Apenas mais um.

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Chegou como de costume sem avisar,foi tirando o tênis , a mochila e dezenas de coisas do bolso que a outra nunca reparou o que era.

Deitou na cama de solteiro sem cerimônia reivindicando um espaço que pensava ser seu por direito,ganhando um resmungo da garota como resposta.
Não falaram nada pelos minutos seguintes enquanto cada uma tentava se acomodar de uma maneira menos incômoda,a dona da cama (que sempre era usada como travesseiro)
virou lentamente com a cara meio amassada de sono,encarou a invasora com a sobrancelha erguida de forma questionadora , revirou os olhos e desabou na curva do ombro da outra.

- Não vamos sair pelo jeito…

- Hoje não levanto dessa cama nem que me paguem.

- Podemos ver um filme.

- Olha minha disposição pra ver filme,cê ta zoando né?

- Hoje você é quem vai ser a preguiça?

- …

- …?

- Se for jogar na cara isso,te ponho pra correr debaixo dessa chuva agora.

- Com essa disposição que você tá,não me coloca nem pra fora daqui.

- Eu chamo minha mãe.

- Oh meu Deus,ela vai apelar pra mamãe.

- Vai se danar.

- Vá dormir.

A chuva continuou,a conversa cessou,as respirações se igualaram e por fim,o sono venceu.

Não houve briga,não houve ninguém sendo expulso,não houve mais conversa,não houve nada.

Apenas a sensação estranha de que algo mudou naquela tarde chuvosa quando a invasora levantou pra ir embora horas depois,sem falar uma palavra que fosse,despedindo-se com um sorriso torto.

“Mas eu sei que alguma coisa aconteceu,tá tudo assim tão diferente...”

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