Por favor, não se aproxime

Capítulo 24 - Eu vou parar

"Me ajude. É como se as paredes estivessem desmoronando.
Às vezes, sinto vontade de desistir, mas eu não posso. Não está no meu sangue." — Shawn Mendes // In my blood

     Os dias se tornaram bem mais suportáveis com a amizade que construí com Victor e Cassandra.
Decidi baixar a guarda, como diria Victor, e acabei descobrindo que eles são ótimas pessoas.

     Com Luan, eu não tive muito contato. O fato é que ele só tinha tempo para Kell. Confesso que isso me deixava um pouco enciumada, mas tudo bem.

     Minha amizade com Victor estava sendo construída de uma maneira gradativa, mas eu gostava de conversar com ele. Era bom conversar com alguém que me entendia e que, de certa forma, passava pelo mesmo que eu.

     Com Cassandra eu me divertia na maioria das vezes. Ela era engraçada e, apesar de eu ainda achar a voz dela um pouco irritante, eu gostava dela. Íamos para a escola juntas e isso era legal.

     Marquei de encontrar-me com Victor no parque, naquele dia, e o encontrei sentado num banco de cimento, embaixo de uma árvore. Estava lendo alguma coisa em uma revista. Me aproximei dele e sentei-me ao seu lado sem dizer nada. Olhei o título do artigo que ele estava lendo e franzi a testa. Ele me olhou e riu maliciosamente.

— Por que está lendo um artigo sobre como conquistar um menino? — perguntei e ele continuou rindo, enquanto me olhava.

— Por nada — respondeu, por fim.

— Ah, tá. — Balancei a cabeça para afastar a pequena confusão que se formou em minha mente.

— Na verdade eu estava lendo isso — disse, me entregando a revista aberta em uma nova página. — Eu ouvi você chegando e abri aqui pra zoar um pouco.

— 6 modos de cometer suicídio? — perguntei, referindo-me ao título do artigo que ele estava lendo.

     Victor deu de ombros.

— Achei interessante — disse. — O 1° modo é bem legal.

     Concordei com a cabeça ao constatar que se tratava de enforcamento.

— Quem escreveu isso, Victor? Isso deveria ser ilegal.

Victor riu.

— Sim, e é. É totalmente ilegal, mas é o tipo de revista que vende muito. São um bando de adolescentes que se juntam pra escrever pra outros adolescentes. Tem tudo que adolescentes procuram, inclusive formas de se matar.

— Onde você comprou isso?

— Na Internet, cara Enya. Na Internet.

— Ah...

— Se eu fosse fazer, faria com o 4°.

— Para de dizer essas coisas, Victor. — eu disse. O 4° modo tratava-se de um tiro na cabeça.

— O texto fala sobre tiros, overdoses, enforcamentos, cortes fundos e definitivos, afogamentos e sobre pular de penhascos. Já pensou? São tantas maneiras, Enya!

— Victor, você está me assustando — afirmei, sem olhar para ele. — Meu namorado se matou. Não quero perder mais ninguém pra essa droga de suicídio. Joga essa merda no lixo.

     Victor me olhou tristonho e tomou a revista de minhas mãos, alisando a foto de um penhasco bem conhecido da nossa cidade.

— Acho que eu me jogaria disso aqui, Eny. Ele é tão lindo... Se eu fosse me matar, seria esse o lugar.

     Olhei para meu mais novo amigo e balancei a cabeça negativamente. Depois abracei-o sem pensar mais sobre o que fazer. Eu não sabia o que ele estava querendo dizer com tudo aquilo. Talvez fosse só uma forma de chamar atenção.