O primeiro encontro

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   Num sábado eu estava brincando de quebra cabeça com o Filipe na sala de casa, o meu celular tocou pra me deixar no mais completo dilema. O Diego me chamou pra sair a noite numa parada tipo só nós dois, só que o número do tiozinho também chamou e ele me convidava pra comer aquele x alguma coisa que ficamos de combinar lá de trás. Caráca véi! Imagina alguém sem saber o que fazer! Era eu totalmente sem saber o que fazer. Colocava um na espera e falava com o outro. Colocava o outro na espera e falava com o um. Eu queria muito sair com o Diego, mas não podia perder a oportunidade de estar com o grande amor da minha vida. Não queria magoar o Diego mas também não podia dizer sinto muito hoje não vai dá para o tiozinho. Já tava quase arrancando os cabelos. Tive que recorrer aos universitários, pedi ajuda a única pessoa naquela sala além de mim:

- QUE QUE EU FAÇO Filipe? Me ajuda. - Ele estava totalmente distraído, mas acabou dando a resposta que eu precisava dentro da dúvida dele:

- Qual é a peça mais importante do quebra cabeça? - olhei pro Filipe reposicionando o pescoço meio que de lado tipo - Ãh?! - Achei aquela pergunta totalmente sem sentido para o meu drama, mas ele tava focado no jogo, deixei meu pequeno probleminha de lado para tentar responder a pergunta dele - A peça mais importante do quebra cabeça?! Sei lá... A que completa o jogo? - veio como num estalo. - É claro! O que completa o jogo! - resultado, duas horas mais tarde eu já estava me arrumando frente ao espelho para me encontrar com o Cauã, quero dizer, não era bem um encontro, mas eu gostava de pensar que era um.

Dava os últimos retoques no espelho ainda com as palavras do Diego me torturando a mente, ele me disse assim:

- Tá maneiro, de boa, vai ser só mais uma facada no meu peito mesmo. - Caráca véi, ele mandou uma direta muuuuito de verdade mesmo. O meu coração estava dividido assim: setenta por cento pro Cauã, vinte e oito por cento pro Diego e dois por cento pra Paôla, mas a minha vontade era cem por cento pro Cauã, trinta e um por cento pro Diego e sessenta e nove por cento pra Paôla. Eu sei que é uma conta que não fecha, mas é assim que eu sintia.

Quando eu já estava prontinha e indo na direção da porta o celular tocou novamente. Pensei: - Só faltava ser a Paôla agora! - Ainda bem que era a Laís, só que ela ligou pra dizer que a Paôla tava querendo me chamar pra comer pipoca, ficar de bobeira na praça, mas tava sem graça de falar direto comigo. Isso não!

- Ô Laís... Você sabe que eu vou sair com o Cauã véi! porque você não falou pra ela?

- Sei lá! Queria ver contigo primeiro.

- Pra que Laís?! Tudo bem tá maneiro de boa, pó deixar que eu falo com ela.

- Oi meu bem! ( Falando com a Pâmela ) poxa véi, a gente vai ter que deixar essa pipoca pra outro dia. Hoje não vai dá, tô saindo agora pra me encontrar com Cauã, mas...

- Poxa... Você vai mesmo me dar essa facada? - de repente parecia que eu tava esfaqueando todo mundo.

- Qual é?! Eu já tinha marcado com ele Paôla.

- Tudo bem Sãhmi, de boa, vai lá. Eu vou levar o seu coração que tá aqui no meu peito pra passear em outro lugar, tomara que ele não encontre outro dono. - fazendo drama.

- O meu coração está aqui comigo Paôla. - dei uma cortadinha de leve.

- Não, esse aí é do Cauã. O seu tá batendo aqui dentro. - Caráca! Galera tava mandando a vera mesmo, mas a parada era o seguinte... Se você juntasse o que eu sentia pelo Diego com o que eu sentia pela Pâmela ainda não dava a metade do que eu sentia pelo tiozinho e o que eu sentia por ele vinha desde os treze anos de idade. Ele era o meu crush eterno, meu sonho de consumo, ele era o meu vício.

