Devaneio

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Já havia esquecido o que era sentir-se em paz e sem preocupações,por isso aproveitava cada segundo,cada suspiro e cada batida tranquila de seu coração como se fosse a última vez.

Não sabia precisar se faziam minutos ou horas que estavam ali,poderia até arriscar dizendo que o tempo havia parado no momento em que Ela deitara em seu peito.

As mãos desenhavam formas despreocupadamente pelas costas da garota que suspirava satisfeita,não havia necessidade de palavras,o silêncio nunca fora tão confortável. As pernas entrelaçadas apesar da posição um tanto quanto incômodas,pareciam continuações de um só corpo. O coração,batia no mesmo ritmo que o da outra,o sorriso preguiçoso,cópia idêntica ao da outra.

Havia tanto a ser dito agora que finalmente tinham tido a chance de se encontrar que mal sabia por onde começar. Onde estivera? O que tinha aprendido? Quantas provações enfrentara até ali? Tinha sentido o mesmo vazio e solidão todos os dias,ate se encontrarem? Também tinha tido de aprender com o desalento inexplicável que é sentir que nada nem ninguém tem encaixe certo em sua vida?

Quanto tempo havia procurado encontrá-la em outros corpos,em outros sorrisos,em outras bocas?Quanto tempo até perceber que por mais que tentasse...Não havia a sensação de pertencimento ao se envolver afetivamente?

- Você pensa alto demais - suspirou longamente - quase posso ouvir teus pensamentos gritando por respostas.

- Não quero gastar meu tempo te questionando - escreveu palavras sem pretensão  nas costas da garota

- Então não gaste. Não faça. Paciência nunca foi sua virtude,eu sei.

- Me perdoe eu só… - sentiu os olhos encherem de lágrimas e o peito apertar subitamente.

- Nossa hora há de chegar.

- Então me diz onde te encontrar.

- Sabe que não devemos,não podemos.

- Eu não aguento mais.

- Claro que aguenta meu amor,já passamos por isso outras vezes e em todas elas você foi quem levou isso melhor.

- Dessa vez eu quem estou pedindo,não me negue isso.

Seus sentidos começaram a falhar por um instante, Foi perdendo aos poucos a capacidade de sentir a garota deitada em cima de seu corpo que agora,formigava tentando acordar do estado semi consciente em que se encontrava. Estava deixando-a,de novo.

O pânico invadiu seu peito,o ar fugiu de seus pulmões. Mãos voaram com carinho até seu rosto e o aperto firme mas carinhoso,veio seguido do tom de voz reconfortante e vigoroso.

- Eu já estou aqui,nós estamos aqui. Não quero e não vou viver outra vida sem você. Eu prometo.

A sensação de afogamento aumentou,a cabeça girava e a última coisa que foi capaz de ouvir antes de despertar foi “Me encontra.”.

Levantou assustada secando o rosto molhado de lágrimas. Sentou em sua cama com o coração apertado,não havia sentido no pouco que lembrava de seu...sonho?

Passou a mão pelos lençóis desarrumados tanto quanto sua vida e por um momento,fechou os olhos com força tentando lembrar de qualquer coisa além da sensação boa que havia tido antes de acordar...nada.

O peito apertado,coração desalinhado,mais uma noite mal dormida. Mais uma noite perdida. A sensação de um amor não vivido,de algo que perdeu sem realmente ter.

Esfregou os olhos com pesar,orando pra quem quer que fosse e repetindo mentalmente a voz da garota na tentativa de não esquece-la.

“Me encontra…”

Talvez,só talvez,tudo isso não passasse de sonho. Ou talvez...realmente existisse alguém lá fora,esperando,ansiando,sofrendo com essa sensação de ausência que não passa mesmo diante de tantas opções,corpos e distrações fúteis.

Por um momento,por um único momento,quis acreditar que o universo poderia ser sim bom o suficiente pra que encontrasse a dona da voz,queria sentir-se em paz novamente e vivendo assim...seria difícil.

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