"Preciso de alguém agora. Alguém para me ajudar..." — Shawn Mendes // In my blood
Acordei de madrugada com o barulho da chuva nas vidraças da janela e logo voltei a dormir. Eu só queria dormir por uma eternidade se fosse possível. Ficar acordada me lembrava das mãos do professor em cima de mim e de sua boca nojenta em minha pele. Eu não queria ter que lembrar de tudo aquilo, então virei para o lado e fechei meus olhos com força, enquanto os sentia arder pelas lágrimas que vieram com as lembranças.
Eu dormi e não queria acordar tão cedo, porém o som do celular tocando me acordou de novo naquela madrugada. Suspirei irritada ao constatar quem era.
— Sabe que horas são, Victor? — perguntei, sem tentar esconder minha irritação.
— São 2h15m da manhã, Enya. — Ele parecia está chorando. Mas por quê? Eu estava mal demais para perguntar.
— Então me deixa dormir, droga!
— Enya, por favor me ajuda... — ouvi ele sussurrar. — Eu só tenho você. Ninguém mais me ouve ou se importa mais. Cassandra tá ocupada e...
— Me deixa em paz, Victor! Meu dia foi péssimo e eu tô morta de sono. Me deixa dormir. Que saco!
— Enya... — Ouvi ele soluçar meu nome. — Eu vou me matar! — ele completou com voz chorosa.
Mas por quê eu não me importei com isso? Será que meu bem estar era mais importante que a vida dele? Certamente não era, entretanto minha hipocrisia estava entrando em ação naquele momento, ou então eu queria acreditar que ele estava fazendo drama exatamente como havia feito a semana toda.
— Me fala isso quando eu acordar ao meio-dia. — Desliguei.
Eu estava chateada pelo que ocorreu com o professor, mas confesso que isso não era motivo nenhum para tratar um amigo que fiz a tão pouco tempo daquela maneira.
Ele me mandou mensagens logo em seguida. Emojis chorando e corações quebrados e por fim uma única palavra na última mensagem:
"Adeus..."
Voltei a dormir. Não levei a sério aquela ameaça de suicídio, afinal Victor já havia me falado coisas do tipo antes, porém nunca havia feito nada. Então eu não precisava me preocupar, certo? Errado. Entretanto, mesmo sabendo que ele podia está falando sério dessa vez, voltei a dormir como se nada tivesse acontecido.
Duas horas depois acordei chorando na cama. Eu havia tido um pesadelo com a carta de Heitor e naquele momento suas palavras não saíam da minha cabeça.
Levantei atordoada e ainda com lágrimas nos olhos, sem nem ao menos trocar de roupa, desci as escadas correndo até o andar de baixo. Peguei a chave do carro de Karla e saí na chuva, dirigindo o mais rápido que pude até a casa de Victor.
Saí do carro às pressas assim que cheguei e toquei incessantemente a campainha enquanto chutava a porta e me via encharcada pela chuva.
Cassandra abriu a porta com uma expressão assustada e me olhou de maneira interrogativa. O namorado dela estava deitado no sofá de frente para a TV que passava um filme de terror. Ele pareceu não notar minha presença ali.
— O que faz aqui de pijama, às 3h00 da manhã, Enya? — ela perguntou e eu já fui entrando na casa. — Eu gosto muito de você, mas sei lá, tô preocupada. O que aconteceu?
— Cadê o Victor? — perguntei, ignorando a pergunta dela e já subindo as escadas.
— Ele saiu. Por que está chorando? — ela disse, vindo atrás de mim.
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Por favor, não se aproxime
Novela Juvenil"Tentativas frustradas de ser feliz também matam." Enya e Luan são dois jovens frustrados pelo passado. Após Heitor, melhor amigo de ambos, cometer suicídio, deixando uma mensagem onde explica os motivos para ter desistido de viver, eles começam a q...