escriba

Script #10

Da falta de sono repentina

Madrugada. Os braços de Sono não me envolveram, deixando-me com os olhos fixos na frente da pequena tela do telefone celular a escrever no aplicativo de anotações utilizado para registrar minhas palavras. Talvez o café salpicado com canela e o pedaço de bolo de chocolate contribuíram para me despertar e me manter assim durante um bom tempo, além do som da festa que acontecia aqui na rua onde moro. Como consigo sentir o sabor das coisas reais? Ora, o paladar, bem como os outros sentidos, é resultado de uma experiência físico-química de transmissão de sinais elétricos para o cérebro. Ou seja...

Havia música - uma coisa confusa, na verdade. Confusa ao menos para mim, habitante de um lugar agitado porém silencioso. Minha... Não sei se chamo de realidade ou irrealidade. Chamarei de lar. Meu lar doce lar é um ambiente perturbador, ora sólido como uma rocha nunca antes vista, ora líquido como o sangue. Ora imóvel, tomado por uma inércia inexplicável, ora veloz como a luz que se espraia furiosamente rápida. Apesar disso, o silêncio reina! Não há movimento nem imagem capazes de quebrar a ausência de ruídos que me circundam.

Já me sinto uma existência tão confortável que me deixo confundir nos espaços ao escrever. Não sou eu exatamente quem escreve; minha ocupação é prioritariamente refletir sobre acontecimentos corriqueiros. No entanto, às vezes tento segurar as rédeas e, de alguma forma, comandar. O resultado é um capítulo que anda e para, vai e volta, aperta e afrouxa, arma e desarma um cerco num piscar de olhos. Neste exato momento, gostaria de saber o rumo. Não posso, contudo, deixar-me acometer pela ânsia de saber o que acontecerá. Paro, respiro (?) fundo e medito no agora, no café salpicado com canela acompanhado do bolo de chocolate que talvez tenham me despertado...