De uma sensação estranha
"Um homem encostado forçosamente no muro de sua casa, com uma mangueira jorrando água diretamente em sua garganta, sufocando-o, tenta retirar a serpente de plástico de sua boca. Em vão, pois outro homem não o deixa livrar-se da situação de pânico, segurando-o até ele desfalecer".
A situação descrita é fruto da imaginação fértil de uma pessoa que passava por uma calçada cujo chão estava sendo lavado e cujo lavador a ignorou, não desviando a água para o outro lado, molhando o pé da transeunte. Esta instantaneamente vira-se para o homem, olha para ele com uma expressão mista de surpresa e indignação e, alguns passos depois, mentaliza a palavra "imbecil". A cena descrita no tópico do corrente capítulo começa a se desenhar em sua mente, trazendo com ela certa satisfação com a penalidade imposta ao desafeto.
Vivemos em constante luta contra nossa natureza vil, cruel e violenta. Para ajudar nesta peleja, contamos com alguns mecanismos, como, por exemplo, as leis que regulam nosso comportamento enquanto cidadãos e as práticas que trabalham nossa mente, através de diversas técnicas, para podermos conviver com nossos monstros internos, deixando-os aprisionados em nome da boa conduta com nossos próximos.
A pergunta que me faço sempre é "Até que ponto é possível controlar-se?".
Estes momentos duram pouquíssimo, são carregados por qualquer rato assustado que passa cruzando a rua de bueiro a bueiro, assustando-nos pela inusitabilidade da situação. Ou seja, um acontecimento repentino ou uma respiração profunda tiram o foco da raiva, quando não ficamos remoendo a situação e nos permitimos viver a famosa expressão "let it go". Sem gelo, por favor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
escriba
General FictionHá, neste livro, algumas narrativas oriundas de fatos corriqueiros em dois formatos: prosas e poemas. Estas formas nascem basicamente de reflexões feitas por alguém que, por exemplo, não sabe seu próprio gênero. A partir disto, muitos outros assunto...