Capítulo 30

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Hector Bennett

Oh grande merda!

Nos meus anos servindo como um soldado eu vi a morte diversas vezes, sobrevivi situações em que ninguém pensaria possível, escapei com vida de um deserto isolado após ser torturado eu posso dizer com firmeza de que sou um sobrevivente.

Mas há um porém.

Ao vestir minha farda eu sabia que poderia não voltar para casa, eu aceitava o meu destino. Sendo honesto eu não temia minha morte, não havia nada meramente substancial para viver. Era um homem vazio e por isso não tinha nada para perder.

Mas não agora, não hoje.

Pela primeira vez na vida eu temi a morte.

Aperto novamente o freio e nenhum sinal de redução, o carro continua seu destino sem obedecer meu desespero. Moro em uma parte isolada da cidade, com fodidas curvas estreitas e uma infinidade de árvores.

Tento novamente os freios e falho.

-Porra!

O velocímetro marca 80 km e pular dessa velocidade significa um pescoço quebrado.

Tenho meio quilômetro antes da primeira curva estreita e tento o máximo controlar a direção.
O carro derrapa na pista e verifico meu cinto de segurança.

Merda.
Merda.

A primeira vez em que capota acho que vou morrer. O segundo giro faz meu ombro estalar. Na terceira vez estou de ponta cabeça e a julgar minha dor ao respirar, fraturei uma costela.
O quarto giro leva o carro até a parte arborizada e meu corpo sofre um baque com o tocar das árvores até que finalmente para.

O pior barulho do mundo é o silêncio aterrador. O silêncio frio de uma noite trágica.

Pisco, foram minutos ou horas?
Não sei de fato.

Gemo de dor ao tentar mexer o braço direito. Minha cabeça implora para que eu saia daqui, meu corpo protesta.

O cheiro de gasolina invade meus sentidos.

Preciso sair.

Me arrasto pela janela e grito de dor ao passar o ombro ferido, agradeço aos céus pelo treinamento militar. Levo meu corpo ferido para longe e me apoio sobre um galho e finalmente fecho os olhos.

O cheiro de combustível continua e temo uma explosão. Não acho que terei sorte de sobreviver novamente.
Meu corpo pulsa onda de dores e um líquido viscoso se amontoa ao meu lado.

Não há uma única iluminação e não aposto que seja meu sangue.

Seria totalmente irônico sobreviver a um acidente de carro para morrer por perda de sangue. Mas parece esse o meu destino.
Em meio a divagações, deixo meu corpo cair contra o solo macio.

É primavera, os animais noturnos estão por aí. Eu não faço ideia de que tipo de animal posso encontrar, rezo para ser coelhos. O pensamento de morrer por dentes de algum lobo me assusta.

Seria esse o momento em que a dor afetou minha lucidez?

Dói muito. E faz muito silêncio.

A Fera de DetroitOnde histórias criam vida. Descubra agora