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A primeira vez que fui na casa da Paôla eu fiquei meio assim porque tava tipo sem jeito. Eu estava na casa de uma coleguinha de escola que era uma menina da mesma turma que eu, mas sem afinidade alguma. Ela sabia que isso ia rolar então fez de tudo pra eu me sentir a vontade. Teve wi-fi, seriado com pipoca e outras guloseimas. Quase não estudamos nada, pois a ideia principal neste primeiro contato era estreitar nossa amizade. Ela queria conquistar a minha confiança. Apresentou um pouco do seu mundo me mostrando seu quarto que era ligeiramente maior que o meu. Com quase tudo nas cores rosa e branca também tinha janela pra rua. Mostrou sua cama deixando claro que sabia sobre a minha ao fazer comparação com a dela ainda de solteiro:
- Eu sei que não é de casal como a sua, mas daqui a pouco a minha também vai chegar. Como é ter uma cama de casal só sua? - perguntou:
- É... Espaçoso. A gente se espalha mais.
- A Laís dorme lá de vez em quando né? - achei a pergunta tipo nada a ver e respondi vago:
- Dorme. - Na verdade eu ainda estava muito armada tipo esperando que a qualquer momento ela iria me dá aquela olhada de um jeito sei lá, ou falar qualquer coisa com duplo sentido, esbarrar "sem querer" na minha mão e pedir desculpas, qualquer coisa desse tipo, mas nada chegou perto disso. Ela se comportou apenas como uma garota se esforçando pra fazer amizade e conseguiu. Na segunda vez a Laís foi comigo, aliás paôla fez questão disso e acabou tratando a Laís ainda melhor que havia me tratado no primeiro dia. Depois perguntei pra Laís se ela tinha mudado sua opinião sobre a Paôla, já que ela achava que a Paôla gostava de mulher:
- Não. - disse ela meio seco. A Laís meio que entendia bem do assunto porque tinha uma prima LGBTI. Ainda assim eu achava que ela tava viajando de ciúmes de melhor amiga. De qualquer forma a ideia fixa dela conseguiu me blindar.
Na sexta feira daquela mesma semana percebi paôla mais radiante do que normalmente ela era durante a aula. Me fez sinal que queria me contar alguma coisa maneira e me parou no corredor depois da aula pegando ágil pela primeira vez em minhas mãos:
- Adivinha! disse com os olhinhos brilhando - minha cama de casal chegou. - Aquela cama para ela era bem mais do que só uma cama. Ela representava um divisor de águas. A vida de qualquer um se conta de antes e depois da cama de casal e quem gosta mesmo de cama como eu sabe do que estou falando. Naquele dia eu encontrei alguém ainda mais apaixonada por cama do que eu. Paôla já foi falando de festinha do pijama que sempre quis mas nunca teve e outras coisas que as garotas fazem naturalmente como por exemplo o cabelo umas das outras, unhas e por aí vai. Fiquei tipo meio sem reação diante de tanta empolgação. Não sabia do seu passado ou sua infância até ali, assim como seus anseios e projetos pro futuro. De repente me dei conta que ela não tinha muitas amigas ou gente da mesma idade a rodeando. Ela era uma menina solitária por conta de algo que a travava e bem lá no fundo eu sabia o que era, mas assim como quase todo mundo eu também não dei tanta atenção. Ela queria mudar isso e sabia que ia precisar de ajuda, mas essa ajuda tinha de ser da pessoa certa. Resultado, Se jogou pra cima de mim expondo parte do seu universo na esperança de ser mais notada a partir daí. Tudo que ela queria ou precisava era se soltar. Se desprender de algo ou de alguma coisa, mas não ia conseguir fazer isso sozinha. Sabia que era ela mesma seu próprio e maior problema. Ela estava me lançando bem mais que um desafio, para ajudá-la eu teria de colocar o pé numa estrada totalmente nova e desconhecida para mim, mas aqueles olhos brilhando desesperado de felicidade não saíam da minha cabeça. Ela estava sufocada, estava me pedindo socorro e só havia um jeito de eu ir em seu auxílio, eu tinha que entrar dentro do mundo dela para livra-la de si mesma e trazê-la a tona para ela respirar. Isso estava me torturando. A noite custei pegar no sono com a cabeça pensando nela. Eu tinha de fazer alguma coisa se não eu não era a Sãhmi. No outro dia acordei abrindo os olhos preguiçosos na direção da janela parcialmente fechada. Tava na hora de abrir a janela e dentro dessa analogia foi que eu me sentei falando para mim mesma decidida:
- Tudo bem, vamos ver até onde isso vai dar.
Oh my God !
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- Picante - No diário de uma AINDA adolescente
RomanceO tiozinho - No diário de uma AINDA adolescente. Ouça a estória dela contada por ela mesma antes de ouvir da boca dos outros e não se esqueça, todo mundo tem seus sonhos, desejos e principalmente todo mundo erra. Levemente picante