Borboletas

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"Gosto da noite imensa,
triste,preta,como esta estranha borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!..."

Florbela Espanca

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Todo mundo, em algum momento na vida, se sente sozinho. Sente que ninguém, não há ninguém que possa te entender, entender sua raiva, sua dor ou sua tristeza. Ou mesmo entender suas piadas, sua maneira de enxergar o mundo. Minha mãe chamava isso da "crise dos quinze".

Por vezes isso vai se repetindo no decorrer da vida.

Por mais que você tenha amigos, familiares, essa solidão te corrói, você sente que ela não está apenas em você, mas é você. Então, sem perceber,você espera alguém que lhe arranque dela. Alguém que entenda cada pretexto seu. Você precisa que alguém diga que tudo vai ficar bem quando tudo prova o contrário.

Eu não sabia que procurava isso até encontrar. Acho que tudo mundo é meio assim, só entende que era vazio, quando é preenchido, e depois que se é preenchido, quando essa coisa se perde, nada mais ocupa o lugar. O vazio é bem pior, quando você sentiu o que é estar inteiro uma vez.

É como quando somos crianças, bebês. Se você tomar leite sem açúcar, você não reclama, você não precisa disso. Porém, se você provar ao menos uma vez leite com açúcar, não vai mais querer tomar sem. Você não sente falta, ou não percebe que sente falta, até ter uma vez.

Eu não sabia o quanto eu era sozinho até conhecer Hinata.

Eu não sabia o quanto era pequeno e mesquinho, e tão medroso. Eu não percebia a falta que sentia de alguém que me viesse a mente no meio da noite, sem aviso prévio, e do nada fizesse surgir um sorriso bobo no rosto apenas por pensar nela. Eu não era completo.

Eu não era tudo aquilo que podia ser. Eu não arrancava da vida tudo o que ela podia me oferecer. Eu não enxergava um palmo a minha frente. Até ela.
Eu fui completo, por pouco tempo, eu fui completo. E quando essa parte se perdeu, eu vi o quanto eu era vazio. E agora, vou ter que viver novamente sem esse pedaço.
A diferença é que agora eu sei o gosto do açúcar. Agora eu sei o que foi ser inteiro, mesmo que por pouco tempo, e vou ter que reaprender a viver com esse buraco que ela deixou para trás.
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As horas se tornaram dias, os dias uma semana, então duas e chegava a terceira.
Três semanas.
Tudo mudou em três semanas. Minha vida, minhas escolhas. Eu fui quebrado, e depois reconstruído, cada pedacinho, montado aos poucos. Eu era o instrumento, Hinata a luthier, mas ela mesma não parecia perceber isso.
Eu havia esquecido minha lista de desejos, eu havia esquecido meu SENECA, e se não fosse Sasuke para consertá-lo, acho que eu continuaria fingindo que o tempo não passava.
Mas o tempo não esqueceu, e por isso, naquela terceira semana os sinais de minha debilitação que eu vinha fingindo não ver se mostraram evidentes. Mostravam que meu tempo estava acabando, meu tempo em Konoha estava chegando ao fim.
Mas aquela terceira semana trouxe mais do que os sinais de minha doença, da náusea os apagões e a febre. Eles trouxeram uma sombra bem pior para mim.
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– Você está sendo pego por suas próprias palavras Dobe.
Fechei a cara e continuei conferindo o motor esquerdo. Eu queria encontrar apenas um pequeno defeito no trabalho de Sasuke, mas estava tudo certo.

Sakura havia ligado para Itachi pela manhã, e estava tudo a minha espera em Tokyo em duas semanas. Nós não havíamos tocado no assunto até a noite passada, e eu sabia que eles estavam me dando tempo.
As últimas semanas haviam sido a minha grande virada.

Da tua retinaOnde histórias criam vida. Descubra agora