Desci do meu quarto pra sala encontrando a tia Beth no pé da escada:

- Mas o que que é isso?! Um encontro? - eu botei o único vestido de festa que tinha. Um vestido preto com um v nas costas. Tava exagerado mesmo, mas na minha cabeça eu tinha de deixar bem claro para todo mundo o que ele ( Cauã ) representava pra mim, inclusive para ele mesmo. Em seguida já na sala dei aquele abraço no tio zéca para ele sentir um pouco da extensão da minha felicidade e também pra ele não lombrá comigo.

- Tá arrumada di mais. Tá ino pruma dessas festa di bacana ou... É um encontro?

- Não tio zéca, mas faz muito tempo que eu sonho com isso. Este momento é muito importante pra mim entendeu?

- Tá, intendi, mais... - parou de falar enquanto tirava um raio x da minha roupa.

- O que? - perguntei. Ele tava naquela de pai reprovando o decote da filha.

- Nada não. É qui cada ano qui passa parece qui a gente tá perdendo você assim aos poquinhos sabe? eu...

- Tio Zeca... Pode parar com isso! Eu só tô indo no shopping comer um lanche com uma pessoa muito maneira tá?! - meu tio zéca é o maior pai do mundo. Eu aaaamo ele. Dei um beijo em seu rosto depois de ouvir que eu era a filhota preferida dele. Que bonitinho!

O tiozinho chegou em cima de uma moto esportiva muito irada, caráca! Imagina aquela moto que você sempre foi doida pra dar uma voltinha! Agora imagina o seu cruch em cima dela, detalhe, você está colada nas costas dele! Foi isso que aconteceu comigo, só que aquela moto também me fez lembrar do Diego e como se não bastasse em seguida vi duas garotas passando de mãos dadas só pra me lembrar da Paôla. As vezes odeio meu cérebro traidor, mas o meu nariz Salvador me fez esquecer dos dois como que num passe de mágica ao me trazer a fragrância do meu condutor que oportunamente abracei a cintura assim que subi na moto. Outro detalhe, eu tava de vestido lembra? Que que você acha que aconteceu? Fiquei com as pernocas de fora claro né. Nossa véi! Só comigo mesmo. Que vergonha! Acho que o tiozinho até pensou em dizer algo mas deixou quieto.
Cara, na boa véi, ninguém pode se quer imaginar quantas vezes eu visualizei o tiozinho me levando pra sair de moto por aí e por incrível que pareça eu sempre me imaginei de vestido. Tem muita gente que acha essa cena ridícula. Andar na garupa de uma moto tem que ser de shortinho, você se agarra no boy e empina a bundinha pra geral que vai ficando pra trás, mas se eu não tivesse de vestido não teria tanta emoção. Eu só queria ser eu mesma e isso não é pedir muito porque eu sou a Sãhmi, a sahmizinha aqui parceiro anda de vestido na garupa da moto e a galera olha assim mesmo, qualquer uma vira um mulherão em cima de uma moto, fazer o que, beijinho no ombro.

- Tá tudo bem?- Perguntou ele antes de sairmos voando.

- Tá! - respondi me sentindo a mais gata do bairro.

Assim que a moto arrancou
Velocidade atingindo setenta
Parei o tempo pra ver
Tudo passando em câmera lenta.

Cabelo querendo voar
Coração saindo na boca
Meus olhos querendo salvar
Detalhes de uma vida louca

O cemáforo querendo mostrar
surgindo bem perto de lá
mudando o vermelho pro verde
abrindo pra gente passar

Imagina a cara de alguém
Ao ganhar o mais lindo presente
Era eu por detrás da viseira
com a minha cara pra lá
mas muito pra lá de pra lá
de muito pra lá de contente.

Aquele foi o meu melhor fim de semana naquele mês e a minha melhor companhia, aquele foi o meu melhor... primeiro "encontro".

- Picante - No diário de uma AINDA adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora