- Picante - No diário de uma AINDA adolescente

Relacionamento proibido

É que as vezes quando te acontece uma coisa muito ruim, ruim mesmo e você está começando a se reerguer vem outra coisa ruim e te derruba de novo você se sente sem chão. Parece que o seu mundo caiu e uma onda de pessimismo toma conta de você. A minha vida era um mar de coisas boas. Tudo tava indo super bem na escola, cheia de amigos me cercando de carinho, meu lance com o tiozinho já estava começando entrar em outro nível. Cara! Eu tava amando e me sentindo  amada todos os dias por todo mundo o tempo todo e só por isso eu era a pessoa mais feliz do mundo. Infelizmente como em qualquer conto de fadas minha vida também deu uma guinada para baixo e foi muito muito pra baixo. Alguém lá em cima deu bobeira e os meus dias de trevas chegaram.

Eu havia acabado de tomar banho. Olhava para algumas peças de roupas distribuídas em cima da cama decidindo com qual ia me encontrar com o Cauã. Hoje a gente vai assistir uma peça cômica no teatro e comer um podrão numa barraca de lanches. Tia Beth me chamou que precisava falar comigo. Desci as escadas ainda de roupão e toalha na cabeça. Percebi seu semblante não muito bom parecendo que ia me dizer algo que não queria dizer, mas que tinha de ser dito:

- Senta ai meu anjo. - disse ela apontando com os olhos para uma das cadeiras da mesa da cozinha mais próxima a que ela estava sentada enquanto levava a xícara de café a boca. Deu demorada golada parecendo pensar por onde começar, foi quando a ouvi pela primeira vez me dizer um não que realmente me maguaria profundamente - O seu tio e eu conversamos muito a respeito das suas saidinhas com o Cauã e a gente está meio preocupado com isso. Antes de tudo nós queremos que você saiba que te amamos e que te apoiamos em quase tudo que você faça, mas por mais que a gente tenha aguardado e se preparado para o dia em que você viesse a conhecer alguém... A gente não esperava que esse alguém seria dez anos mais velho que você. Não que ele seja um cara que não te mereça ou coisa assim, mas devido a algumas coisinhas que andam falando por aí nós chegamos a conclusão de que não podemos aprovar esse relacionamento, pelo menos não por agora. - eu não estava acreditando no que os meus ouvidos estavam escutando. Com aquela última frase a tia Beth tava acabando comigo. Logo ela! Uma pessoa tipo à frete do seu tempo, uma mulher moderna e inteligente. Fiquei muda, boba, fiquei passada. - Não nos entenda mal - continuou ela - mas infelizmente nós precisamos pedir que isso pare por aqui, Você não vai mais poder se encontra com ele e nem ele vai poder te pegar em qualquer lugar que seja pra te levar à qualquer lugar que seja...

- Mas tia Beth, o que foi que eu fiz de errado?! - ainda naquele dia eu descobri que as wats postaram coisas horríveis sobre eu e o Cauã. Várias mentiras que claro chegaram aos ouvidos dos meus tios. Eles não acreditaram em nada daquele palhaçada toda, lógico, mas ainda assim decidiram que era melhor me preservar da língua felina da " sociedade " . Nessa vida é assim, não importa se você faz tudo sempre certinho, quando alguém espalha algo ruim sobre você todo mundo vira juiz, executor e cai de pau mesmo. Sempre existe aquele que te conhecendo bem vai levantar a dúvida - Será que foi isso mesmo?! - só que dificilmente ele vai te defender. É aquela velha história - " acompanha o defunto mas não se joga na cova com ele".

- Escuta meu amor, essa é só uma decisão que a gente julgou ser a mais acertada pro momento. Sinto muito. Não fique chateada com a gente. Serão só quinze dias afastados um do outro. Daqui a pouco você terá dezoito anos e poderá continuar com esse relacionamento bem como desejar. Sinceramente eu torço por isso se realmente é isso que você quer porque eu quero a sua felicidade. Da só um tempinho nisso tudo tá bom? Vai Passar rápido.

- Tia Beth... Vocês não confiam em mim?! É isso?

- Não se trata disso minha filha. Um dia você vai compreender. A gente tem que te proteger de tudo que julgarmos ser um risco pra você. Deixa a gente fazer a nossa parte tá bom. Fica tranquila, o Cauã vai entender, ele vai ver que essa atitude é só um reflexo do amor que nos sentimos por você.

- Mas tia Beth...

Quiz discutir com ela. Eu Não podia aceitar aquela decisão. Não era justo, mas nada do que eu dissesse mudaria uma palavra na decisão deles. Para mim o tempo  em questão fosse quinze dias ou um ano era o de menos. O problema foi que eles não confiaram em mim. Me senti muito magoada. Aqueles foram os piores quinze dias da minha vida. Quase tudo deu ruim.

Baixei a cabeça e subi para o quarto. Muito triste me joguei na cama agarrando-me ao travesseiro. Triste meus olhos deixaram rolar as testemunhas de um golpe que eu senti e que me derrubaram. O que fiz de errado? O que ele fez de errado. Porque? Porque isso agora? Meninas idiotas!
Vou ligar para ele. Não, não agora. Não seria boa hora. Não vou conseguir falar. Vou agora a cara inchar. Inchar de tanto soluço, inchar de tanto chorar. Mundo preconceituoso, cruel e sempre com quem ama que vivendo a mesma história vai sentir o mesmo drama. Choram gotas de amor feito eu em murcha flor soluçando minha dor derrotada em minha cama.

Horas depois...

A noite um Toc toc veio da porta seguido da pergunta - Posso entrar? - Era a voz do tio Zéca. Não respondi.  Depois de breve momento ainda do lado de fora ele continuou - Sãhmi, eu sei cocê tá chateada... Continuei muda. - tudo bem, vo pedi pa sua tia trazê sua janta aqui tá bom? Eu sei cocê num vai querê descê né? Intão... - outra pausa. - Fia eu... - não completou a frase que pelo ton era de reconciliação e ia terminar assim: - ... sinto muito.
Não voltou para cozinha. Foi para seu quarto e assim como eu dormiu também sem jantar naquela noite. Meu tio zéca não sabia dizer não e teve de dizer não justamente pra quem amava como verdadeira filha. Isso doeu muito nele. Aquela noite foi longa pra ele que também custou pegar no sono. O imaginei com a cabeça repousada em seu travesseiro tendo o braço descansando sobre a testa e o olhar vago para o teto refletindo a dor da concorrência enquanto eu em meu quarto trocava o travesseiro pelo urso de pelúcia e depois o urso de pelúcia pelo travesseiro. Troquei de novo e de novo até que em fim meus olhos pesaram. Olhei para a luz do abajur que lentamente foi diminuindo até desaparecer por completo tipo assim, dormi sem trocar de roupa querendo trocar de mim.