Sãhmi fica doente

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Olhava pela janela sem prestar atenção em nada lá fora. Viajando na maionese, esquecida da vida, parada no tempo e olhando para o vazio.
O céu amanheceu nublado assim como tudo em minha volta. Não desci para a cozinha e não fui para o colégio. Tia Beth bateu na porta entrando com o meu café da manhã, bem, na verdade ela queria mesmo era conversar já que eu estava evitando ela:

- Não vai à aula hoje filha?

- Não. - respondi preguiçosa - Eu não estou me sentindo bem.

- O que você tem?

- Um pouco de frio. - colocou a mão em minha testa deduzindo meio surpresa:

- Você está com febre! Tá sentindo alguma dor?

- Não.

- Estranho! Volte pra cama e se cubra só com o lençol. Vou buscar o termômetro. - meia hora depois ela já tinha me dado um antitérmico e depois de colocar um pedaço de pano molhado em água fria na minha testa conferiu novamente o termômetro dizendo:

- A febre cedeu. Vamos aguardar mais uns vinte minutos, se ela voltar a gente vai pro hospital. Talvez seja alguma infecção boba.

Uma hora depois eu passei da minha cama para a cama do hospital e no final do dia passei da cama do hospital para minha cama. A Laís está meio sumida. O seu celular não chama. Ela anda muito misteriosa ultimamente. Que será que ela tá aprontando?
O tiozinho não ligava, aliás já faziam três dias que ele não ligava, não retornava minhas ligações e nem nada.
Estava sentindo sua falta, aliás estava sentindo falta de muita gente.

De madrugada quando tio zéca surgiu em meu quarto depois de ouvir um sonoro e alto grito de - Não ! - saído da minha boca.
A febre apertou de tal modo que eu já estava delirando:

- Não, não vai embora, fica comigo. Por favor Cauã... Menzdfman, mmmim. Cauã mzansmmm meu... Não...

Me mexia na cama como que lutando contra uma situação indesejada, eu estava sofrendo. Tia Beth também entrou pela porta ouvindo do tio Zéca que as pressas já me embalava no lençol:

- Vâmo levá ela po hospital. Desce na frente pa abrí a porta do carro.

Eram duas e meia da madrugada quando voltamos ao hospital. Um tempinho depois de eu ser assistida já com a temperatura sob controle tia Beth comentava com o tio zéca o que também já se passava na mente dele:

- Acho que a gente exagerou. Ignoramos os sentimentos dela atropelando tudo e achando o tempo todo que estávamos fazendo a coisa certa, mas não estavamos....

- Eu tô achâno isso tamém.

- Pois é, e agora como é que a gente vai concertar isso?

Tio zéca sabia o que precisava ser feito, mas sabia também que teria de contar com alguma coisa a mais tipo sorte ou coisa assim. Cauã estava magoado. Só um pedido de desculpas e uma boa conversa talvez não fosse o suficiente pra endireitar tudo.

Fui liberada as sete horas da manhã quando voltamos para casa onde fiquei o dia todo de molho sozinha na cama, só mais um dia sozinha com os meus pensamentos. No outro dia foi assim também e no outro dia e nos outros dias.

O que está acontecendo comigo? Parecia que eu havia adquirido uma doença contagiosa que todo mundo tava me evitando. Putz que par*, dessa vez as watz se superaram. Aquelas vacas acabaram com a minha vida!

- Picante - No diário de uma AINDA adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora