Talvez tenha sido o que chamam de “Insight”,talvez tenha sido somente resultado de meses de conversa consigo mesma tentando resolver algo que não tinha resolução.
Quatro e trinta sete da manhã. Sempre as quatro. Horário mágico esse não?
Deitada naquela cama que um dia pareceu tão acolhedora,você se dá conta que algo não se encaixa mais. Você.
Os móveis permanecem iguais,a parede com o detalhe descascado também,o vidro que embaça durante a noite,o leve barulho da geladeira que ainda te arranca sustos aleatórios,tudo isso ainda permanece igual e poderia sim lhe passar a sensação de que tudo está da mesma maneira de sempre.
Porém,não.
As fotos já não são as mesmas,não é teu rosto que predomina a paisagem,não é tua jaqueta jogada no canto da escrivaninha ou sua toalha pendurada na cadeira,teus livros não mais ocupam a prateleira,teus pertences não mais a vista,você não faz mais parte Disso.
A imagem presente,a imagem que marca território e ganha espaço não é a tua. E está tudo bem nisso,você sabia que seria assim. Você sabe que a tendência é essa.
O corpo ao teu lado não mais te procura por abrigo,você faz o caminho inverso. A conversa flui,quando você inicia mas...há sempre aquela sensação de que você incomoda e precisa ter cuidado com como age.
Quando quatro anos passam a parecer quatro meses de convivência?
Quando você se dá conta de que passou de indispensável para...dispensável?
Você simplesmente acorda um dia e percebe que você estar ou não no local...Não faz diferença. Que o que sai da boca,parece não chegar ao olhar. Que o que o olhar reflete,parece não ser o que o coração quer.
Até que você para.
Para de insistir.
Para de arrumar desculpas.
Para de tentar justificar erros que não são teus,que não existem.
Para de procurar a culpa em algo que você NÃO tem culpa.
E ao contrário do esperado,nesse dia apesar da tristeza você não sente o coração pesado. Você só sente tristeza pela ausência.
É assim que tudo termina,num início de semana qualquer,num mês sem grande “significado”,numa data aleatória mas que ficará marcada pra sempre em tua mente (ou enquanto você ainda remoer os fatos) porque afinal “Não adianta tentar escapar,um dia isso volta a doer.”
Por enquanto,você arruma tuas coisas,joga todas as tralhas que ainda possui na mochila junto das memórias boas e parte. Pra onde? Isso não importa,não agora.
O que importa é a frase que você repete como um mantra na esperança de um novo amanhecer “Todo fim é bom”.
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Fragmentos
Non-FictionPáginas rasgadas de um caderno chamado vida. Sobre o tudo e o nada. O caos puro da linha de raciocínio de alguém que busca conciliar sentimento e razão em um mundo acinzentado.