— E aí? — Jungkook sorri e se senta segundos depois de o sinal tocar. Cumprimento-o apenas com um aceno de cabeça, de um jeito neutro, como se não estivesse nem aí pra ele, tentando esconder o fato de que, a essa altura, estou tão a fim que até ando sonhando com ele.
— Seu tio parece ser uma pessoa legal — ele diz, olhando para mim e batendo a caneta na carteira, num irritante tec-tec-tec.
— É, ele é muito legal — resmungo, furioso com o professor que não sai daquele banheiro, desejando que ele largue o maldito cantil de uísque e venha logo dar sua aula.
— Também não moro com minha família — diz Jungkook, a voz silenciando a sala e aquietando meus pensamentos, enquanto ele gira a caneta na ponta dos dedos, para lá e para cá, sem deixá-la cair. Não digo nada, apenas mantenho o silêncio.
— E sua família, onde está? — ele pergunta.
— O quê? — digo distraído.
— Onde sua família mora? — ele pergunta de novo. Fecho os olhos enquanto ele fala, saboreando a delícia que são esses poucos segundos de silêncio. Depois, volto a abri-los e, encarando-o, digo:
— Estão todos mortos.
Finalmente, o professor entra na sala.
— Sinto muito.
Jungkook se senta à minha frente na mesa do almoço e eu corro os olhos pelo pátio, ansioso para que Tae e Hoseok não demorem a chegar. Quando abro a bolsa com o lanche, vejo o que? Uma tulipa! Igualzinha à do outro dia, espetada entre o sanduíche e o saco de batatas fritas. Não sei como ele fez isso, mas tenho certeza de que foi Jungkook quem colocou ali. Na verdade, não são os truques que me incomodam, mas o jeito como ele olha pra mim, fala comigo... aquilo que me faz sentir...
— Sua família, eu não sabia que...
Olhando para baixo, fico rodando a tampinha da garrafa, preferindo mil vezes que ele tivesse esquecido o assunto.
— Não gosto de falar nisso — digo.
— Sei como é perder as pessoas que amamos — ele sussurra, estendendo o braço sobre a mesa e colocando a mão sobre a minha. Sinto uma onda tão boa de calma, aconchego e segurança... que fecho os olhos e baixo a guarda, entregando-me totalmente a esse momento de paz, feliz por ouvir o que ele diz e não o que ele pensa, feito um garoto normal.
— Hmm, licença — diz alguém. Abro os olhos novamente e dou de cara com Tae, com as mãos plantadas na mesa e os olhos apertados, fixos em nossas mãos. — Eu não queria interromper!
Imediatamente, coloco a mão no bolso como se estivesse fazendo algo que ninguém deveria ter visto. Minha vontade é explicar que aquilo não significava nada.
— Cadê o Hoseok? — falo, afinal, sem saber mais o que dizer.
— Hoseok está trocando torpedos com sua nova paixão da internet, bilau_no_cio_307 — ele diz, e eu solto uma risada. Depois, ele acrescenta: — Então, como foi o fim de semana de todo mundo?
— Foi normal — respondo, sem empolgação.
— Ah, em compensação, o meu foi ótimo! Fui a uma boate sen-sa-cio-nal! Tipo, muito mesmo. Teria chamado vocês, mas foi de última hora. — Ele dirige seu olhar a mim, ia dizer algo quando Hoseok chega, sentando ao meu lado.
— Do que vocês estão falando? — ele pergunta, não deixando um segundo sequer o celular.
— Então, como foi seu final de semana? — dou uma cotovelada nele para que ele deixe de lado o seu cibernamorado e preste atenção em nós.
— Ah, foi chato, principalmente porque esse carinha aqui! — balança a cabeça e nos mostra o visor do telefone. — Olhem só pra isso! — ele diz, fincando o indicador no aparelho. — Passei o fim de semana inteiro pedindo uma foto dele, porque jamais vou me encontrar com ninguém sem ter visto antes, né? E é isso o que o desgraçado manda! Estúpido exibido!
Dou uma olhada rápida na tal foto e não entendo o porquê de tanta revolta.
— Como você sabe que esse aí não é ele? — pergunto. Mas é Jungkook quem responde:
— Porque esse aí sou eu...
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forever :the immortals
Mystery / ThrillerDepois de perder toda a sua família em um desastre de automóvel, do qual inexplicavelmente escapou, Jimin vê sua vida transformada por completo. Ele muda de cidade, de escola, de amigos, e precisa aprender a lidar com a realidade atordoante: após o...