POV Inês
Não vou ficar longe do meu namorado por causa de ameaças de um maluco. Estou preocupada, mas com a segurança dele, não com a minha. Porém, farei as mudanças em minha rotina que ele pediu, afim de que fique mais tranquilo e não fale mais de se manter distante.
- O namorado estava com saudades, filha? Quer sair mais cedo para ficar um pouco com ele?
- Não, mamãe, temos muito serviço aqui ainda. No final de semana ficamos juntos.
- Achei ele estranho. Está tudo bem?
- Sim, algumas preocupações, mas nada de mais – não posso contar a verdade para minha mãe, ela ficaria desesperada.
Recebo uma ligação de Kátia após o expediente na padaria, avisando que passará em casa mais tarde. Não a vejo há alguns dias.
- Oi, sumida, tudo certo?
- Oi, flor, desculpa não retornar suas ligações. Meu avô esteve adoentado e viajei para sua cidade para ajudar.
- Ele está melhor?
- Sim, foi só um susto. Tem falado com o Luís?
- Sim, por quê?
- Ele não responde minhas mensagens, achei estranho.
- Depois que ele te viu no carro do Douglas na semana passada, disse que desistiria de você.
- Como assim?
- Eu que pergunto. Depois de tudo que aquele idiota fez quando bêbado, você sai novamente com ele?
- Não era isso, ele só queria conversar. Para pedir desculpas.
- Luís ficou indignado.
- Preciso falar com ele. Desfazer o mal entendido.
- Para quê? Só para mantê-lo preso a você por mais tempo, sem esperanças?
- Acredita se te dizer que estou vendo-o com outros olhos?
- Isto que se chama de ironia do destino. Quando ele desiste, você quer.
- Ele foi tão heroico no dia que me salvou. Tão corajoso e prestativo. Mexeu comigo – seus olhos brilham enquanto fala. Ficou mesmo impressionada.
- Pense bem, Kátia. Não fale com ele sem ter certeza. Ele já sofreu muito por sua causa.
- Vou tentar voltar à amizade e descobrir se meus sentimentos permanecem.
- Não brinca com ele, por favor – peço, pois sei que Luís não merece ter esperanças apenas para se decepcionar de novo.
- Não farei isto – seu ar indignado me convence, mas ainda temo por meu amigo.
- Vamos marcar algo nós três, assim ele vai. Acho que não quer se encontrar sozinho com você. Vou ligar e chamá-lo para ir à cafeteria.
- Sim, obrigada. Não vai se arrepender por me ajudar.
Ela vai embora e ligo para Luís. O convido para um café no final do expediente amanhã. No início ele não quer ir, então conto o motivo.
- Não sei, Inês, tenho medo de ser empolgação momentânea da Kátia. Sabe como ela é...
- Sim, eu sei. Por isso estou te contando. Não quero que sofra, mas ela parece sincera.
- Acho que vou manter apenas a amizade, mesmo que ela sugira algo. Preciso proteger meu coração.
- Será bom para ela não ter você correndo atrás como sempre. Fará ela te dar mais valor.
- Tem razão. Se ela estiver realmente gostando de mim, não desistirá tão fácil e saberei que posso confiar.
- Então, amanhã, às19h na Mãinha?
- Sim, combinado. E obrigada por ser tão boa amiga.
Kátia chega primeiro que Luís e está ansiosa. Ele se mantem simpático, porém sem seu ar de cachorrinho apaixonado. Noto que ela percebe e fica insegura, mas não ajudo. Posso parecer má para com ela, mas ele já sofreu muito.
Ele não oferece uma carona para ela, como sempre faz. Ela me lança um olhar confuso, sem acreditar em como ele está diferente, mas apenas dou de ombros. Ela precisa crescer e aprender a valorizar quem tanto a ama.
Eduardo me liga antes de dormir e ficamos muito tempo ao telefone. Ele me conta de seu dia e de sua sessão com a Áurea. Não gosto muito dela, percebi o olhar que deu para ele quando o conheceu. Não posso culpá-la, ele é lindo, mas é meu namorado. Talvez seja apenas ciúme meu, mas não gosto da forma como ela o trata, porém ela é uma profissional muito boa e não vou criar caso. Deixo meus pensamentos perturbadores de lado, abraço meu sapinho e me ajeito para dormir.
Acordo com vovó cantarolando na cozinha. Olho o relógio e vejo que perdi a hora. Minha mãe já saiu para a padaria há tempos.
- Por que não me acordou, vovó? Temos muito trabalho nesta época do ano.
- Sua mãe falô para ficá em casa hoje e saí um pouco com seu namorado.
- Pobre mamãe, não a deixarei na mão de forma alguma. Vou me trocar e irei encontrá-la.
- Leve Edmilson com você. O menino precisa saí um pouco de casa. Só fica trancado com seus quadros.
- Está preocupada, vovó? Acha que está depressivo?
- É essa época do ano. Lembra muito da pobre menina Janaina. Seria aniversário dela daqui uns dias. Ele tá sofrente de dá dó.
- Vou chamá-lo. Direi que mamãe precisa de nós.
Meu irmão vem comigo sem reclamar. Sempre foi calado, mas depois da morte da namorada há dois anos, se fechou ainda mais. O que o ajuda é a presença constante da Patrícia, melhor amiga da Janaina e agora dele. Ela sempre está em nossa casa e só quando estão juntos ele age como um garoto de 17 anos deveria. Jogam vídeo game, fazem maratona de filmes e séries e só com ela ele ri despreocupado.
Ligo para Eduardo e ele não atende, olho as horas e me lembro que está no horário de sua sessão. Mais tarde ligarei de novo, estou morrendo de saudades de meu namorado.
O Natal é está semana e a padaria está lotada. Temos muitas encomendas e o movimento triplicou. Minha mãe e sua sócia estão felizes e pensam em alugar o ponto vizinho para ampliar o estabelecimento. O cantinho da leitura é um sucesso e tornou-se pequeno nos últimos meses.
Luís me liga e diz que Kátia o convidou para um cinema, mas que ele declinou do convite alegando outro compromisso. Está balançado, mas pretende-se manter firme em sua resolução de não ceder facilmente. Será que minha amiga persistirá? Será que seus recém-descobertos sentimentos são fortes como ela diz?
O que acham da Kátia e do Luís?
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Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série Sonhos
RomanceUm pianista que perde a visão e o movimento das mãos, talvez temporariamente, e quer desistir de viver. Uma garota sonhadora que gosta de cuidar das pessoas. É possível ela ensiná-lo a sonhar e ver que a vida é muito mais do que ele pensa?