...
Optei por não, pelo menos em parte, já que eu ia fazer barulho na cozinha e iria acordá-los de qualquer jeito. Foi exatamente o que fiz, quase ri quando a menina soltou um gritinho e logo depois ouvi passos provavelmente de alguém correndo e pouco tempo depois, ele surgiu na porta vestido uma calça de moletom, um arrepio percorreu minha coluna, mas eu o evitei e só o ouvi dizer;
-ah, claro.
E depois saiu, e pela cara, odiou a minha presença. Bom, não havia motivos de eu não gostar dele, mas tinha certeza que era só questão de tempo até aparecer um. Terminei o café e me sentei pra tomá-lo, assim que terminei ele apareceu dessa vez vestido com uma regata. Não me importei que ele comesse e bebesse das coisas que eu havia comprado, não se nega isso há ninguém, porem era de se esperar que entrássemos em um acordo ou não ia mais acontecer. Ele terminou o café e disse;
-você deve ser o cara que meu pai disse que viria.
''pai?'', aquilo era surpreendente, porque o padrinho não disse que era o filho dele que estava naquele local? Não ia mudar nada, mas acho que eu merecia saber ou talvez fosse uma brincadeira do cara;
-pai?
-é, o dono deste lugar e de muitas fazendas incluindo a que você mora.
Eu tinha feito uma pergunta estúpida, a aparência dele me dizia pouco ou nada, olhos claros, cabelos loiros (ou castanhos claros) e cor branca era a semelhança com o pai, mas julgar alguém pela aparência era um erro. Enfim a forma como ele respondeu foi grosseira, principalmente quando disse ''a que você mora'', parecia além de um insulto uma insinuação, ou talvez fosse coisa da minha cabeça, mas duvidava muito que fosse;
-eu sei.
Ele colocou um sorriso debochado e perguntou;
-você veio aqui pra quê? Ser meu funcionário?
-não.
Ele fez um ar teatral e fingiu se lembrar;
-há é, quase esqueci, veio pra estudar. Não imagino o que um caipira depois de anos de repetência pode fazer em uma faculdade, mas acho que existem pais ingênuos o bastante pra acreditar em filhos que não darão nada.
Era uma ofensa, mas não pra mim, pela visão dele, caipiras não tinham inteligência pra estar numa faculdade e ele também estava me julgando pela aparência, as palavras ''anos de repetência'' me diziam isso. Eu ri, e ele fechou a cara e perguntou;
-está rindo do quê?
-nada, só uma coisa que pensei agora.
-você pensa? Que surpresa.
Mais ofensas vazias, ele não gostava mesmo da minha presença, o que por incrível que pareça não estava me incomodando nem um pouco;
-se acha que pode me ofender de alguma forma, está enganado, você não me conhece, não sabe nada sobre mim. Continue agindo assim e vou julgá-lo pela aparência também, se bem que já fiz isso e sinceramente...
Ele me cortou;
-não tenho a menor vontade de saber o que um caipira acha de mim.
-qual é o seu problema comigo?
Essa pergunta foi o inicio de perda do meu autocontrole;
-problemas com você? Fora o fato de ser um caipira atrasado que meu pai me obrigou aturar, não há nenhum proble...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Autobiografia
Storie d'amoreAutobiografia conta a historia de Fernando, morador de uma fazenda no interior de Minas Gerais que busca uma vida diferente da de sua família com o apoio dela própria. Com sua personalidade forte, ele trilhara seu caminho encontrando pessoas diferen...