O abraço do Tiozinho

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O churrasco do tio zéca tava maneiro, nem barulhento nem paradão demais e lá na sala de braços cruzados ele apreciava o resultado final do raque já montado no mesmo lugar do anterior que ele destruiu por causa do leattle Joe. Do lado dele o Diego na mesma posição também conferia o resultado do seu empenho. Tava até engraçado os dois de frente pro raque como que viajando numa obra prima. O Filipe, claro já tava mexendo nele. Desta vez não sobrou peça, é que sempre sobra alguma peça quando meu tio monta alguma coisa.

Eu me divertia com as garotas de zoeira rasgando elogios para a "churrasqueira", ninguém tinha reparado nela até o tiozinho chegar lá. - "que churrasqueira isso, que churrasqueira aquilo"... - Nunca vi uma churrasqueira ser tão comentada pela mulherada.
A Laís e o Thiago não se desgrudavam, cara... ela era muito apaixonada nele. O robi cismou com a Paôla, vira e mexe ele tava lá cheirando a perna dela. O robi é um husky siberiano que meu tio ganhou ainda muito novinho quando comprou ração pra dar pro ramissés o gato da outra vizinha. Na verdade meu tio queria mesmo era se livrar do gato com medo dele passar doença pra gente, mas o ramissés tava muito magro e o tio zéca acabou ficando com dó dele. Hoje o ramisses não vai mais lá em casa justamente por causa do robi que assim como o meu tio também não gosta de gatos.

Bem, como eu disse, o churras tava da hora, mas aí apareceu um carro buzinando lá fora. Era a Júlia aparecendo na minha vida de novo. Veio buscar o tiozinho. - Que merda! - Ainda ficou um pouquinho antes de tirar ele do alcance dos nossos olhos compridos. A Júlia era aquele tipo de mulher que as outras mulheres odeiam, não porque ela fosse uma pessoa insuportável, muito pelo contrário ela era muito gente boa, o problema estava na sua beleza. Sabe aquela mulher que pára a festa quando chega? Então... A Júlia era essa mulher, - "que ódio!" - Ombros retos, rosto tipo esquadreijado, pele branca brasileira e um cabelo super preto liso com leve ondulação natural, tudo isso numa mulher tipo modelo de um metro e oitenta de altura, isso mesmo, pra falar com ela você ainda tinha que olhar pra cima. Chegou cumprimentando todo mundo, um por um até chegar na tia Beth, alí a conversa foi no mesmo nível. Tia Beth já foi modelo na idade que eu tenho hoje, dezessete anos e ainda era um mulherão. Fui a última a ser cumprimentada por essa "mulher maravilha". Estiquei o braço mantendo certa distância pra não ter que olhar muito pra cima, mas fui surpreendida com um abraço carinhoso. Perguntou se o meu pé tava bom de quando eu quebrei ele lá na praia. Respondi seco - Tá - Em seguida voltou no tiozinho falando alguma coisa rápida próximo ao ouvido dele. O universo feminino é muito sinistro, não importa muito se a outra é a pessoa mais legal do mundo, se ela tem uma beleza muito acima da média todas as outras vão trata-la com um certo dispeito. A Júlia era aquele tipo de mulher que toda mulher gostaria de ser, daí todos os olhares para o bem ou para o mau eram sempre para ela. Sem querer ela deixava qualquer uma no chinelo. Não dá pra disputar com ela. Pegou o Filipe no colo e depois fez um afago no robi. Já ouviu falar em mulher perfeita? Pois é... a Júlia era essa mulher. Quinze minutos depois veio falar comigo de novo elogiando a casa que chamou de fofa. - Eu também acho, só precisa de uma nova pintura - disse novamente de maneira meio seca. Eu não queria tratar ela do jeito que eu tava fazendo, mas eu não conseguia me controlar porque na verdade ela tava alí só pra tirar o tiozinho da gente e isso claro me deixou meio puta. O tiozinho também chegou em mim depois de se despedir dos outros:

- Oi! - disse ele fazendo o tipo sem jeito. - Eu adorei a energia daqui... De coração, mas infelizmente tá na hora de eu ir embora. Vaí ficar chateada comigo não né? - minha boca respondeu assim:

- Nãããão, que isso! - mas na minha cabeça eu tava dando muito na cara da Júlia.

- Obrigado por tudo valeu mesmo.

- Eu é que agradeço. Mas não dá pra ficar nem mais um pouquinho?

