À primeira vida

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Sua mente ia longe,seus olhos fechados e a respiração calma e ritmada,ajudava a rememorar cada minuto daquele dia tão diferente do de hoje. O contraste daquele dia quente e ensolarado,com o frio gélido e o céu cinzento que via pela janela,traziam certo alento a seu coração. Era meio de tarde quando a encontrara...certo?

Nunca soube precisar se o que mais chamou sua atenção e fez seu coração disparar foi o sorriso de lado ou o jeito que ela ajeitava a mecha de cabelo que insistia em cobrir seus olhos. Seu tom de voz de menina,sua risada de uma leveza incomum...o coração não aguentou. Ali,no meio daquele parque , rodeada de crianças correndo e rindo enquanto brincavam fez com que caísse de quatro,pela garota.

- Eu nunca mais vou me apaixonar - dizia rindo pra quem quisesse ouvir entre seus amigos,todos casados.
-Você diz isso porque não consegue deixar de pular de cama em cama.
- Digo isso porque tenho certeza que amor é algo inventado pra vender trecos e alimentar o capitalismo - o sorriso triunfante de quem sabe achar tudo,se desfez no exato momento que cruzou com olhos castanhos.

A garota chegou tímida,falando baixo,quase como se sentisse que sua presença incomodava.

-Boa tarde… Poderiam me dizer onde encontro a entrada pro museu?


A entrada do museu não sabia informar,mas pela primeira vez em meses,se não em anos,saberia dizer exatamente onde desejaria manter a desconhecida e certamente não era na sua lista de conquistas ou sexo casual.

Sentiu a boca secar,as mãos geralmente tão quentes estavam frias. Ensaiou falar algo mas as palavras lhe faltavam tanto quanto o ar,quando foi que desenvolvera problema de fala? A intensidade do olhar da garota a levara para uma realidade paralela,seu coração batia com força contra o peito,um formigamento incomum tomava conta de sua mente como se uma parte sua tivesse acabado de despertar de um transe.

Todos olhavam sem entender sua mudez momentânea,esperando algum tipo de atitude ou resposta.
- Eu… - balançou a cabeça disfarçadamente tentando não parecer tão débil - eu não sei.
- Oh … que pena.


Ela pareceu desapontada apesar de manter o sorriso agora menos entusiasmado , o cenho franziu levemente contrariada e ali,naquele instante,havia decidido que nunca mais deixaria a desconhecida repetir aquele semblante triste.

Tratou de falar ainda que tropeçando nas palavras.
- Mas posso descobrir! - sua voz saiu mais alto que o esperado,arrancando riso dos demais - digo,podemos descobrir...eu te levo.
- Eu não quero atrapalhar mas…
- Nunca! - respirou fundo tentando se acalmar - não...Não é problema algum.

Uma mão quente em seu ombro seguido de um beijo preguiçoso em seus pescoço arrancou um suspiro seu. Sentiu sua pele ser marcada a cada avanço da ponta dos dedos da outra, a sensação nunca ia embora.Sua cintura foi enlaçada com cuidado,seu cabelo solto com carinho,seu pescoço mordido levemente .
- Adoro quando te vejo escrevendo…
- Adoro escrever quando é sobre você.
- Sobre o que escreve?
- O dia em que eu me tornei sua.
- Oh… - o tom de voz tímido não mudara com os anos - nosso casamento?
- Não,o dia em que nos conhecemos.

Abriu os olhos enquanto puxava a jovem para seu colo,os cabelos agora mais longos emolduravam sua face trazendo um ar tão inocente que deveria ser pecado imaginar tudo que podia e faria,com aquele corpo em breve.

- Quer me convencer que se apaixonou por mim a primeira vista?
- Quero que acredite que te amei a primeira vida. É diferente.

E era. E fora. E continuaria sendo.

Ah,não acharam a entrada do museu mas definitivamente,encontraram algo melhor : uma a outra.

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