"Não temos a noção exata do quanto as pessoas realmente se gravam em nossos corações. "
L. Krsna
Era a minha casa. A mesma casa da minha infância. Se eu fechasse os olhos, podia imaginar a parede da sala laranja que minha mãe e eu pintamos quando nos mudamos para lá. As linhas de grafite na parede da cozinha, que acompanhavam meu crescimento, e as pinturas que Sasuke, Sakura e eu fizemos com tinta de tecido no corredor quando tínhamos 10 anos, uma destruição que minha mãe preservou.
Era meu lar. E ele sempre seria, mesmo que eu não o pudesse enxergar mais.
Depois de meses, eu estava em casa, sentindo o cheiro da sopa que minha mãe fazia tão bem para aqueles dias frios, mesmo que fosse ainda primavera – quase o fim, chegando ao outono. E o cheiro do chá, o calor da xícara entre meus dedos.
-Você parece bem.
Neji falou, de onde estava sentado na mesinha da varanda de trás. Eu estava bem agasalhado, e imaginava que ele também, enquanto aproveitávamos os últimos raios do dia.
Podia ouvir minha mãe cantado da cozinha, uma canção antiga de Belle e Sebastian, com uma animação que não ouvia há tempos. Ela havia gostado da educação de Neji, que apenas uma criação nos costumes orientais poderia proporcionar. Neji havia perdido muito da sua "atitude", eu poderia perceber pelo tom de voz dele. Ele apenas parecia cansado. Eu reconhecia aquele tom como a da minha mãe, depois da morte do papai. Aquele tom de quem envelheceu em dias anos inteiros, e que tem que começar a colocar os pedaços no lugar.
Já eu, estava nervoso. Não sabia o que sentir. Não sabia que teria que encarar Neji tão cedo. Shikamaru fora me visitar no hospital, e os outros telefonaram, perguntavam, mas não havia tido noticias de nenhum Hyuuga nesse tempo todo. E eu conseguia entender de verdade, só não entendia o que Neji fazia ali, sentado na varanda da minha casa, depois de enfrentar uma viagem de horas de Konoha para ali. Eu não sabia o que pensar disso.
-Não precisa mentir, eu estou horrível. – Falei com um bufo e ouvi ele suspirar aliviado por minha intervenção. Eu tinha noção que havia perdido no mínimo dez quilos, havia uma cicatriz na minha testa do acidente que eu podia sentir, que com meu cabelo curto não se cobria. Sem falar em meus olhos, que naquele tempo perderam mais a e mais a pigmentação. Itachi me dissera que isso era comum, ele me explicara que aconteceria. E que de um azul-violeta que eu sempre tivera – os olhos da minha mãe, única coisa física que eu tinha dela e que me orgulhava tanto por isso-, eles agora estavam em um lilás apagado. Deveria ser estranho olhar para mim, e devia ser por isso que apenas Itachi havia me falado sobre isso, nem mesmo minha mãe comentava, mesmo que eu percebesse a pausa que ela sempre fazia quando – eu imaginava – fazia contato visual comigo.
-Sim, você está horrível.
Eu ri, suavemente, com o tom azedo dele. Bem melhor que aquele tom envelhecido. E então, o silêncio desconfortável. Tentei pegar um biscoito na mesa- eu tinha que fazer alguma coisa-, e acabei batendo minha mão no prato, e ao recuar, quase derrubando minha xícara, me queimando um pouco.
-Cuidado! – A voz dele foi urgente, mas não alta o bastante para alertar minha mãe, e me senti grato. Logo havia um pano gelado na minha mão. Pela respiração, ele estava a minha frente, talvez ajoelhado no chão. Era estranho. Eu imaginava quantas vezes ele havia passado por algo assim com Hinata. Eu queria tanto olhar o rosto dele, e ter uma pista ao menos do que ele estava pensando. Do porquê ele estar ali.
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Da tua retina
Hayran KurguAviso de imediato que essa não é uma história triste e depressiva, apesar de ser narrada por um cara que acabou de ficar cego e teve uma estranha experiência de quase morte. Essa é a história de uma cara que só acreditava no que poderia ver, e por...