O final

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   Adoro ouvir os passarinhos fazendo festa aqui e ali. Vejo as pessoas que passam lá na rua indo pro trabalho ou pra escola ainda com aquelas caras sonolentas. Daqui a pouco eu também serei mais uma no meio delas. A vida é mesmo um grande espetáculo que todo dia começa, acaba e começa de novo. Ela tem cores, cheiro e os mais variados sons e sabores . Está no bebê que ri ou que chora e no velho que acha graça nisso.

Ela é o ar que eu respiro
e a água que eu bebo
O passarinho que canta
pro lindo sol que vejo.

Vejo da minha janela
ouvindo de dentro do quarto
tem mais gente chegando?
Mais gente no meio do parto.

Gente tão pequenininha
tipo flor inda botão
seja bem vinda Maria
seja bem vindo João.

As vezes o dia começa com chuva, mas não fico brava não.
Água que Deus dá de graça
ao alcance da minha mão.

Obrigado meu Deus
digo em minha oração
me fazendo verdadeira
mostro minha gratidão.

Depois disso tomo um banho
e seguindo vou à escola
investindo no futuro
do presente que é agora.

                           Samantha Ávila

Mas hoje acordei diferente.
Coloquei os pés no tapete cor de rosa que domina todo o piso do meu quarto. Um tapete em alto relevo que que pede para ser massageado com as plantas dos pés, hoje não fiz isso. Fui para a janela onde fiquei com olhar vago lá para fora. Os passarinhos como sempre alegres no fil, o sol radiava vida exaltando as cores de tudo que podia abraçar. As pessoas nas calçadas em seu eterno vai e vem enquanto as poucas flores pareciam comemorar mais um lindo dia.
Para mim toda essa beleza hoje era indiferente. Com a alma machucada tentava reencontrar a vontade de sorrir. Não deu.
Já na cozinha reparei a expressão desfocada da tia Beth depois de me perguntar se havia dormido bem. Evitava me olhar nos olhos. Talvez estivesse também preocupada com o tio zéca que já deveria ter chegado. Filipe roubou minha atenção ao esticar o braço com um pedaço do biscoito dele que peguei fazendo um afago em sua cabeça. Ele é muito fofo. Peguei meu copo de café com leite me retirando da mesa novamente para o meu quarto. Já no meio da escada ouvi tia Beth me perguntando:

- O Sahmi, você nem tocou no seu misto filha!

- Quero não tia.

Entrei no quarto onde dei uma golada no copo e peguei minha mochila saindo novamente, agora para a escola. No ponto de ônibus recebi o zap da Laís dizendo que ia faltar aula. Parece que a gente está se distanciando. Não sei o que ela anda fazendo. Justamente hoje que é quando eu estou voltando à nave ( sala de aula ) e precisava dela ao meu lado. Quer saber? Vou matar aula também. Eu Precisava de um tempo pra mim, precisava sair do meu mundo, andar um pouco sozinha por aí, respirar o ar em outro lugar. Fui pro centro da cidade caminhar na calçada olhando as vitrines das lojas ainda fechadas. Andei por instinto com pensamentos misturados parecendo sem direção. Quarenta minutos se passaram e eu nem me dei conta, o tempo voa quando se está fora do ar. De repente me vi surpresa. Estava diante da casa do Diego, foi quando parei. O que eu estava fazendo ali? Olhei para a campainha estranhamente indecisa. Voltei os olhos para a janela toda de vidro no andar de cima ao notar um discreto movimento. Era Diego. Me olhava procurando por uma resposta para a minha presença diante do seu portão naquela hora. Bem... eu estava uniformizada então... matando aula. Não fiz nenhum gesto, nenhum movimento, nada, só mantive os olhos parados nele. Também procurava uma resposta. Um ruído de tranca se fez do portão que destrava. Procurava um sentindo praquela minha estranha manhã até alí enquanto minha mão empurrou lentamente o portão liberando passagem para o que poderia ser por necessidade a minha primeira aventura do dia. Me sentia desiludida e confusa, desampada, mas eu era a Sâhmi então... lá dentro do meu íntimo eu sabia muito bem do que precisava naquelemomento. As vezes a gente não pensa, as vezes a gente só age e tudo se resume em entrar ou sair. Minha mão solta o portão que bate com a tranca repetindo o mesmo ruído de a pouco só que agora se fechando as minhas costas. Meus passos me levam na direção de Diego que me espera na entrada da casa. Dou apenas uma meia parada diante dele como que cumprimentando discretamente e entro. Sei o caminho para o seu quarto. Me deparo com a cama mais macia do mundo parecendo me esperar. Confiro naturalmente a porta aberta olhando por cima dos ombros como que transmitindo-o um convite tipo menina carente atrevida. Embora sutil ele faz expressão de surpreso. Seu passo deixa o corredor atravessando a linha da soleira em minha direção. Outro ruído de tranca se faz agora da porta do quarto que desejadamente se fecha. Clok.

- Picante - No diário de uma AINDA adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora