar azul e úmido me enternece, nunca imaginei causar tal reação nele. Respondo com um beijo que ele corresponde ao mesmo tempo com ardor e ternura. Tenho meu sapinho de volta.
O que acharam do novo casal Kátia e Luís?
E gostaram da volta do Anjo e do Sapinho?
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Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série Sonhos
RomanceUm pianista que perde a visão e o movimento das mãos, talvez temporariamente, e quer desistir de viver. Uma garota sonhadora que gosta de cuidar das pessoas. É possível ela ensiná-lo a sonhar e ver que a vida é muito mais do que ele pensa?