- Na verdade já era pra eu ter ido, como eu ainda não fui... Vieram me buscar.

- Pra onde?

- A gente tá dando uma pequena festinha pra irmãzinha da Júlia lá no hospital. Coisa simples. É o aniversário dela e eu não posso faltar, então...

- Poxa eu não sabia, tadinha! Que que ela tem?

- Tudo bem. Ela tá internada por causa de uma doença muito ruim.

- Caráca! Sinto muito. Nossa véi eu sou escrota mesmo! Eu aqui toda meio assim com a Júlia porque ela ia te levar embora e nem imaginava que...

- Tudo bem. Ela sabe que vocês não sabiam de nada. A Júlia é a pessoa mais compreensiva do mundo, pode ficar tranquila. - poxa vida, a Júlia devia tá enfrentando a maior barra por causa da irmãzinha no hospital e até agora eu só tratei ela com indiferença, Caráca eu tinha que mudar isso - deixei o tiozinho falando sozinho e corri atrás dela já saindo no portão:

- Júlia... - ela se virou meio surpresa - Você não se despediu de mim. - me joguei num abraço pra ela. Era o mínimo que eu podia ter feito. É engraçado abraçar uma pessoa mais alta que você, ela se abaixa e os corpos não se juntam direito. - me desculpa que eu não te tratei direito, foi mal, eu tava...

- Eu sei sua boba, eu entendo. Eu também ia me tratar assim se estivesse no seu lugar.

- Não, eu sei que não ia. Você é muito gente fina. Me desculpa mesmo.

- Tem nada não, mas olha só, você tem um coração bom. Tentar consertar as coisas é um jésto muito bonito, eu gosto de pessoas assim e o Cauã também. Continue deste jeito e você vai conquistar muitas coisas na sua vida, inclusive o amor daquele de quem mais gosta. Você só precisa mostrar pra ele, entendeu? - Caráca! Isso nem foi uma letra, foi uma música inteira. Vi seus olhos na direção do tiozinho vindo na nossa direção enquanto ela dizia - precisa mostrar pra ele - a parada foi tão na cara que eu fiquei muda. Em seguida ele passou pela gente fazendo uma piadinha:

- Namoro ou amizade? - certamente era o começo de uma grande amizade. Foi quando a gente se descolou. Fiquei lá olhando o carrão deles indo embora depois que ele também se despediu com um abraço quase me erguendo do chão. Talvez fosse imprenção minha, mas eu percebi uma energia diferente naquele abraço. Foi como se ele estivesse se despedindo de alguém que não queria se despedir. Seu corpo colou no meu me feito uma luva, consegui sentir seu cheiro que registrei na memória como se fosse o maior prêmio do ano até ali, percebi também o afetuoso aperto de seus braços como que me prendendo exclusivamente pra ele. Parecia que o universo estava finalmente conspirando ao meu favor tipo me dando aquele abraço do tiozinho de presente. Imagina como é que eu me senti?! Caráca! Meu coração nem cabia no peito. Oh mi God! Olhei eles Entrando no carro como que em câmera lenta, cara, eles só podiam ser de outro planeta de tão gente fina que eram. Vi o carro deles sumindo na curva à direita bem lá embaixo com tudo voltando à velocidade de câmera normal só a partir daí. Suspirei fundo - Ahhh, um dia quase perfeito! - me voltei para dentro e me dei conta de que ainda não havia dado tanta atenção pro Diego, aliás não dei atenção nenhuma. Fui direto nele que conversava com o tio zéca na churrasqueira:

- E essa carne aí, tá queimando não? - zuei.

- É ruim de queimar em! Por falar nisso, você não comeu nada até agora. Querendo emagrecer? - meu tio me gastando. Eu sou um palito, ruim de boca mesmo, sempre fui magra e por conta disso vez em quando surge essa ou aquela piadinha de oportunidade. Peguei na mão do Diego depois de botar um pedacinho de linguiça na boca e saí puxando ele lá pra sala passando pela Paôla na porta assim como pelas outras pessoas no caminho até chegar no sofá.

- Agora fala aí, por onde você andou mesmo que até agora eu não entendi direito.

- Minha mãe descobriu que eu me meti naquela briga, me tirou a moto e o celular. - claro que eu achei engraçado né! Principalmente do jeito que ele falou com aquela cara de coitadinho.

- Picante - No diário de uma AINDA adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora