Analogias

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"Muitos momentos acontecem agora, e você nem percebe. Nem percebe que as vezes você parece aquela mocinha ou mocinho das novelas, fazendo aquelas burradas, ou tendo aqueles momentos que nunca imaginou. Passando por ruas que parecem aqueles filmes da sessão da tarde, ou mesmo passando por temporadas, como os seriados de televisão. 

O fato é que nada é certo, sério ou para sempre.E isso é o melhor, ou o pior de tudo." L. Krsna


Sabe aquele momento na vida, que você se sente dentro de um filme?

Eu sei, vai lá que isso é clichê e tal, mas eu bem que estava me sentindo assim. Até mesmo a minha vontade de rir do rosto assustado de Neji, mesmo que ele tentasse disfarçar, o olhar maligno de Sasuke, piscando para mim enquanto fingia que não estava segurando o manche.
Aquela momento em que tem uma cega pilotando um avião, e um cara quase lá também ao lado. E você vê que seus melhores amigos ainda estão dentro do bimotor, a maior prova de amizade que existe.

Claro que Sasuke estava segurando os controles principais, mas eu nunca diria isso para Neji, que em seu instinto de super-irmão nunca mandaria Hinata sair de perto dos controles. Não quanto ela ficava ali sorrindo feito uma tonta.
Eu nunca iria esquecer da expressão no rosto dela quando aquele avião decolou. Da maneira como ela apertou a mão do irmão, e o sorriso, logo superado por uma risada clara. Até mesmo Neji que estava com a expressão fechada sorriu de lado. Era a primeira vez que ela saia de Konoha, sem ter que estar indo para um hospital. E assim como eu não podia não sorrir com ela daquela maneira, "pilotando" o avião.
Ok, vocês não estão entendendo. Vou voltar ao ponto, exatamente um dia atrás, quando nós saímos de Konoha em uma manhã fria de inverno. Nosso destino, uma ilha na costa do Japão, onde a mãe de Hinata nasceu, e ela sempre quis visitar. Um dia atrás, quando minha lista de desejos, virou a lista de desejos dela.E assim, uma garota que nunca havia saído da própria cidade, agora conhecia o gosto de voar, de se libertar. Eu estava ensinando a garota da raízes, o que era ter asas.
Eu nunca fui um cara muito esperto, mas isso eu podia ensinar a ela. Como ela me ensinou que perder a visão era se guiar por sensações, eu não queria lhe guiar apenas por projeções. Ela queria saber como era sentir o vento em seu rosto em Okinawa, a sensação do pôr-do-dol de dentro de uma cabine. Como era dormir em céu aberto, tendo como teto as estrelas.

Eu não queria dizer apenas, eu queria que ela sentisse.

Eu iria mostrar.

Eu podia ser cego até conhecer Hinata, mas ela também não era viva, até saber o que existia de fato além dos muros de Konoha. Não através de livros e histórias de outros.
Esse era meu presente para ela, não importando se fosse o último.
Eu iria ajudá-la a construir a sua história, a sua lembrança. Era a única coisa que eu poderia lhe dar.
Nós partimos, tendo Sakura como apoio caso fosse necessária alguma intervenção médica. Nos seguindo, haviam dois carros, com nossos novos amigos, e Shizune, uma médica do hospital de Konoha, e também amiga do pai de Hinata. Essa fora a condição para minha loucura poder ser concretizada. Isso, e o fato de termos que voltar em uma semana, que seria o mesmo prazo que eu teria para estar em Tokyo no dia 2 do mês, onde aconteceria minha operação.
Eu não sabia na época. Eu não tinha como saber esses três fatos que mudaram tudo, todos os planos:
1. Hinata nunca mais voltaria viva para Konoha. Ela morreria naquela mesma semana.
2. Eu não chegaria em Tokyo na data prevista, mas um mês depois, a beira da morte.
3. Não havia apenas dois carros seguindo nosso avião.
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O barulho do crepitar do fogo, o cheiro da maresia, o som dos violões e das risadas, das piadas. Não era como se eu não já tivesse visto tudo aquilo antes. Nunca houvesse acampado perto do mar. Muito menos com Sasuke, eu perdi as contas de quantas vezes meu avô nos levara para fazer aquilo. Muitas vezes com Itachi na fogueira, como Sasuke estava agora, uma panela no fogo, o som do acordeon dele, cantando as sonatas tristes de quando ele morara em Califórnia. Eu lembro até das letras. Do som de B.E. King, bem como agora, só que das cordas de uma violão pelas mãos de Sai.
E ainda a voz suave de Hinata recostada em meu ombro.

Da tua retinaOnde histórias criam vida. Descubra agora