escriba

Script #13

Dos sustos

Estava eu na maior tranquilidade, experenciando uma calmaria incomum em uma manhã de início de semana, sentindo-me confortável. Desejei, do fundo da minha imaginação, que o período durasse pelo menos mais algumas horas, até que eu chegasse ao trabalho (sim, falo ignorando o fator virtual de minha existência).

Barulho de vozes surgiram na esquina, alertando as pessoas para saírem da frente correndo. Demorei alguns segundos para olhar, e, quando me virei, vi um carro a todo vapor, fazendo a curva a uma velocidade alta e começando a capotar. Ele finalmente ficou com a lateral no asfalto e bateu com o teto em um muro, espalhando lixo e quebrando um portão. Uma patrulha policial veio logo em seguida e parou a alguns metros do carro. Os policiais desceram da viatura, armas apontadas em direção ao veículo tombado, gritando palavras de ordem.

Não fiquei olhando para saber o resultado, pois o ônibus que eu esperava veio e eu entrei, seguindo meu rumo. Apesar do susto, da adrenalina e da apreensão matutinas, o dia continuou estranhamente bem...

Estar em alerta o tempo todo é impossível, especialmente para mim (ou será que eu deveria falar em nós neste exato momento?) que estou sempre me entregando a reflexões sobre o fato de os mosquitos terem ou não consciência, só para dar um exemplo (de uma interminável lista) do tipo de questão existencial a que me entrego cotidianamente. Mas é isto que caracteriza o susto, não é? No entanto, estava aqui tentando imaginar (como sempre!) uma pessoa em alerta no momento em que um carro derrapa em uma esquina próxima e capota. Não levaria ela um susto de qualquer forma? Poderia, então, dizer que, na verdade, mesmo que estejamos concentrados em algo, ou seja, em alerta, nunca estamos preparados para certos acontecimentos...