"Pouco a pouco o coração vai perdendo a fé, perdendo a voz..." — Salva-me // RBD
O dia estava quente e ensolarado. Um dia nada bom para voltar à escola, onde metade dos ventiladores estavam quebrados e ar condicionado era um sonho distante.
Naquela tarde eu tomei um banho demorado, não me importando em chegar atrasada na aula, e vesti uma calça jeans e um casaco florido por cima da farda da escola, antes de esperar Luan do lado de fora da casa. Aquela roupa era uma das poucas roupas que eu tinha de outra cor que não fosse preta. Era uma das poucas roupas que me restou depois da morte de Heitor.
Luan chegou quando eu já estava alguns minutos esperando.
— Você tá bem? — ele perguntou.
Concordei mesmo sabendo que não era verdade e subi na moto.
Chegamos na escola mais rápido do que eu gostaria e contemplamos dezenas de olhares curiosos.
— Acho que vai ser uma longa tarde, não? — Luan tentou sorrir, mas eu notei que ele também não estava bem com tantos olhares sobre nós.
— Você vai ficar bem sozinha? — Ele parecia preocupado, por isso concordei com a cabeça e entreguei-lhe o capacete.— Promete que vem me buscar no horário combinado?
— Eu prometo, Eny.
Suspirei, apertando as alças da mochila com força em minhas mãos, enquanto tentava reunir coragem para entrar na escola.
— Então acho que vou ficar bem — respondi. — Pode ir.
Luan esperou por um momento, mas foi embora logo depois, após alguns instantes já não estava no meu campo de visão.
Entrei na escola e fui direto até minha sala de aula, onde encontrei Cassandra conversando com algumas meninas. Ela sorriu ao me ver e veio em minha direção para me abraçar.
— Oi, Enya! — disse, com os braços em volta de mim.
Me afastei do abraço dela pelo calor que estava fazendo e tentei sorrir para não soar tão rude.
As outras garotas me comprimentaram com um simples olá e voltaram a conversar entre si.
— Você tá bem? — Cassandra perguntou.
— Estou — respondi.
— Não me parece bem — falou a garota, com um meio sorriso nos lábios.
Sorri de volta para ela e fui me sentar no meu antigo assento. Uma garota logo se manifestou no meio das outras:
— Ei, esse lugar é meu agora. — Sua voz chegava a ser mais irritante que a de Cassandra. Como era possível?
Murmurei um pedido de desculpas e procurei outra cadeira para me sentar.Cassandra tentou conversar comigo, mas eu me limitei em pôr meus fones de ouvido e escrever coisas sem sentido em meu caderno. Ela entendeu que eu não queria conversar e se juntou novamente a suas amigas.
As aulas não passaram-se rápido. Cada uma foi uma completa tortura e eu senti vontade de chorar na maiorias delas. Algumas vezes por não está entendendo o assunto e outras por simplesmente não querer ficar na sala.
Ainda assim, mesmo com tudo isso, sobrevivi as aulas e recuperei algumas notas com os trabalhos que me passaram para fazer em sala.
Luan veio me buscar no horário combinado e fomos da escola direto para uma lanchonete conversar sobre os nossos dias. Principalmente o meu.
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Por favor, não se aproxime
Teen Fiction"Tentativas frustradas de ser feliz também matam." Enya e Luan são dois jovens frustrados pelo passado. Após Heitor, melhor amigo de ambos, cometer suicídio, deixando uma mensagem onde explica os motivos para ter desistido de viver, eles começam a q...