"Baby, eu sou uma casa em chamas." — House on fire // Sia
A primeira coisa que notei quando acordei foi que eu não estava em meu quarto. A segunda coisa foram as agulhas em meus braços e a terceira coisa foi o enorme curativo feito em meu pulso esquerdo. Eu não queria nem imaginar o quão ruim aquilo estava.
— Acordou, bela adormecida — disse uma voz conhecida no fundo do quarto. Direcionei meus olhos até ela e sorri de forma constrangida para Cassandra.
— Oi — respondi.
— Vou chamar um médico. — A garota saiu porta à fora.
Depois de alguns minutos voltou com um jovem médico.
— Como se sente? — indagou o homem assim que entrou, olhando algo em alguns papéis.
— Me sinto cansada.
— É normal. Não precisa se preocupar quanto a isso — disse ele de forma fria. Eu imaginava o que se passava na cabeça dele. Provavelmente ele não ficava feliz com o fato de uma garota fazê-lo perder tempo quando ele tinha casos reais e importantes para tratar. De repente me senti mal por estar ali.
Cassandra sorriu, ignorando o médico e me olhou por um instante. Talvez ela não tivesse notado a frieza do médico, mas eu notei.
— Ficamos todos preocupados, Enya — disse Cassandra. Olhei-a e tentei me concentrar apenas no som de sua voz.
— Eu sinto muito. — Logo um nó se formou em minha garganta.
— Eu vou chamar sua tia.
Assenti e ela saiu, voltando logo em seguida com Karla que me olhou com uma expressão cansada e triste.
— Por que você fez isso, Enya?
Olhei para Cassandra que sorriu para mim e concordou com a cabeça saindo do quarto deixando eu e minha tia sozinhas.
— Foi no impulso. Sinto muito.
— Eu ouvi seus gritos, a porta do banheiro estava aberta e quando passei te vi caída no chão. Quando vi o sangue achei que fosse te perder pra sempre. — Lágrimas já escorriam dos olhos de Karla. — Eva me ouviu gritar e também te viu assim.
— Tia...
— Ela ficou desesperada. Não sei se ela entendeu muito bem o que aconteceu, mas ficou em estado de choque. Pedi pro vizinho cuidar dela enquanto eu vinha até aqui com você.
— Desculpe — falei, com lágrimas nos olhos assim como Karla.
— Não posso te julgar, Enya. Não imagino o tamanho da dor que está sentindo pra chegar a fazer isso, minha filha. Porém eu posso te dizer que estarei com você independentemente da situação. Acredita nisso? — perguntou Karla.
Pensei por um momento. Eu acreditava? Sim, eu acreditava. Karla nunca me deu motivos para que eu pensasse o contrário.
— Acredito — respondi.
Minha tia segurou minha mão e suspirou baixinho.
— Quando seus pais foram embora, de certa forma eu adotei você e sua irmã como minhas filhas, Enya. Eu sei que eu não sou perfeita, mas eu faço o possível pra dar o meu melhor... Só que parece que não é o suficiente. — Ouvir os soluços de minha tia me deixaram de coração partido. — Me diga o que quer que eu faça, Enya. Me diga como eu posso ser uma mãe pra você e eu serei.
— Você já é — balbuciei.
Karla me abraçou, enquanto seus soluços aumentavam.
— Por favor, não faça isso nunca mais Enya. Como eu viveria sem você?
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Por favor, não se aproxime
Teen Fiction"Tentativas frustradas de ser feliz também matam." Enya e Luan são dois jovens frustrados pelo passado. Após Heitor, melhor amigo de ambos, cometer suicídio, deixando uma mensagem onde explica os motivos para ter desistido de viver, eles começam a q...