Abrir a porta mecanicamente faz parte depois de um dia conturbado,aquele dia em que você simplesmente não entende porque existe no meio de uma semana ; tropeçar tentando tirar seu allstar sem desamarrar os cadarços também e definitivamente,chutar a quina da mesinha que fica ali ao lado da porta pra vocês colocarem chave e coisas importantes assim que chegam da rua,só te faz questionar como você consegue ser tão desastrada mesmo depois de tanto tempo.
Um vulto pequeno e peludo passa correndo pela sala, a gata deve ter percebido que seu domínio foi invadido. É sempre assim, todo dia quando abro a porta sinto que ela está ali antes de realmente enxergar um rabo cinza passando rápido em direção aos quartos, ela não se enrosca nas minhas pernas como faz contigo mas só de não planejar nenhum ataque silencioso ou minha morte dolorosa eu já fico feliz afinal,gatos nunca gostaram muito de mim…
Tiro a jaqueta desanimada,suspiro longamente pensando que o quarto definitivamente está longe demais só pra guardá-la e decido arriscar meu pescoço deixando jogada ali pelo sofá mesmo sabendo que você detesta minha bagunça. A possibilidade de te ver com cara de brava , reclamando e fazendo “nevar” me diverte e não tenho como evitar um sorriso, já sinto um início de alívio no meu humor .
O cheiro de comida é a primeira coisa que me chama a atenção,a música tocando meio distante e abafada vem em segundo lugar e em terceiro...você tá cantando? Tenho a leve sensação de que conheço essa música.
A manga da camisa sendo dobrada pra cima faz parte do ritual, soltar o cabelo depois de um dia inteiro com eles presos virou algo tão comum que nem parece que anos atrás você tinha de me ameaçar pra deixar eles soltos (e Deus sabe o quanto você era assustadora quando fazia isso) , desisto de procurar meu chinelo porque você provavelmente já guardou no “lugar certo” que não é no meio da casa.
Paro na porta da cozinha e me permito admirar em silêncio a única coisa capaz de me acalmar e me tirar toda a paz,meu maior vício,minha maior fraqueza e meu maior ponto forte,meu alicerce.
Eu já disse o quanto amo você vestindo minhas roupas? Eu amo ainda mais a visão sua,nas minhas roupas,na nossa cozinha,na nossa casa,cantando...é a nossa música? É,definitivamente eu conheço essa letra.
Eu não consigo identificar o que é que você está cozinhando,sei que cheira bem,sei que parece bom,mas vendo você assim a última coisa que eu consigo me concentrar é no cardápio do jantar (que aliás deveria ter sido feito por mim hoje,mas infelizmente vou ficar devendo devido o horário).
Me permito mais um olhar em silêncio, adoro o jeito que suas coxas ficam a mostra porque pra você usar minhas camisetas já é o suficiente. Amo o jeito que minhas blusas parecem largas mas ao mesmo tempo,não sei...elas encaixam em você.
O jeito que você faz as coisas de forma despreocupada mas atenta me cativa e eu só consigo pensar “Cara,definitivamente eu sou a guria mais sortuda desse estado,dirá lá desse país porque essa mulher maravilhosa é minha. Minha esposa,minha companheira,wow.”
Girar a aliança pesada na mão esquerda alivia um pouco a sensação de que estou sonhando e mesmo se for um sonho,não quero acordar,nunca.
Você decide virar na hora em que eu me movo,nossos olhares se encontram e tudo que eu consigo pensar nesse breve momento de silêncio e conversa sem palavras é “Meu Deus,como eu quero você.”
Dois passos são o suficiente pra eu te alcançar,meio segundo pra te erguer do chão pela cintura,décimos,milésimos pra sentir sua surpresa por me ver e pela atitude antes de sentir suas pernas em volta da minha cintura. A partir dai eu paro de contar.
Minhas mãos passeiam por seu corpo enquanto eu ainda busco com o resto de sanidade que me resta,um lugar na bancada que não tenha nada de vidro ou cortante porque a última coisa que preciso é ter o que vamos fazer interrompido por uma ida ao hospital.
“Meu bem, na bancada não…”
Na bancada sim querida,porque eu me recuso a parar isso e a julgar pelo jeito que você arranha meus braços, você também.
Minha boca percorre suas coxas com um empenho feroz e renovado, céus,hoje eu quero te marcar. Mordo,chupo,arranho,cada canto é explorado de forma breve mas ainda sim muito completa,quero te impossibilitar de usar roupas curtas devido as marcas por um tempo,me julgue.
A camiseta atrapalha mas não quero que você tire. Levanto o suficiente pra continuar com a série de mordidas e arranhões, tenho certeza que seus suspiros estão ficando mais altos e a julgar pela força que suas mãos me arranham você parece não ter mais nenhuma objeção referente a bancada.
Seus seios,céus. Como eu amo seus seios.
Tentar manter a calma e não perder a noção do tempo neles é algo que eu ainda não aprendi lidar. Me demoro ali , aproveito como se fosse a primeira vez,porque sempre parece ser .
O pescoço é a próxima parada e é impossível não morder a primeira vez com força só pra te ouvir reclamar, o tapa dessa vez não aparece e tenho a recompensa de um gemido perfeitamente audível. Céus, eu amo esse som. Só não amo mais do que o jeito que você geme meu nome,ou que rebola quando tá no meu colo,porque isso são coisas que você sabe fazer perfeitamente : me tirar do sério.
Minha mão segue arranhando,explorando e marcando como a ferro cada parte do seu corpo mas não tenho mais paciência pra joguinho,eu te quero aqui,agora. Quero fazer você gritar meu nome até os vizinhos reclamarem do barulho,quero sentir escorrer pelo meus dedos,segurar seu corpo mole e ter de carregá-’la pra cama por você mal aguentar ficar em pé.
Porém a vida é injusta e antes que eu possa concluir qualquer uma dessas pretensões,o timer do forno com o que quer que seja que você esteja fazendo apita desesperadamente e nem preciso de muito pra te soltar afinal,não quero que a casa pegue fogo (exceto nossa cama,por favor.)
Liberto você da prisão inexistente e suspiro frustrada,sei que partilhamos esse sentimento só pelo jeito que você olha pra mim como que pedindo desculpas.
Um beijo no rosto e uma fungada no pescoço é o que recebo antes de você correr para salvar nosso jantar,me lembre da proxima vez desligar as panelas e o forno por favor.
Suspiro novamente tentando aplacar tudo que sinto e me perguntando mentalmente como é possível depois de tanto tempo juntas,ainda sentir Tudo isso.
“Vou tomar um banho rápido e já desço”
Já me preparo pra subir resmungando quando sinto um puxão em meu pulso,um beijo na testa,outro no queixo,um em cada lado da face e um rápido no canto da boca acompanhados do sorriso de canto que SEMPRE me desmontou soam como um pedido de desculpas e a promessa de que a noite está só começando, fazem com que eu me sinta perfeitamente calma novamente.
“Vê se não demora…”
É impossível não sorrir de volta.
E quando começo a divagar sobre tudo que podemos fazer depois do jantar,escuto já meio ao longe “E vê se não deixa seu tênis jogado e roupa suja é no cesto já te disse um milhão de vezes”
Ah,as deliciosas vantagens da vida doméstica .
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Fragmentos
Non-FictionPáginas rasgadas de um caderno chamado vida. Sobre o tudo e o nada. O caos puro da linha de raciocínio de alguém que busca conciliar sentimento e razão em um mundo acinzentado.