Romance no cinema

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Naquele mês eu estava feliz de um jeito que nunca havia estado antes. Meus encontros com o tiozinho que eram sempre esporádicos até ali se tornaram cada vez mais constantes. Shopping, churrasco dos amigos, ver os enfeites de natal com aquela árvore enorme na praça... A vida que pra mim já era colorida agora também tinha mais sabores e aromas. Fomos a alguns lugares novos para mim como por exemplo numa perfumaria de bacana e naquele restaurante japonês onde ele se divertiu com a minha expressão de - É ruim que eu vou comer isso em! - peixe cru pra mim não dá e no final acabamos mesmo foi comendo aquela bomba de salsicha no pão cheia de molho e batata palha da barraquinha de cachorro quente da DN Iêda. A gente se divertia rindo de quase tudo. Era muito bom estar com ele. As vezes por acidente nossas mãos se tocavam e era somente nesse momento em que nossos olhos se cruzavam daquele jeito. Uma fração de segundos que pareciam durar horas. Uma fração para mim infinita e que revelava toda a intensidade do inebriado desejo. Qualquer mulher fica meio assim quando rola esse tipo de coisa. Comigo não era diferente. Aquele momento em que você ajeita a mecha do cabelo atrás da orelha. Isso tudo no mês de dezembro, mês do meu aniversário. O dezembro mais feliz da minha vida. Infelizmente o lado negro da força nunca dorme. Aquele mês de dezembro também foi o mais triste.

No escurinho do cinema....

Toda garota já se imaginou sentada numa daquelas cadeiras com o namoradinho do lado apenas com a luz da telona iluminando a sala cheia de gente distraída. A pipoca na mão e o braço dele se ajeitando atrevidamente nos seus ombros. Os braços dele vem e seus olhos se abrem quase que imperceptivelmente mais um pouco e a respiração lhe parece querer fugir do peito. É quando você sai daquela fase do contato dos olhos e mãos para o contato mais mais sabe? Aquela coisa gostosa de ficar agarradinho um no outro.

Então...
Meus olhos ligeiramente mais abertos aguardavam ansiosos o próximo passo de sua mão em meu ombro direito parecendo pedir por uma resposta, uma reação. Lentamente deixo minha cabeça pender para ele que me recebe amável em seu peito onde me acomodo enquanto levo a pipoca à boca e sinto seu braço ajeitar-se em volta do meu pescoço descansando discreto  pouco acima do meu peito.
Nossos corpos se comunicam por leves e doces movimentos como que numa dança onde ele pede e eu aceito. Em determinado momento a pipoca já não vai mais a minha boca. Agora ela assisti meus lábios desejando os dele com sua mão atrevida praticamente roçando despercebida os rijos bicos dos meus seios. Me deixo pra ele como uma gatinha toda mole recebendo um afago demoradamente carinhoso.

A música romântica do filme entra baixinho e vai aumentando assim que o mocinho reencontra a amada e eles se beijam. Nesse momento olho para ele que me vê pedindo o mesmo. Sua mão acaricia delicadamente o meu rosto que convida o seu, mas que respeitosamente não vem. Tento decifrar o porque. Do que mais ele precisa? Estou literalmente em suas mãos. Porque tanta exitação? Já sei! É aquela merda de linha tênue. Ele tá me respeitando de mais. De repente sinto que ele vai fugir e assumo uma postura mais radical. Seguro  a mão que me abraça evitando sua fuga. Entro no fundo dos seus olhos deixando claro que eu o quero, que o desejo, ajudo-o a saltar a tal droga da linha tênue que enfim se parte. Agora sim ele se move. Seu rosto vem de encontro ao meu. Nossos lábios se tocam. Meu coração dispara. Minha alma geme e meu corpo incendeia. O frio na barriga. A cabeça sei lá. Quase desmaio.  Seus braços me apertam mais firmes. A coisa esquenta. O beijo se torna " O BEIJO ". Ecitada queria poder agarra-lo com mais vontade. Não agora, não hoje. Fico na vontade. Tem jeito não, eu sou pólvora pura mesmo. Basta riscar o fósforo do meu lado para eu pegar fogo. Um fogo que não se apaga e que me consome. Desejos e vontades. Frutos do calor de um momento, de um beijo, um homem, um filme, no filme? O mocinho e a donzela se desgrudam. A gente não. E assim como no nosso beijo a música se sustenta dando um lindo toque ao último ato do filme que termina com a câmera se distanciando do casal que permanece abraçado no meio da calçada. The end. Final feliz. De relance dou uma última olhada para ver o casal agora debaixo de uma chuva média que cai insistente os deixando completamente molhados, exatamente como eu.

- Picante - No diário de uma AINDA adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora