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Fiquei perplexo com aquilo, não esperava, claro que eu sabia dos garotos de programa e não julgava, aliás, julgar o que os outros faziam da vida não me convém, mas daí ser convidado era novidade, mal tive tempo de recusar, Eduardo entrou e quando viu o senhor ali, ficou furioso, foi pra cima dele o agarrou pela camisa e eu tive que intervir e separar os dois;
-sai da minha casa agora porra.
Eduardo estava transtornado e a presença daquele senhor ali, só aumentava sua ira;
-calma...
-calma o caralho, sai logo, antes que eu te arrebente.
O senhor saiu e ele veio pra cima de mim, eu o repeli;
-o que foi que ele disse?
Ele quis saber e eu respondi;
-que você é garoto de programa.
Ele chutou a porta e ela bateu com força na moldura e ele veio de novo falando alto, cuspindo as palavras;
-escuta porra, se com...
Mas eu o interrompi;
-não tenho nada a ver com sua vida, agora se afasta.
Falei e fui para o quarto, aquela situação toda me deixou desnorteado, Eduardo garoto de programa e eu tinha acabado de ser convidado para a mesma coisa, logicamente que não ia, mas uma pergunta se instalou na minha cabeça, porque o Eduardo precisaria atuar como garoto de programa?. Era estranho, não cabia a mim, uma preocupação como aquela. Sacudi a cabeça e tentei focar em outra coisa, eu não tinha que saber o motivo dele de escolher aquela profissão, mas não deu, comecei a criar teorias dentro da mente numa verdadeira teia, por exemplo; até onde eu sabia, ele era sustentado pelo padrinho e não havia indícios de que usava um dinheiro a mais do que recebia, pra falar a verdade, eu não sabia nem o que ele cursava, mesmo assim duvidava muito que o padrinho fosse deixar os filhos desamparados e sem dinheiro para algo quando ele tinha tanto e... droga, eu tinha que parar de pensar nisso. E parei, a chuva tinha diminuído e eu iria pra aula, fui na cozinha preparar algo pra comer, mas desisti, só fiz um café e tomei com uns biscoitos de polvilho pra passar a fome, afinal, não podia passar o dia todo sem comer.
A hora se recusou a passar naquela tarde, ninguém me chamou no zap, não me importava isso, afinal, as pessoas dali tinham mais o que fazer durante o dia do que ficar mandando mensagens no zap o dia todo. Mas enfim, quando deu a hora, fui pra faculdade e finalmente as aulas começaram a mostrar a sua essência, trabalhos e atividades começaram a ser passados e minha mente finalmente ia ganhar algo para pensar, na hora do intervalo, eu contatei os responsáveis pela direção da facul e desisti da minha desistência, o motivo daquilo é que foi um pouco complicado, não sabia se estava fazendo por mim, pela brincadeira com o João, ou pela curiosidade com o Eduardo, mas já estava feito e dessa vez era com exatidão, não iria voltar atrás.
O tempo começou a mover suas engrenagens, aquela semana passou voando, ou talvez eu só tenha tido uma percepção de tempo comprimida, mas enfim, não houve acontecimentos dignos de se perder tempo contando, cancelei a pelada duas vezes por motivo de estar procurando serviço e ter coisas da faculdade pra resolver, mas os meninos do clube eu vi poucos, como eu já disse, eles tinham algo pra fazer, ferrugem me mandava mensagens privadas, mas nunca com segundas intenções, quer dizer, ele só tinha me mandado aquela foto na segunda feira que com certeza não era pra mostrar os cabelos, enfim, mandava coisas normais, fotos do que estava fazendo, seja na academia (vestido ou só mostrando o aparelho que ia fazer) ou no restaurante que trabalhava/estagiava, mensagens de bom dia, boa noite ou oi.
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Autobiografia
RomanceAutobiografia conta a historia de Fernando, morador de uma fazenda no interior de Minas Gerais que busca uma vida diferente da de sua família com o apoio dela própria. Com sua personalidade forte, ele trilhara seu caminho encontrando pessoas diferen...