O nascer do sol fazia a luz colorida da janela dançar sobre os quadros e castiçais dourados, hipnotizando-me conforme se misturavam com as sombras entre a madeira reluzente e o veludo escuro das várias cortinas e trajes pintados dos santos e dos altares na capela. Ainda não tinha certeza de que entendia todos os aspectos espirituais da religião, mas tinha que respeitar a majestade e a honra que havia em cada aspecto das cerimônias. Tudo era feito com tanto cuidado e devoção, era difícil um impostor se disfarçar entre os verdadeiros crentes. Ainda assim, eu me sentia perto de casa dentro dessas paredes, ou o mais perto que eu poderia estar de casa. Era quase como se eu pudesse sair e ver as colinas familiares de quando eu era criança, do lado de fora da janela do meu quarto.
Minha cabeça caiu contra o banco de madeira, curvando meu corpo em uma forma estranha para caber entre o pequeno espaço das fileiras. Não era nem um pouco confortável, mas era melhor do que voltar para o meu quarto agora. Eu poderia fingir que não estava tão sozinho com todos os olhos sagrados me vigiando.
"Guardião Belikov?" Uma voz gentil me chamou em meu descanso e vi o padre Andrew olhando para mim perto da ponta do longo banco de madeira. "Você está bem, meu filho?"
Eu lhe ofereci um sorriso, mais para assegurar que estava bem do que qualquer outra coisa. "Ótimo, padre. Estou apenas procurando alguma solidão e clareza. Tem sido uma longa semana."
Ele assentiu, mas vi que havia algum debate por trás de seus olhos. Depois de um momento, ele pareceu contente em simplesmente me deixar descansar em paz com nada mais do que uma tapinha de apoio no ombro. "Eu tenho algumas coisas para fazer no meu escritório, mas tirando isso, finalizar por hoje. Você é bem-vindo a ficar o tempo que precisar."
Agradeci por sua generosidade, mas quando ele estava prestes a se retirar por trás de portas, dando a mim a solidão que vim procurar, ele ofereceu um último conselho. "E Dimitri, lembre-se que clareza pode estar mais perto do que pensa. Às vezes o Senhor a coloca bem na nossa frente, mas somos simplesmente teimosos demais para aceitar. Boa noite, Dimitri."
Minha mente mal teve a chance de processar, muito menos de aceitar e responder ao que ele dissera antes que o padre Andrew fosse embora. Ele havia passado algumas horas com Rose e eu, mas durante esse tempo mal havíamos conversado e muito menos feito qualquer outra coisa que pudesse sugerir algo mais em nosso relacionamento de mentor e aluno. Com certeza, ele não poderia ter percebido isso. E mesmo se tivesse, certamente ele não estava encorajando.
Não, foi simplesmente coincidência e eu estava vendo coisa onde não tinha.
Corri meus dedos pelo meu cabelo, puxando a gravata e esfregando a tensão do meu couro cabeludo antes de descansar minha cabeça em minhas mãos. O que eu iria fazer? Eu não podia continuar assim. Nós não podíamos continuar assim. Rose e eu acabaríamos cedendo e isso nos colocaria em perigo, colocaria Vasilisa em perigo.
O mundo Moroi não nos perdoaria se um relacionamento entre Rose e eu colocasse em risco a última Dragomir e, ainda pior, se algo acontecesse com Lissa, eu sabia que Rose nunca me perdoaria. Ela culparia a mim e a si mesma.
Mesmo assim, não poderíamos ficar longe um do outro e quando sua graduação terminasse, seríamos forçados a nos unir ainda mais. O treinamento diário por algumas horas era uma coisa, mas em breve estaríamos vivendo sob o mesmo teto 24 horas por dia, 7 dias por semana. Eu a veria mais do que apenas diariamente, eu a veria quase de hora em hora. Ou constantemente. Haveria tantas oportunidades para sucumbir à fraqueza e... eu não tinha certeza se era forte o suficiente.
Então, logicamente, a coisa certa parecia ser o que eu deveria ter feito no último Natal. Ir embora.
Não com Tasha, claro. Ou qualquer outra pessoa, falando nisso. Tentar substituir Rose era algo que agora eu sabia ser impossível. Mas assim como Yuri partiu pela pessoa que ele gostava, eu deveria partir também. Lissa ficaria mais segura. Provavelmente Rose estaria mais segura também, embora até mesmo agora eu sentisse alguma ansiedade com o pensamento de que eu não estaria lá para protegê-la, se necessário. Só o fato de eu sentir esse medo era apenas mais uma prova de que eu deveria partir. Eu estava mais preocupado com a segurança de Rose do que com a de Lissa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tocada pelas sombras - por Dimitri Belikov
FanfictionA vida de Dimitri nunca foi para ser dele. Fora sempre prometida à proteção dos Moroi. Ele viveu sua vida por eles mas, pela primeira vez, sente o desejo de compartilhar sua vida com outra pessoa. Ressentido com as cartas que recebeu e vagarosamente...