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Eu disse no inicio do capitulo anterior que meu pai havia conseguido de presente, um sitio do dono da fazenda. O sitio era pequeno, e perto de uma mata preservada em um dos recantos da fazenda. O lugar era um pedaço de terra equivalente a uns quatro campos de futebol, coube uma casa grande (obvio), um pequeno pomar, uma horta e espaço para criação de aves e porcos, havia algumas vacas, mas essas eram criadas na fazenda (com autorização, claro).

Enfim o dono tinha uma amizade bem grande com meu pai, iniciada desde a infância, uma vez que o pai do meu pai, o vovô, falecido antes do meu nascimento, trabalhava para o pai do dono atual, nunca tentei entender as ramificações de família, pois eram muito complicadas e confusas, porem o papai fazia questão de nos lembrar de altos assuntos do passado principalmente quando bebia algumas pingas, então era comum ouvir historias do surgimento de suas amizades. Em suma, com a grande amizade, ele (o dono) me escolheu como afilhado ou meu pai ofereceu, não sei esse detalhe, o fato é que o Senhor Arnaldo (dono) era meu padrinho, um padrinho bajulador ao extremo, uma coisa que nunca gostei, ele me dava muitos presentes e quando soube que eu faria faculdade, só não pagou a mesma porque nós (eu, papai e mamãe) o impedimos, eu recusei de imediato e meus pais o bombardearam com assunto envolvendo ''honra e orgulho'' ele desistiu da ideia de pagar, mas não de me ajudar com o resto, quase virou uma discussão, mas ele conseguiu dobrar meus pais. Também não achei bom aquilo, não parecia que eu estava conseguindo alguma coisa por mim mesmo, parecia que eu estava sendo um aproveitador, beneficiando-se com as vantagens de ter um padrinho rico e a verdade não era essa. Continuando... assim que terminei o ensino médio ele agiu rapidamente, fazendo minha matricula na faculdade no curso que eu queria, passou o boleto para meus pais e ajeitou o restante, moradia e um meio de comunicação pra fazenda que antes não era necessário, mas como eu ia morar na ''capital'' (Belo Horizonte), um lugar ''beeeem'' longe da minha cidade, um jeito de entrar em contato com os meus pai era necessário, claro que ideia inicial seria o meu pai ir a cidade todos os dias com sua moto, mas ele disse que tal coisa era inaceitável e foi logo comprando o necessário pra colocar um telefone na fazenda. Chegou uma vez que quase desisti da faculdade por causa desses favores e presentes, mas não fiz isso por causa de meus pais e também porque daria prejuízos.

Em meio há tantas preparações, o mês de fevereiro chegou o conseqüentemente o dia da minha partida;

-sim Dona Marta prometo me cuidar.

Despedida dos pais, tem coisa pior? No meu caso não, estava odiando tudo aquilo, sair daquele lugar estava me massacrando por dentro, vendo minha mãe chorar, os homens da minha vida com os olhos vermelhos, meus sobrinhos perguntando pra onde eu ia aquilo triplicava minha tristeza, segurar as lágrimas como os homens da família era tarefa difícil, tanto que deixei que elas caíssem, mas sem abrir um berreiro, o máximo que fiz foi misturar elas com um sorriso, o que fez todos rirem também. A mamãe prosseguiu com as instruções pra eu me cuidar, e depois de quase meia hora terminamos as despedidas. Papai me levou pra fazenda onde o padrinho já me esperava pra partimos, de acordo com ele iríamos fazer o percurso da minha cidade á belo horizonte com apenas uma parada pra passar a noite em Teófilo Otoni na casa dele, e foi exatamente assim que aconteceu. Saímos de Cachoeira as cinco da tarde e chegamos em Teófilo Otoni as dez da noite.

A casa dele era em um lugar lindo, a esposa dele eu já conhecia, ele dizia ter filhos, mas como eu nunca tinha visto nenhum, não sabia se eram homens ou mulheres, só sabia que eram três, e julgando a freqüência que ele falava neles, ou seja, nunca, deduzi que ele não tinha uma boa convivência com os filhos e ausência de porta retratos pela casa confirmava isso, ou talvez fosse um engano meu, era difícil saber. Enfim, não conversamos muito, ele parecia ver que eu não estava pra papo e mantinha silencio e como já havíamos jantado, ele me mostrou a suíte que eu dormiria e também anunciou que sairíamos as oito da manha, após o café. Obviamente não consegui dormir direito, aquela cama era mole demais, e eu não consegui me livrar de uma sensação de alerta que aquela casa me despertou, era tipo ''fica esperto'', mas no fim das contas era só coisa de minha cabeça. No outro dia continuamos como combinado, partimos logo após o café da manhã, que foi bem estranho, ser servido não foi uma coisa que gostei de experimentar.

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